Em companhia dos incas

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Após o convite especial da organização do 7º Corso Albarracino de Tacna, artistas passo-fundenses da Cia da Cidade rumam ao Peru levando a cultura local em forma de música, dança e teatro ao povo herdeiro de um dos mais fascinantes capítulos da história da América: a ascensão e a queda do Império Inca. De volta a Passo Fundo, o grupo mal consegue explicar em palavras a energia de carinho e prestígio que viveu na última semana

 Marina de Campos/ON

"Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava. As palavras têm sombra, transparência, peso, plumas, tudo que lhes se foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes. Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos, estes que andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas Américas encrespadas, buscando batatas, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca mais se viu no mundo. Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas. Por onde passavam a terra ficava arrasada. Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, das ferraduras, como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Levaram o ouro e nos deixaram o ouro. Levaram tudo e nos deixaram tudo. Deixaram-nos as palavras".

Assim como Pablo Neruda - o maior poeta latino-americano de todos os tempos - declara seu amor pelo idioma deixado no continente pelos sanguinários conquistadores espanhóis em troca do equilíbrio de toda uma civilização, é possível perceber ainda hoje, de extremo a extremo da América do Sul, uma cumplicidade sobrenatural entre cidadãos, algo que ultrapassa acordos políticos e paira sobre a mente de povos diferentes, mas sobretudo iguais. Mesmo o Brasil, com seu diferencial na própria fala, no idioma que tanto encantou Neruda, é capaz de sentir a energia de irmandade quando ultrapassa uma fronteira que, talvez, nem precisasse existir. Quando falar com palavras se torna desnecessário, nos tornamos todos irmãos.

A matéria completa na edição do caderno Segundo desse final de semana (06-07)

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