Segundo ON
Imagine passar a vida derramando seu talento em cadernos de rascunhos e cartas sem resposta sem jamais publicar um só poema e depois da morte tornar-se uma das poetisas mais aclamadas da história da literatura. Triste? Extraordinário? Pois é assim que se resume a biografia de Emily Dickinson, uma das mais influentes escritoras da literatura norte-americana e centro das atenções da edição de abril do projeto Livro do Mês da Capital Nacional da Literatura.
Escolhida para conduzir os debates que acontecem nesta semana em Passo Fundo, a obra Um livro de horas trata-se de uma seleção de poemas da autora realizada por Angela Lago. A primeira atividade acontece hoje, a partir das 19h30, no auditório da Faculdade de Odontologia da UPF. Na quarta-feira, Angela conversa com alunos da rede municipal de ensino no Teatro do Sesc, às 9h. Para os alunos da rede estadual e particular o debate acontece na quinta-feira, no mesmo local e no mesmo horário.
Poesia e ilustração para todas as horas
Um livro de horas - escolhido como o Livro do Mês de abril da Capital Nacional da Literatura - é uma seleção de poesias feita por Angela Lago, que, ao escolhê-los, preferiu aqueles que nos transmitissem simplicidade, evocando o canto e o re-encantamento do mundo. Angela escolheu 24 poemas que traduziu e nomeou de forma livre. A edição é bilíngue, ou seja, os poemas escritos por Emily estão no livro com a tradução ao lado, feita pela própria Angela. Além da tradução, ela também criou belíssimas ilustrações para a obra, trazendo mais vida e beleza às poesias.
Emily Dickinson, nascida em 10 de dezembro de 1830, no estado de Massachusetts - EUA, produziu muito, apesar de ter ficado trancada em seu quarto durante anos e seus poemas não terem sido publicados até sua morte. Os poemas de Dickinson não eram reconhecidos na época por não manter uma regularidade convencional aceita pelos críticos. Somente cerca de dez de suas poesias foram a público e anonimamente.
A escritora, tradutora e ilustradora Angela Lago é reconhecida por diversas obras literárias, além de ter ilustrado obras de autores estrangeiros. Atualmente, Angela ganhou o Prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil na categoria de melhor ilustração por seu trabalho em Um livro de horas. O nome do livro do mês de abril origina-se do nome de documentos escritos ou copiados à mão, comuns na Idade Média, chamados livros de horas. Em cada um desses livros há uma coleção de textos, orações e salmos. Em sua forma original, um livro de horas era lido como leitura religiosa. Em sua ilustração, Um livro de horas, torna-se rico pelo fato de Angela Lago ter realizado em suas ilustrações quase um trabalho de filigranas - um trabalho ornamental feito em metais preciosos - os quais são conseguidos por intermédio de entrelaçamento de pequenos e delicados fios dourados que enfeitam os desenhos copiando as iluminuras comuns em livros da Idade Média. No entanto, ela não utilizou tintas e ouro: usou recursos digitais com muito sucesso para recriar o efeito dessas duas antigas técnicas.
Apesar da época em que Emily viveu, seus poemas tratam da sua própria maneira de pensar e ver o mundo. Alguns deles discorrem sobre fantasias de morte e apresentam surpreendentes metáforas e instigantes duplos sentidos. Ela facilmente descreve as belezas da natureza ao longo de voos selvagens em seu pensamento. Ao ler as poesias, percebemos que Emily se doa de corpo e alma, transmitindo uma sensação de amor, paz e tranquilidade. Angela, ao escolher como poema inicial Hora do ofertório, oferece aos leitores que não conhecem Emily Dickinson um livro rico e ornamentado com poemas e ilustrações que expressam puros sentimentos de amor pela arte. (Colaboração de Lucas Werschedet Rodrigues, do Mundo da Leitura)
