Surpreendeu muita gente o fato de uma mulher vencer o Oscar de melhor diretor - mas não deveria. Depois que a maioria da população feminina deixou de se preocupar tanto com o reconhecimento masculino, o caminho se mostrou naturalmente livre e o que se vê hoje, no cinema ou em qualquer outro lugar, são pessoas trabalhando em conjunto por um mesmo ideal. Mas com a recente conquista surge a pergunta: quem foram essas outras diretoras que quasem chegaram lá?
Segundo ON
Ao rodar seu filme em um ambiente essencialmente masculino, não levantou suspeitas. Misturou-se à multidão de diretores sem causar alvoroço e sequer pensou em erguer aquela bandeira que, no lugar de pedir por igualdade, apenas diferencia. Mais que isso: por um momento esqueceu quem era. Nem homem nem mulher, ou quem sabe tanto faz - queria rodar um filme de verdade e para isso não importava se jogava futebol ou brincava de boneca quando criança. Não precisava de uma história de amor nem de drama, podia partir para o deserto escoltada por um exército de produtores, roteiristas, técnicos e atores e fazer lá um bom filme de guerra. Bruto, tenso, perigoso, quase insensível, monocromático, corajoso, difícil de engolir. Um desafio destinado apenas a homens de verdade - lançado pelas mãos valentes de uma mulher.
Assim se pode traduzir o recente resultado do Oscar 2010 na categoria de melhor diretor: conquistado por uma mulher pela primeira vez em oitenta anos, o prêmio demonstra que a era das diferenças motivadas pelo sexo já acabou e que o que ainda resta nesse sentido é apenas a implicância de algumas mulheres e a irracionalidade de alguns homens-macacos. Dito isso, vem a questão: esta foi a primeira vez que uma cineasta ganha o status de melhor do ano, mas quem foram as outras a concorrer na importante categoria? Acredite, em todos esses anos somente três mulheres figuraram entre a seleta lista de diretores indicados à premiação mais badalada da história do cinema - informação adicional que só torna a vitória de Kathryn Bigelow ainda mais louvável. Além dela? Talentosas cineastas chamadas Lina Wertmüller, Jane Campion e Sofia Coppola.
Lina precursora
Indicada pela academia no distante ano de 1976, Lina Wertmüller tornou-se a primeira mulher a figurar na categoria de melhor diretor - em um tempo em que o preconceito realmente existia e ninguém fazia muita questão de seguir um caminho contrário. Com carreira reconhecida na Itália, a cineasta ganhou fama ao trabalhar ao lado de Federico Fellini, um dos maiores nomes da história da sétima arte, em filmes de renome como 8 1/2. Em meados da década de 1970, com a produção de Pasqualino Sete Belezas, alcançou inesperado destaque e o prestígio de disputar um Oscar por sua direção ao lado de figuras como Alan Pakula, Sidney Lumet e Ingmar Bergman. Nascida em 1926, Lina tem mais de vinte longas em sua filmografia, e seu último filme foi rodado em 2004.
Jane e o piano
Depois de acumular prêmios como o Georges Sadoul de melhor filme estrangeiro, o prêmio da crítica de Los Angeles, o American Independant Spirit, o Australian Critics e um Leão de Prata no Festival de Veneza ao longo de uma curta carreira, a neozelandesa Jane Campion alcançou consagração definitiva em 1993, com o longa-metragem O Piano. Além de se tornar a primeira diretora a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, com seu filme ela também faturou Oscars nas categorias de melhor roteiro original, atriz e atriz coadjuvante, além de uma indicação na categoria de melhor diretor. Nessa edição do prêmio, teve seu filme O brilho de uma paixão indicado na categoria de melhor figurino.
Sofia, a filha do homem
Parece que desde 2004 o Academy Awards já apontava seus novos rumos. Naquele ano, uma jovem de sobrenome famoso levava para casa não apenas o troféu de melhor roteiro original, mas também a honra de ter sido indicada nas categorias de melhor filme e melhor diretor por sua obra-prima da sensibilidade: Encontros e desencontros. Amado e odiado com a mesma intensidade, o filme estrelado por Bill Murray e Scarlett Johansson conquistou o júri do tradicional evento por trazer uma atmosfera de sutilidade e realidade que poucas vezes se viu no cinema, algo que talvez se deva à visão feminina de Sofia Coppola - ou talvez não. Filha do consagrado diretor Francis Ford Coppola, de clássicos como Apocalipse Now e O poderoso chefão, a jovem cineasta começou sua carreira com As virgens suicidas, e seu último filme lançado foi Maria Antonieta, em 2006.
Território invadido
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