Coincidindo com o aniversário de nascimento do pintor, premiada biografia assinada por David Haziot e lançada pela L&PM reacende o drama por trás da vida de um dos maiores artistas de todos os tempos: Vincent van Gogh, o homem que em vida conheceu apenas o fracasso, vendeu por 400 francos um único quadro, suicidou-se por motivos de loucura com um tiro no peito e, pouco mais de um século após sua deprimente passagem pelo mundo, é visto como um gênio insuperável dentre todas as artes. Faz algum sentido?
Marina de Campos ON
Não.Pois Van Gogh conheceu nada além do fracasso.Não foi capaz de realizar qualquer das tarefas básicas que a sociedade até hoje impõe - possuir uma vida decente, pacata, sem qualquer escândalo ou aventura, jamais ousar fazer aquilo que não esperam de você, mas esperar também o momento certo, constituir família, custear a própria subsistência, passar despercebido o quanto for possível, possuir bons contatos, poucos amigos e o mais importante, não esqueça, morrer apenas de causas naturais.
Se forem outros os seus anseios ou até mesmo os únicos caminhos que a vida lhe ofereceu, Vincent van Gogh e você estão declarados culpados e inaptos para esta dura (tanto quanto prosaica) forma de agrupamento. À margem de tudo e de todos, ele viveu difíceis 37 anos em completo desamparo, sucessivamente rejeitado por mulheres e amigos, oprimido por pais e empregadores, isolado e sentenciado louco justo no momento em que mais produzia, justo quando a vida ainda poderia sofrer reviravoltas, justo quando tinha nada e tudo a perder.
"La tristesse durera toujours", ou "a tristeza durará para sempre", foram suas últimas palavras enquanto morria nos braços do irmão Theo. E se não durasse, como não durou? E se sobrevivesse o suficiente, se sua mente atormentada pela genialidade e por um pouco de absinto resistisse até sua consagração? Não mais fracasso, não mais sarjeta. Tornar-se-ia um ser realizado pelo reconhecimento de sua arte, pouco importando sua vida aparentemente medíocre ou os constantes olhares de reprovação. Em 1888, vendeu o único quadro de toda sua vida pela soma de 400 francos. Em 1990, a tela, intitulada retrato do Dr. Gachet, bateu um recorde da época e foi vendida por nada menos que US$ 82 milhões. Então, que espécie de piada de mau gosto resume a vida de um homem como Vincent Van Gogh?
A matéria completa na edição do Segundo Caderno (02-04)