A década em dez momentos (e alguns filmes a mais...)

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Consciente da atração do ser humano por listas, o Segundo começa agora um especial que tenta selecionar não os melhores - porque isso não existe - mas sim os maiores sucessos do cinema, da música e da literatura durante a última década, promovendo uma fusão das listagens publicadas por alguns dos mais importantes meios de comunicação do mundo. Nesta edição, além dos destaques de cada ano, um apanhado de filmes nem tão populares, mas que conquistaram seu espaço na memória dos anos 2000

Marina de Campos/ON

Pense bem. Você confere todas as listas que aparecem por aí, mas detesta todas elas porque jamais concorda? Ninguém aqui se importa. Adora rabiscar suas próprias listas mirabolantes, mas não tem coragem de mostrá-las a ninguém? Grande coisa. E, por fim, acha que a década só acaba ao final de 2010 e que é completamente incoerente listar qualquer coisa agora? A gente não liga - afinal, por que deixar para amanhã a diversão que se pode ter hoje? Lista é sinônimo de conflito, símbolo de crítica, certeza de homéricas discussões. O caminho mais seguro fica óbvio: nada de mexer com os ânimos dos leitores (principalmente destes que concordaram com a cabeça agora há pouco), certo? Nem sempre. Há uma regra sinistra e quase sempre desastrosa dentro do jornalismo, que nem todos conseguem compreender... Entre a indiferença do público e a manifestação calorosa de alguns, melhor ficar com a segunda opção. Provocar debates é um bom sinal. Provocar debates é buscar a certeza de que as ondas alienadoras da televisão não fizeram de nós simples zumbis sem opinião. E, falando nisso... Alguém aí gosta de filmes de zumbis?
Para não continuar soando assim tão provocativo e inconsequente como ali em cima, o Segundo explica: a matéria de capa desta edição dá início a um perigoso especial que propõe listar não os melhores - ninguém aqui é louco de ousar uma blasfêmia dessas - mas os maiores sucessos do cinema, da música e da literatura durante a última década. Trilogias milionárias, surpresas além dos limites hollywoodianos e grandes clássicos contemporâneos são alguns dos ilustres convidados desta primeira etapa, que relembra dez anos de sétima arte. O método utilizado para elaborar este singelo panorama? Comparar um punhado enorme de listas, entre elas as publicadas por veículos de renome como The Times, New Yorker, Internet Movie Database e Entertainment Weekly, e tentar o impossível: extrair daí os verdadeiros fenômenos desta década. Então, pronto para ler até o fim sem rasgar o jornal em pedaços?

2000
Alta Fidelidade, Stephen Frears
Tudo bem que o filme estrelado por John Cusack não é nenhuma superprodução, mas serve para representar o espírito de uma geração obrigada a transitar entre um século e outro. Com uma trilha incomparável - nada melhor para a cena inicial que a matadora You're Gonna Miss Me, do 13th Floor Elevators -, Alta Fidelidade fala de amor, decepção e rock'n'roll. Junto com Quase Famosos, apresenta uma nova tendência dos anos 2000: enredo simples, realização simples e um profundo resultado na opinião de gente simples que vai ao cinema procurando identificação.

Oscar: Beleza Americana, de Sam Mendes

2001
Inteligência Artificial, Steven Spielberg
Antes do novo milênio, muitos grandiosos filmes de ficção científica já haviam sido lançados, mas nenhum com a sensibilidade presente em Inteligência Artificial. Baseado no conto de Brian Aldiss, o filme foi primeiramente idealizado por Stanley Kubrick, que viu na história de um garoto robô desenvolvido para ter sentimentos, a possibilidade de abordar uma outra visão a respeito das irrefreáveis novas tecnologias.

Oscar: Gladiador, de Ridley Scott

2002
Cidade de Deus, Fernando Meirelles
Presente em todas as listas consultadas, Cidade de Deus é o maior marco do cinema brasileiro atual. Em 3º lugar na votação dos internautas do site IMDB, o filme divide opiniões até hoje, mas é indiscutivelmente uma das produções mais bem feitas em solo nacional. Ao mostrar a história de uma das maiores favelas do Rio de Janeiro e criar ícones da cultura popular ("meu nome agora é Zé Pequeno!"), Cidade de Deus chocou o mundo pela beleza de sua tragédia.

Mr. Vingança (2002), Oldboy (2004) & Lady Vingança (2005) - A trilogia, Park Chan-Wook
Dona de algumas das tramas mais bem construídas do cinema, a chamada trilogia da Vingança do coreano Park Chan-Wook elevou o nível do cinema contemporâneo. Não bastasse isso, sua maneira de filmar como quem desenha cada cena impressionou o ocidente. Com o auge da popularidade em Oldboy, a trilogia abre portas para um universo de pequenas ações e brutais reações, questões de caráter, escolhas importantes e o grande dilema: o que é capaz de salvar alguns sempre vai sacrificar outros - é a vida.

Oscar: Uma mente brilhante

2003
O Senhor dos Anéis (2001, 2002, 2003) - A trilogia, Peter Jackson
É provável que esta seja uma daquelas raras adaptações em que os fãs do livro saem satisfeitos. Transpondo para as telas a atmosfera do universo de J. R. R. Tolkien, Jackson tornou a história de Frodo e sua busca pelo anel uma das sagas mais visualmente impecáveis desta década.

Oscar: Chicago

2004
Kill Bill vol. I e II (2003, 2004), Quentin Tarantino
Toda vez que Tarantino se envolve em uma produção ela vira obra-prima. Em Kill Bill, a perfeição está na insana mistura de referências em uma história só. Em busca de vingança, a eterna noiva Beatrix vive uma jornada de preparação até o inevitável encontro com seu grande amor e maior inimigo: Bill. Genial em cada sequência, o filme conseguiu unir o sóbrio universo oriental ao caótico mundo trash e mesmo assim sair aclamado. Não nos pergunte como.

Trilogia Bourne, Doug Liman (2002), Paul Greengrass (2004, 2007)
Um filme de ação inteligente. Com Matt Damon em seu melhor papel, Identidade Bourne, Supremacia Bourne e Ultimato Bourne dão às produções de espionagem uma nova missão: atingir o nível alcançado por Doug Liman e Paul Greengrass na famosa trilogia que segue os passos de um homem sem memória que precisa apenas descobrir quem é. Considerado o 007 do novo século, Jason Bourne é uma boa surpresa desta década.

Oscar: O Senhor dos Anéis: O retorno do rei


2005
Batman Begins & O Cavaleiro das Trevas (2005, 2008), Christopher Nolan
A retomada de um dos maiores ícones dos quadrinhos por Christopher Nolan a partir de sua origem impressionou os fãs e agradou o grande público, mas encontrou seu auge em 2008, com a evolução da trama e a chegada de vilões inesquecíveis como Duas Caras e o polêmico Coringa vivido por Heath Ledger. Com clima sombrio e envolvente, os filmes devolveram a Batman seu merecido respeito.

Oscar:
Menina de Ouro

2006
Piratas do Caribe (2003, 2006, 2007) - A trilogia, Gore Verbinski
Ação, diversão, romance, terror, comédia e o maior pirata da Terra: estes são alguns dos ingredientes da grande aventura da década. Com o genial Jack Sparrow de Johnny Depp como protagonista, a saga produzida pela Disney mostra que humor inteligente, grandes atuações, efeitos especiais de qualidade e a história certa podem fazer de uma brincadeira um enorme fenômeno de crítica e bilheteria.

Oscar: Crash - No limite

2007
Tropa de Elite, José Padilha
Com o "pede pra sair!" na boca e a cópia pirata na mão, o público brasileiro fez de Tropa de Elite um acontecimento. Mostrando a realidade do Bope ao agir nas favelas cariocas, o filme explora o ciclo que envolve insegurança pública, violência e tráfico de drogas.

Oscar: Os Infiltrados

2008
Onde os fracos não têm vez, Joel e Ethan Coen
Melhor filme de 2008, Onde os fracos não têm vez também é um dos mais impressionantes da década. Faroeste moderno baseado na obra de Cormac McCarthy, o longa alavancou a carreira de Javier Bardem como o assustador psicopata Anton Chigurh e abrilhantou a filmografia dos irmãos Coen.

Oscar: Onde os fracos não têm vez

2009
Bastardos Inglórios, Quentin Tarantino
Não bastasse o sucesso com Kill Bill, Tarantino resolveu chegar ao seu auge na mesma década e deixar o mundo todo boquiaberto. Mais maduro e centrado do que nunca, o mestre do bizarro se permitiu um elegante filme de época passado durante a guerra com clima de western, passagens oitentistas, sequências dramáticas, momentos hilários e um desfecho que contraria a própria história. Acha pouco? Veja com seus próprios olhos.   

Oscar: Quem quer ser um milionário?


Quando popularidade é o de menos
Alguns filmes que podem até não ter feito sucesso de bilheteria, mas agradaram a crítica e conquistaram um grupo fiel de admiradores

O Labirinto de Fauno
Mulholland Drive
O Segredo de Brokeback Mountain
Wall-E
Moulin Rouge
Encontros e desencontros
Quase Famosos
Amnésia
O fabuloso destino de Amélie Poulain
O pianista
A viagem de Chihiro
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Gran Torino
Sin City
Fale com ela
O tigre e o dragão
Caché
Avatar
Saga Harry Potter
Aviador
Dogville
Donnie Darko
Amores Brutos
Battle Royale
Os Sonhadores
O último rei da Escócia
King Kong
Edukators
Amantes Constantes
Não estou lá


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