Segundo ON
O título é longo mas - acredite - não diz nem a metade. Ao utilizar como cenário um morro carioca, Joel Rufino dos Santos tece uma de suas melhores novelas em O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta, a partir da rotina de três homens excêntricos e o aparecimento de um misterioso embrulho de jornal. Passada logo após a 2ª Guerra, mostra uma época de esperança na paz mundial. "Ninguém sofreria mais por pertencer a raças diferentes, professar religiões diferentes, sentir ou pensar diferente. O nazismo fora derrotado, a ditadura brasileira do Estado Novo fora derrotada, a Palestina repartida entre judeus e não judeus. Era uma esperança, não era uma realidade. Gente continuou a sofrer pelas mesmas razões de antes. Mas continuou, também, a ter desejo de amor, de criar os filhos, sonhar com o futuro, como sempre." Com pitadas de amor, sangue e subversão, o livro fala de uma realidade que o autor conhece bem.
Uma das principais referências sobre cultura africana no Brasil, durante os anos de ditadura militar, Joel Rufino foi exilado político e morou por algum tempo na Bolívia e no Chile. Vítima de tortura enquanto preso em território brasileiro, seu exílio ocorreu porque queria publicar uma série de livros didáticos de História com ideias às quais o governo se opunha. Todas essas ricas experiências já serviram para mais de 50 obras que vão desde livros teóricos até clássicos da literatura infanto-juvenil, entre eles A botija de ouro e O soldado que não era. Nesse campo, destacou-se por sair várias vezes vencedor do Prêmio Jabuti, o qual ganhou, inclusive, em 2008, com O barbeiro e o judeu da prestação contra o sargento da motocicleta, título que marca as atividades do Livro do Mês de Março na Capital Nacional de Literatura.
A programação, que iniciou na noite de ontem, no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Passo Fundo, conta com a presença do autor para debater a obra e os temas que ela aborda. Depois de falar à comunidade acadêmica, na manhã de hoje o autor comparece no Teatro do Sesc, às 9h, para uma conversa com alunos e professores da rede municipal de ensino e demais interessados. Na amanhã, também às 9h, Joel Rufino retorna ao Sesc para um momento destinado a professores e estudantes da rede estadual. Interessante principalmente por tratar de assuntos como o nazismo e a ditadura por meio de uma linguagem voltada ao público infanto-juvenil, a obra tem 72 páginas e foi publicada pela Moderna Editora em 2007.