Em outubro do ano passado, em um espaço de 30 m², um empreendimento sustentável entre dois vizinhos tomou forma em Passo Fundo. Carregando o amor pelo cuidado com a terra, os professores Nei Alberto Pies e Iltomar Siviero construíram uma estufa para o desenvolvimento de uma horta domiciliar. Hoje o espaço, dentro de um condomínio no bairro Petrópolis, fornece alimentos saudáveis em abundância para as duas famílias, com um ciclo completo que vai desde a captação da água até a produção própria de adubo a partir de um minhocário.
Experiência associativa
Com uma área de 6 m por 5 m, o espaço comporta de 170 a 200 mudas, tendo ainda uma área externa que no ano passado rendeu cerca de 100 beterrabas e agora está produzindo mais de 40 pés de repolho.
Vizinhos e conhecidos de longa data, Nei e Iltomar resolveram unir suas forças para empreender uma estufa de forma associativa, ou seja, entre duas famílias. “E qual o sentido disso? Eu aprendi com os pequenos agricultores a importância de dividir o que a gente produz. E aqui eu vi que teria oportunidade de otimizar um espaço produzindo para duas famílias”, comentou Nei, que é filho de agricultores e tem sua origem no campo.
Tendo como lar a cidade há mais de 20 anos, Nei, no entanto, nunca abandonou o gosto pelo cultivo de alimentos, sobretudo o contato com hortas, atividade que executava junto de sua mãe. “Sempre gostei de mexer com a horta, é uma terapia de certa forma, esse contato com a natureza. Então vem de muito tempo, essa estima, esse cuidado, essa vontade de produzir”, disse, contando que antes de ter a horta com Iltomar, ele produzia sozinho em seu próprio quintal, também dividindo com seus vizinhos os frutos das colheitas.
A estufa
Foram dois meses para que o trabalho de pesquisa e construção do espaço fosse concluído, com Nei e Iltomar podendo se dedicar ao projeto somente durante o final de semana e intervalos dos seus respectivos trabalhos. No total, foram investidos cerca de R$ 1.5 mil além da própria mão de obra. Agora, eles investem cerca de 15 a 30 minutos do seu dia para poder acompanhar o desenvolvimentos das hortaliças. O mais difícil, explicaram, é a parte inicial de estruturação do local.
No entanto, o trabalho tem valido a pena. Após oito meses do início do empreendimento, os dois amigos perceberam que uma horta dentro de uma estufa produz muito mais, visto que as hortaliças estão protegidas de intempéries como o clima. O que plantam, é variado, com respeito ao ciclo e estação adequada para cada hortaliça. “Vamos colhendo e plantando. Como não é em escala industrial, que precisa padronizar a produção, vamos escalando e quando sobra, gostamos de dividir com os vizinhos. Como filho de agricultores, a gente tem o prazer de dividir o que colhemos. É um prazer dividir o que a natureza nos dá com o auxílio das nossas mãos”, disse Nei Alberto.
Um sistema sustentável
Fornecendo alimentos saudáveis aliados à redução de gastos com a compra de hortaliças no mercado, Nei comenta que conseguem desenvolver esse trabalho a partir de um sistema que se auto sustenta. Isso porque, para regar as plantas, é realizada a captação da água da chuva e por declive, sem gasto com energia elétrica, a água molha as plantas por meio de gotejamento.
Além disso, eles possuem um minhocário junto a outra família do condomínio. Depositando em um local resíduos orgânicos e folhas secas, a mistura se transforma em húmus e posteriormente no adubo usado na horta. “A gente fecha um ciclo que a natureza nos permite de fazer com o aproveitamento maior do que ela produz”, explicou Nei. “Hoje são três famílias praticamente produzindo todo o adubo que utilizamos na horta”, completou.
Mais hortas, mais alimentação saudável
Para os dois vizinhos, a intenção do projeto é, acima de tudo, incentivar outras famílias a desenvolverem hortas domiciliares e produzirem seus próprios alimentos de forma saudável, rápida e com qualidade. Tudo isso com um baixo custo e otimização dos recursos que se tem na própria casa. Os resultados, dependendo da hortaliça, podem aparecer dentro de 35 dias. “E dá pra ter salada todo dia. É tão bom colher na hora, fresco, é saúde pura”, lembrou Nei.
Ensino
Atuando como professor da rede estadual e municipal de Passo Fundo, Nei Alberto comenta que essa poderia ser uma provocação para que escolas da rede pública ensinem sobre o cultivo de alimentos. “As novas gerações estão muito ligadas ao mundo tecnológico, então poderia ser uma chance delas se ligarem também ao mundo natural, da terra e do cultivo”, explicou.