Três coisas que a filosofia não é

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Uma das primeiras dificuldades filosóficas é a própria definição de filosofia. Historicamente, muitos filósofos têm assumido essa tarefa, esboçando respostas possíveis para a questão. Nenhuma das respostas, entretanto, mostrou-se completa o suficiente para encerrar a discussão. Isso se deve, sobretudo, às características da própria filosofia que, por não possuir um objeto específico de estudo e nem mesmo um método próprio comporta várias aplicações e interpretações. Tal dificuldade colaborou para que proliferasse uma vasta gama de falsas noções sobre o que é a filosofia. Mas do fato de não haver uma definição clara para a pergunta "O que é a filosofia?" não se segue que a filosofia seja várias coisa ou qualquer coisa. Nesse sentido, considerando que se pode esclarecer muito sobre um assunto mostrando o que ele não é, seguem algumas refutações conceituais acerca da filosofia.
1. A filosofia não é um "recital de opiniões". Opiniões, enquanto manifestações espontâneas e geralmente irrefletidas, só podem participar da filosofia enquanto ponto de partida para uma investigação racional da realidade, jamais como ponto de chegada. A filosofia pode se valer das opiniões em seu proceder, mas de modo algum se constitui delas. Opiniões são pareceres (parciais, superficiais) sobre a realidade, a filosofia pretende ser um conhecimento racionalmente fundamentado. Tanto a opinião está longe do conhecimento quanto da filosofia. Emitir opiniões, trocar opiniões, construir opiniões pouco ou nada tem a ver com filosofar. E se alguém disser que se pode argumentar, fundamentar opiniões e nisso se estaria filosofando, o protesto procede, mas aí já não se trata mais de mera opinião; pela fundamentação a opinião ganha status de conhecimento.
2. A filosofia não é um "conjunto de saberes místicos". Tida por muitos como inacessível, nebulosa, a filosofia passou a ser erroneamente confundida com toda sorte de mística, religiosa ou leiga. Mas a filosofia não se confunde e nem sequer se ocupa, fundamentalmente, com o âmbito do sobrenatural, do mágico, do encantado. Se há algo que se pode, seguramente, sustentar acerca da filosofia é que se trata de uma atividade racional. E o místico é, por excelência, aquilo que se esquiva da razão.
3. A filosofia não é um "modo de vida". No uso normal da língua portuguesa é comum se empregar o termo filosofia para designar um estilo de vida, como, por exemplo, na expressão "ele/ela tem uma bela filosofia de vida". Embora pudéssemos, com alguma violência interpretativa, identificar características da filosofia ocultas em tal uso do termo, a filosofia não pode ser confundida com uma leitura pessoal de mundo ou uma sabedoria de vida. Tais ideias negligenciam o caráter universal da filosofia, que a racionalidade lhe confere. Cada indivíduo pode compor um sistema de crenças, de valores, de procedimentos próprios sem que isso tenha algo a ver com filosofia. Além do que, sustentar que a filosofia equivale aos diferentes modos de vida, nada revela sobre o que é a filosofia; e o que é mais grave, sugere que quase tudo, ou qualquer coisa, seja filosofia.
Para ajudar a identificar as falsas concepções/definições de filosofia vale notar que a filosofia está sempre mais próxima de um exercício de razão, uma atividade de pensamento, do que de qualquer pretenso conjunto de opiniões, magias ou modos de vida. No mais, parece que a filosofia é algo que só se deixa compreender realmente quando se começa a filosofar.

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