Stones no exílio (em Cannes)

Um dos pontos altos do importante festival francês, a exibição de documentário sobre controverso período vivido pelos Rolling Stones durante a gravação do álbum Exile in Main St. aconteceu ontem, com a presença do líder Mick Jagger

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Segundo ON

"Nós éramos jovens, bonitos e estúpidos. Agora somos só estúpidos", declarou Mick Jagger a uma faminta plateia lotada de repórteres do mundo inteiro, parecendo querer se desculpar por alguns excessos do passado indiretamente retratados no documentário Stones in exile, filme exibido pela primeira vez durante o Festival de Cannes na tarde desta quarta-feira. Dirigida por Stephen Kijak sob encomenda do próprio vocalista, a produção é focada no conturbado período das gravações de Exile in Main St., mítico álbum duplo da banda lançado em maio de 1972. Na época, os Stones se submeteram a um exílio forçado por estarem devendo mais em impostos no Reino Unido do que tinham em dinheiro para pagar, e acabaram transformando a mansão paradisíaca alugada por Keith Richards no sul da França em estúdio para gravação de boa parte do álbum. "Nixon estava na Casa Branca, a Guerra do Vietnã acontecia, e nós não sabíamos nada disso porque estávamos trancados naquela casa fazendo esse disco", completou Jagger, sem citar tudo que foi feito na tal casa além do disco.

É que reza a lenda que nesse período os Stones atingiram o nível máximo da trilogia "sexo, drogas & rock'n'roll" com indecentes, ilícitas e intermináveis festas que até hoje rondam a imaginação de muitos fãs. Apesar de falar da mesma época, o documentário intitulado Stones in Exile deixa quase tudo isso de fora, concentrando-se em entrevistas com músicos e amigos da banda, fotos de arquivo e somente algumas imagens de um polêmico documentário jamais lançado oficialmente e conhecido como "não autorizado", chamado Cocksucker blues. Rodado em 1972, o vídeo começou a ser realizado quando Robert Frank foi autorizado a acompanhar a turnê da banda e espalhar câmeras por toda parte, deixando que qualquer um fizesse gravações. O problema é que os registros acabaram comprometedores demais e a banda proibiu na Justiça o lançamento do documentário. Desde então, sessões esporádicas são realizadas pelo mundo, sempre na presença do diretor.

Diferente dos filmes dos irmãos Maysles ou do espetáculo em alta definição de Shine a light, de Scorsese, as imagens de Stones in exile são mais fragmentadas, como uma colagem, e devem interessar mais aos fãs ávidos por qualquer pedaço de informação inédita da banda. Talvez por conta da supervisão rigorosa de Mick Jagger, dos depoimentos chapa-branca ou mesmo da memória um tanto apagada dos integrantes do grupo, o documentário não traz grandes revelações sobre o que realmente aconteceu naquelas semanas. Mas de acordo com o diretor, chance não faltou. "Quando fomos convidados a fazer o filme, nós tivemos acesso a um quarto secreto em Londres repleto de raridades. Parecia aquela cena do 'Caçadores da arca perdida', mas tudo era dos Rolling Stones, desde os primórdios da banda", contou Kijak após a exibição do filme em Cannes. "Tinha 30 ou 40 caixas de rolos de filme só com as sobras do 'Cocksucker blues'. Foi como encontrar ouro brilhando nas estantes", confessou ele.

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