A manchete acima é o início de muitas das apresentações da “Tia Madalena”, o personagem principal do Autismo Cartoon, um projeto passo-fundense que busca aproximar a diversão do aprendizado sobre o autismo. Em alusão ao dia 2 de abril, dedicado mundialmente à Conscientização do Autismo, será realizado o I Evento Lúdico de Conscientização do Autismo do município. A ação acontece hoje (8), das 18h às 20h, na Livraria Delta do Passo Fundo Shopping.
Conscientização que diverte
A idealizadora e o rosto por trás do Autismo Cartoon, Emanuele Souza da Silva, conhecida como “Tia Manu” ou pelo seu personagem “Tia Madalena”, conta que o evento será uma roda teatral de conscientização, informação e leitura sobre o transtorno do espectro autista. A apresentação será com os personagens criados por ela, sendo eles o Igor, a Lívia e a própria Tia Madalena. “Será dessa maneira lúdica, fantasiosa e teatral, mas que traz veracidade e é para emocionar as crianças, o pai e a mãe. Que eles consigam sair da livraria falando um pouco sobre o autismo, porque vão ser expostos sinais. Tudo vai ser falado, mas dessa maneira carinhosa da Tia Madalena”, explica Emanuele.
O começo do Autismo Cartoon
O Autismo Cartoon nasceu há cerca de cinco anos pela vontade do filho mais velho de Emanuele, Ruan, explicar para os colegas de classe sobre o autismo do irmão Anthony. Na época, quando Emanuele identificou os primeiros sinais de autismo do filho Anthony, ele tinha apenas dois anos.
Com a ideia em mente e se inserindo nas redes sociais, inicialmente para conseguir contato com professores do município e chamar a atenção dos alunos, o projeto viralizou devido ao uso do humor como modo de conscientizar as pessoas sobre o espectro. Emanuele, que é designer por formação, começou a produzir peças para o Instagram com “Teorias de Mona”, em referência a obra “Mona Lisa” de Leonardo da Vinci, para explicar as “caras e bocas” de uma mãe de um autista na sociedade. Isso, somado a teorias de super-heróis que apresentam sinais de autismo, o que também chamou a atenção de adolescentes.
Os memes educativos se transformaram em convites para fazer palestras a adolescentes nas escolas. Assim, um roteiro de stand-up, supervisionado por psicólogas especialistas no transtorno, tomou forma e o Autismo Cartoon passou a dialogar com o público jovem em escolas de Passo Fundo. A comunicação que o irmão mais velho de Anthony tanto procurou, acabou concretizada por sua mãe.
A força para continuar
Tia Manu relata que é a única pessoa por trás do Autismo Cartoon, sendo a responsável por todas as produções e o investimento para os deslocamentos às escolas. “Vem tudo de mim. Não tenho o real dinheiro para isso, então como eu consigo isso? Através do meu trabalho. Eu faço e vendo doces, para pagar a gasolina do dia que eu vou em uma escola, então acaba que eu trabalho 24h por dia”, explicou, relembrando a rotina constante de apoio aos filhos. Além disso, ela tem a ajuda do sogro, que a leva de carro até as escolas e auxilia nas reuniões. “É eu e ele tendo essa força, para a gente conseguir levar o projeto adiante”, acrescentou.
Dos cadernos da infância para o mundo
Entre eventos, o I Congresso do Autismo Cartoon, textos e memes para redes sociais, Emanuele expressa uma paixão que tem desde a adolescência: a escrita. Com mais de cinquenta cadernos preenchidos de textos e poesias, ela nunca imaginou que poderia usar suas palavras para aproximar a sociedade do autismo. Tanto que, os personagens Igor, Lívia e a Tia Madalena, são criações de quando tinha somente 15 anos. Agora, já adulta, Emanuele deu um toque em cada um com a essência do seu projeto, os reinventando completamente. “Eu sempre escrevi e sempre achei, na minha concepção, que o que eu escrevia era bobagem, que não valia de nada, mas hoje eu vejo e penso diferente”, descreveu.
A união da sociedade e o autismo
As diferentes formas de expressão do Autismo Cartoon acabam por aproximar um universo de pessoas dispostas a saber mais sobre o transtorno. “Porque a visão maior do Autismo Cartoon é a união. A união para falar tudo sobre o autismo com a comunidade. Não só com a comunidade autista, mas com a sociedade em geral”, destacou Emanuele, relembrando o slogan do projeto de que “não existem diferenças quando se é único”, o que reverbera a importância de eventos como o de hoje (8) acontecerem em Passo Fundo. “Não é um evento fechado para a comunidade autista, é um evento para a sociedade entender o autismo”, pontuou.
Isso tudo é feito por meio da Madalena, uma tia que está disposta a aprender mais sobre o autismo junto de Lívia e Igor, duas crianças autistas representadas por bonecos em suas peças. Com eles, Emanuele acredita ser possível conquistar a inclusão social. “As pessoas não veem e eu não julgo isso, porque até ontem nem eu sabia o que era o autismo. Então como é que eu vou julgar uma sociedade que não tem informação e se tem, é uma informação muito de leve? Como vou julgar? Até ontem eu não era a mãe de um autista, eu era a mãe”, esclareceu. No entanto, ela relembra e alerta que a discriminação e a falta de respeito manifestada por comentários preconceituosos nunca serão justificados.