Depois de anunciar a vinda dos quadrinistas norte-americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton, Flip confirma a presença do músico Lou Reed, ex-líder do Velvet Underground, e da autora peruana Isabel Allende, reforçando ainda mais o time de personalidades que participam da Festa Literária de Paraty deste ano
Segundo ON
Você pensou que nunca os veria, afinal são lendas vivas e não se esbarra com lendas vivas por aí. Mas de um dia para o outro, por conta do bom gosto de um pequeno grupo de pessoas, você tem a possibilidade de ver de perto três dos grandes ícones da cultura mundial do último século falando de seus novos trabalhos num grande palco montado em uma pequena cidadezinha do interior de um estado do país. Do seu país. Neste ano, é isso que a Flip possibilita: o encontro de figuras míticas, quase irreais na mente dos fãs, como Robert Crumb, Lou Reed e Isabel Allende, conversando tranquilamente com o público durante uma semana de quase férias em Paraty. E sabe o que é pior? A programação ainda não foi completamente definida - pode vir mais coisa boa por aí.
Contracultura pop
Se fosse apenas o quadrinista Robert Crumb entre os convidados da oitava edição da Flip, a contracultura já estaria extremamente bem representada. Mas agora, com o incrível reforço do lendário vocalista do Velvet Underground, o que se percebe é uma dominação do movimento sobre os ícones tradicionais. Com temas polêmicos e um pouco distantes do que costuma ser discutido no evento - como, por exemplo, a recente febre em torno da história de Alice no País das Maravilhas e sua influência na cultura pop -, a festa deste ano conta ainda com a participação de Isabel Allende, escritora peruana naturalizada chilena, autora do best-seller A casa dos espíritos e parente do importante líder político Salvador Allende, derrubado em 1973 pelo governo do ditador Augusto Pinochet.
Assim, trazendo na bagagem temas como a revolução comportamental realizada na década de 1960 por meio de mídias underground como os quadrinhos, o poder da música em momentos decisivos do século 20 e a questão da política latino-americana quando aliada à literatura, Crumb, Reed e Allende fazem desse que é um dos maiores eventos literários do país um acontecimento de dimensões infinitas e atemporais.
A Jornada carioca
Realizada anualmente na famosa cidade do sul-fluminense, a Festa Literária Internacional de Paraty não difere muito da que é realizada em Passo Fundo, com a Jornada Nacional de Literatura. A grande vantagem do evento carioca é a visibilidade e o apelo causado pelas celebridades que comparecem às mesas de debates atraindo não apenas interessados em literatura, mas a atenção de toda mídia nacional. Neste ano, a festa acontece entre os dias 4 e 8 de agosto, reunindo até o momento 35 autores de 14 países diferentes, e tem como autor homenageado o sociólogo Gilberto Freyre.
Tema da conferência de abertura, a importância do escritor será levantada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seguido pela apresentação do cantor Edu Lobo acompanhado pela Osesp.
Para quem quiser se programar desde já, Isabel Allende fala no segundo dia de programação, enquanto Lou Reed e Robert Crumb debatem no terceiro dia e também promovem o lançamento de seus trabalhos mais recentes, Atravessar o fogo e Gênesis, respectivamente.
Atravessando o fogo com Lou
Tudo começou com um piano clássico. Só foi pegar em uma guitarra quando tinha dez anos. Aprendeu a tocá-la ouvindo rádio. Nos anos 1960 sua carreira atingiu o ápice, mais precisamente no momento em que até então desconhecida banda Velvet Underground chamou a atenção do líder da pop art Andy Warhol. Roqueiro, letrista, vocalista, guitarrista e fotógrafo, o norte-americano Lou Reed já é autor de livros de fotografia, mas em agosto lança no Brasil uma obra de caráter indiscutivelmente literário, já que reúne 310 belos poemas ou, se alguém preferir, algumas de suas melhores canções.
No começo dos anos 1970, Reed iniciou sua carreira solo, emplacando o sucesso Walk on the Wild Side. Além de fazer música, ele também contribuiu para publicações de prestígio, escrevendo para a New Yorker e o The New Iork Times. Em 2003, fez uma definitiva ponte entre a literatura e a música ao lançar o álbum The Raven, inspirado na obra do escritor Edgar Allan Poe. Lançado na Flip 2010, Atravessar o fogo é publicado no Brasil pela Companhia das Letras.
A ilha de Isabel Allende
Depois de três anos sem publicar um novo livro - seu último trabalho, A soma dos dias, foi lançado em 2007 -, a escritora peruana Isabel volta à ficção com a história da escrava Zarifé. Jornalista desde os 17 anos, estreou na literatura com A casa dos espíritos, em que utilizou os manuscritos das cartas que escreveu para seu avô, enquanto ele se convalescia no leito de morte, para retratar os fantasmas da ditadura de Pinochet.
A escritora transformou-se em um verdadeiro best-seller mundial, com 18 livros publicados em mais de 30 idiomas. Na Flip, Isabela lança A ilha sob o mar, livro que conta a história da escrava Zarité, instalada no tumultuado Haiti do século 18 com seu dono e amante. Trazendo temas familiares ao seu leitor, como a irmandade entre mulheres, a culinária e o exotismo, a obra tem como pano de fundo o alvoroço social da ilha caribenha.
The Velvet Underground & Isabel
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