Alice no país de Tim Burton

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Ela pode até não ser a melhor, mas é certamente a mais esperada produção entre as estreias programadas para este ano. Baseada no controverso texto de Lewis Carroll, a adaptação moderna de Alice no País das Maravilhas caiu como uma luva nas mãos do cineasta Tim Burton, acostumado à recriação de personagens presentes no imaginário popular e ao excentricismo visual que a história merece. Enriquecido por efeitos especiais de qualidade e marcantes atuações de Johnny Depp e Helena Bonham Carter, o filme chega aos cinemas passo-fundenses acompanhando a estreia nacional e trazendo até aqui o clima de curiosidade e expectativa que ronda Alice desde sua origem

Marina de Campos ON

Não se engane, o País das Maravilhas não é um bom lugar para se visitar. Sombrio, confuso e nada acolhedor, coberto por um céu prateado repleto de nuvens que jamais se desfazem e bosques tristes onde não há árvores nem horizontes para se buscar, como um imenso hospício sem grades ou medicamentos, no qual os loucos, a qualquer momento, podem ser confundidos com você. As flores possuem expressões hostis, os gatos falam sem parar, os chapeleiros são lunáticos, os coelhos têm pressa, as rainhas cortam cabeças e não há nada de agradável ou familiar para você neste lugar.
Era para ser um conto de fadas? Não se engane, a fábula de Lewis Carroll não tem nada de amistoso. Se em 1950 sua história foi manipulada e transformada em inocente desenho animado pela Disney, agora chega a hora em que essa mesma Disney abre seus estúdios para a verdadeira cara de Alice, e, convenhamos, Alice tem a cara de Tim Burton.

Mais do que isso, ela se encaixa tão perfeitamente no mundo grotesco do diretor que, para quem já leu o texto original de 1862, é como se somente agora uma adaptação fiel fosse realizada. Não que isso queira dizer um grande filme - pelo contrário, as críticas quanto à condução da trama e as cenas de ação não são nada boas -, mas sim que o clima que o autor desejou imprimir à obra vai ser finalmente seguido e respeitado, com quase todos os seus pontos obscuros e as controvérsias que beiram o imoral, especialmente para a época da sua criação. A constante menção às drogas é apenas um dos pontos polêmicos da história. O outro (dizem os mais desconfiados que Carroll era um pedófilo em potencial), Burton preferiu deixar de fora, e transformou a pequena Alice em uma jovem adolescente com idade suficiente para não se envolver em um escândalo sexual.

Como a mudança não atrapalha o andamento da história e todo o restante condiz perfeitamente com o que é narrado no livro, Alice se mantém intacta. A lealdade de Tim Burton à descrição dos personagens é tanta que, por alguns momentos, é possível esquecer-se completamente da irritante docilidade do Chapeleiro Louco dos desenhos e enxergar um homem real e perturbado, de profundas olheiras e aparência alaranjadamente bizarra, saltando de um lado para outro da tela e rindo justo quando não deveria. Ele, inclusive, é para muitos críticos o grande trunfo da produção.

A matéria completa na edição do Segundo Caderno deste final de semana

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