O cenário econômico de incertezas enfrentado nos últimos anos, e que foi agravado pela pandemia, gerou um aumento no preço dos produtos vinculados não só às atividades agrícola e pecuária, mas em todos os setores da economia. No caso da horticultura, os consumidores se deparam com preços elevados de frutas e hortaliças ao fazer compras nos supermercados.
Essa alta nos preços também foi observada nos dados divulgados pelo Centro de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis da Universidade de Passo Fundo (Cepeac/Feac/UPF). Entre os dez itens da cesta básica de Passo Fundo que acumularam maiores altas de preços em fevereiro, quando comparado com o mês de janeiro, estão cenoura, maçã e tomate, com preços elevados em 58%, 43% e 28%, respectivamente. Diante disso, os consumidores, muitas vezes, por não conhecerem os aspectos envolvidos nos sistemas de produção adotados na horticultura, apontam que os produtores são os responsáveis pelos preços elevados desses produtos.
Aumento que afeta do produtor ao consumidor
Para facilitar o entendimento por parte dos consumidores, o professor do curso de Agronomia da UPF, José Luís Trevizan Chiomento, ressalta que é importante compreender o funcionamento dos agroecossistemas hortícolas. Conforme explica, o cultivo de frutíferas e de hortaliças se caracteriza pelo uso em larga escala de insumos, representados por sementes ou mudas, fertilizantes, agrotóxicos (químicos ou biológicos), água, combustíveis, mão-de-obra intensiva, entre outros.
“Para o cultivo do tomateiro, por exemplo, os produtores precisam realizar vários manejos e tratos culturais no meio de crescimento, como escolha do local de cultivo ou do substrato, preparo de solo, adubação e fornecimento de água e na planta, como produção de mudas, transplante no local definitivo de cultivo, tutoramento, amarrio, desbrote, desponte, desfolha, raleio, colheita, etc. Todas essas atividades desenvolvidas demandam o uso de insumos e de mão-de-obra. Isso condiciona a produtividade da lavoura à aquisição desses insumos necessários e também da captação de pessoas que desenvolvam essas atividades”, afirma.
Como a elevação dos preços também atingiu o mercado de insumos agrícolas, os horticultores acabam por pagar preços elevados para adquirir tais insumos e contratar funcionários. “Consequentemente, para terem saldo positivo, os horticultores precisam valorizar seus produtos. Como as redes de supermercados são ‘mediadoras’ entre horticultores e consumidores, o valor do produto final disponível nos mercados é mais elevado em relação ao valor pago aos produtores”, destaca Chiomento.
Uma das alternativas aos consumidores quanto à elevação do preço das hortaliças corresponde ao planejamento e implantação de hortas em casa. Para quem opta pelo cultivo de seus alimentos, o professor avalia que alguns aspectos devem ser considerados antes de iniciar o processo, já que a atividade demanda investimentos como tempo e dinheiro.
Dicas para quem quer fazer uma horta caseira
Para quem deseja produzir uma horta residencial, a primeira etapa é planejar as hortaliças que serão cultivadas, as épocas de plantio e colheita, o local de inserção da horta e as dimensões desse espaço. Fazendo isso você está planejando seu modelo agroalimentar sustentável. Mas, uma série de outros fatores devem ser considerados.
Horta deve ter uma boa iluminação
O local de instalação da horta deve ter boa ventilação, principalmente para as hortaliças de clima quente, cultivadas na primavera/verão e receber luz solar de quatro a seis horas diárias. Se a horta for implantada em ambientes internos, garanta que as plantas tenham acesso à luz solar. Em ambientes externos, a horta não deve ser inserida em locais próximos a árvores. Isso porque, além do possível sombreamento ocasionado pelas árvores, pode haver competição por recursos (água, luz e nutrientes) entre as hortaliças e as outras espécies vegetais.
Cuide da condição ideal de desenvolvimento de cada cultura hortícola
Apesar de existirem cultivares de hortaliças que são produzidas o ano todo, a exemplo da alface, cada espécie requer condições térmicas ideais ao seu desenvolvimento. Hortaliças de estações frias (outono e inverno) desenvolvem-se melhor em ambientes com temperaturas médias de 15ºC a 18ºC, como é o caso do alho, da beterraba, da cebola, da couve-flor, do morangueiro, do repolho, dentre outras.
As hortaliças de estações quentes (primavera e verão) requerem, durante a maior parte do seu ciclo, temperaturas médias de 18ºC a 30ºC, a exemplo da batata-doce, da berinjela, do coentro, do espinafre, do pepino, do pimentão, entre outras. Já as hortaliças de meia estação ou de clima ameno são variedades que toleram um pouco mais o frio ou o calor. Na maioria das vezes são cultivares de clima frio que foram melhoradas para cultivo em condições de temperatura média mais elevada, como é o caso do agrião, da alface, do almeirão, da batateira, da cenoura, da chicória, da rúcula, da salsa e do tomateiro.
Atente-se ao consumo diário de água
O fornecimento de água para as hortaliças está vinculado às condições de solo e clima do local de inserção da horta, às espécies cultivadas e às fases do crescimento e desenvolvimento das plantas. Para se organizar, você pode prever um consumo diário de aproximadamente 7 litros de água para cada metro quadrado de canteiro e de 3 a 5 litros em cada cavidade. Isso, num período de 15 a 20 dias após o momento de inserção da hortaliça em seu local definitivo de cultivo e, para hortaliças folhosas (agrião, alface, almeirão, rúcula, etc.), sugere-se que as irrigações ocorram diariamente. Para hortaliças tuberosas (bulbos, raízes, rizomas e tubérculos) e de frutos, as irrigações podem ser escalonadas, a cada 2 ou 3 dias.
De modo geral, você deve realizar irrigações mais frequentes e com menor volume de água em cada aplicação nas seguintes situações: em fases iniciais de desenvolvimento das hortaliças; em hortas onde as plantas foram cultivadas em solos arenosos ou em substratos com menor retenção hídrica; em dias mais quentes e ensolarados, onde ocorre maior perda de água do solo por evaporação e perda de água da planta por transpiração. Já em situações de metade-final de ciclo das hortaliças, solos argilosos e em dias mais frios, opte por irrigações menos frequentes e com maior volume de água em cada aplicação.
Adubação é um passo importante
Quando as plantas forem cultivadas no solo, a adubação pode ser feita em dois momentos: durante o preparo do solo, nos canteiros ou covas, antes do plantio das hortaliças; e durante o crescimento e desenvolvimento das hortaliças, após o plantio. A quantidade necessária de adubo orgânico que deve ser incorporada no solo depende da fertilidade desse meio de crescimento (determinada pela análise química feita em laboratórios). A adição de composto orgânico no solo varia de 4 a 7 quilos por metro quadrado e usa-se de 0,5 a 3 kg/m2 de húmus. O uso de adubo orgânico diretamente nas covas de plantio varia de 2 a 4 kg por cavidade para composto orgânico e de 0,5 a 2 kg/cova para húmus.
A nutrição das hortaliças cultivadas em substratos pode ser realizada com biofertilizantes adquiridos em lojas do setor agropecuário (doses recomendadas nas informações do produto) ou podem ser produzidos na propriedade, a exemplo do Bokashi. Mas atenção: caso o substrato usado tiver em sua composição a presença de esterco curtido, húmus ou composto orgânico, você deve evitar o uso excessivo de biofertilizantes para não prejudicar o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Canteiro em recipientes é opção para quem tem pouco espaço em casa
Quando alguém opta pela construção de uma horta em casa, mas o local não permite que o cultivo seja realizado diretamente no solo, seja por falta de espaço, por inconvenientes de solo, por estruturar uma horta em apartamentos, dentre outros fatores, uma alternativa é a inserção das hortaliças em recipientes.
Os recipientes de cultivo, que funcionam como pequenos canteiros, podem ser à base de pneus, copinhos de café, garrafas PET, canos de PVC, baldes, latas, vasilhames de manteiga, floreiras de alvenaria, tambores de latão ou de plástico, vasos, entre outros materiais. Independente do recipiente escolhido, o professor Chiomento atenta que ele deve ser higienizado antes do cultivo e deve ser furado em sua parte inferior para permitir a drenagem de água fornecida via irrigação.
*Com informações da assessoria de imprensa da UPF.