Eduardo Ferreira das Neves Filho
Professor UFPel, ex-professor do Curso de Filosofia da UPF
No diálogo Teeteto, de Platão, nós encontramos uma definição de conhecimento que diz que uma pessoa, para saber uma dada proposição, por exemplo, "Meu amigo João possui um Ford", precisa cumprir ao menos três condições: crer racionalmente nessa proposição, a proposição acreditada tem que ser verdadeira e a pessoa deve ter boas razões para crer nessa proposição. Essas condições, segundo muitos epistemólogos, são necessárias para que as pessoas possam dizer que sabem, conhecem alguma coisa que pode ser acreditada, afirmada, negada, duvidada, etc., e que chamamos de proposição.
Talvez essas condições não sejam suficientes, mas isso não vem ao caso aqui. Importa é notarmos a difícil relação que temos com uma daquelas condições: a verdade da proposição em que acreditamos. Como utilizamos o predicado "é verdadeira" nesse caso? Parece que o uso, no caso da crença em proposições oriundas da experiência, é realizado mediante certa "correspondência" da proposição com a "realidade". Se João possui um Ford, então a proposição correspondente é verdadeira, caso contrário, falsa. É claro que para as chamadas proposições de razão, como as da matemática, a verdade não é concebida como correspondente à realidade (alguém já vou triângulos em árvores?), mas é "coerente" em seu sistema quando é verdadeira.
Mas, imaginemos que sejamos, de forma semelhante àquilo que Descartes fez, enganados por um Gênio Maligno que nos faz acreditar na realidade percebida pelos sentidos e na das verdades matemáticas, mas tudo é diferente daquilo que acreditamos ser verdadeiro, tanto no que percebemos pelos sentidos, tanto no que diz respeito às proposições de razão. Alguma coisa bem parecida com a história do filme Matrix, no qual as pessoas não estão na realidade como pensam, mas estão mergulhadas em casulos com gosma rosa dando energia às máquinas.
Levando esses casos hipotéticos em consideração, como satisfaríamos a condição da verdade para termos "conhecimento" de proposições? Dois caminhos: ou enfrentamos o cético filosófico, aquele que diz que não podemos ter conhecimento e fala em gênios malignos e matrixes, ou deixamos o cético de lado e dizemos que nesse mundo algumas crenças são mais bem justificadas do que outras, e, ao que nos parece, quanto melhores razões pudermos dar às nossas crenças, mais verdadeiras elas parecem ser: não é isso que as ciências costumam dizer e não assim que formamos nossas crenças a respeito do mundo?
As melhores razões para crer
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