Quando a guerra calou os estádios

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Com início na década de 1930, a tradição das copas do Mundo foi interrompida apenas uma vez, e por um motivo nem um pouco nobre: a 2ª Guerra Mundial. Com as edições de 1942 e 1946 canceladas, o evento poderia ter morrido no esquecimento, mas acabou salvo pela boa vontade dos donos do título do país do futebol

Marina de Campos ON

O único acontecimento com força suficiente para derrubar o maior exemplo de união e saudável disputa entre nações é também o melhor exemplo de irracionalidade e luta sanguinária entre enormes tribos de seres humanos: contra o milagre da Copa do Mundo, apenas a potência destruidora da 2ª Guerra Mundial.

Sonhado por Jules Rimet desde muito cedo, o grandioso evento mostrou-se possível no ano de 1914, durante a 1ª Guerra. Na chamada trégua de Natal daquele ano, soldados alemães e ingleses largaram as armas para - acredite - jogar uma divertida e inocente partida de futebol. Poderia existir melhor retrato da importância do esporte como um instrumento de união e pacifismo em um mundo dividido pela ambição? Cinco anos mais tarde, quando o conflito finalmente terminou, o advogado tornou-se o primeiro presidente da Federação Francesa de Futebol, e não demorou para que chegasse à presidência da Fifa. Nem ele sabia, mas seu sonho estava prestes a se realizar.

Em 1930, depois de muita análise, preparação e investimento, Rimet assistiu à realização da primeira World Cup, em solo uruguaio. No país vizinho dos brasileiros, a disputa aconteceu com pouca representação europeia - não havia voos regulares na época e a ida e volta dos atletas cruzando o Atlântico de navio levaria inviáveis três meses -, mas nem por isso deixou de ser um grande sucesso. Com os anfitriões como vencedores e o Brasil em sexto lugar, a primeira Copa do Mundo da história abriu caminho para uma das manifestações mundiais mais importantes de todos os tempos.
Nas duas edições seguintes, a Itália saiu vencedora e reforçou ainda mais a corrida mundial em busca de títulos. Tudo ia bem, não fosse o início de um desastroso capítulo marcado na memória do século 20. Durante a 2ª Guerra Mundial não houve espaço para o futebol.

Com o mundo sofrendo algumas das transformações mais traumáticas de sua história recente, as copas do mundo de 1942 e 1946 foram canceladas. Enquanto acontecia a ascenção e a consequente queda do insano regime de Adolf Hitler ou mesmo a bárbarie cometida em Hiroshima, não existia a possibilidade de que representantes de diferentes nações se reunissem em um país para celebrar a paz jogando futebol.

Mas a Fifa desejava ressucitar a competição assim que possível e apenas um ano após o fim do grande combate começaram a colocar em prática o triunfante retorno do evento. Não seria fácil. Durante o período conhecido como pós-guerra, a maior parte do continente europeu estava em ruínas e poucos países pareciam dispostos a gastar seus escassos recursos com investimentos em uma Copa do Mundo - e muito menos a sediar o evento.

Mas, adivinhe, quem surgiu para resolver a situação? É claro, o país do futebol. Nesse ínterim, o Brasil apresentou uma proposta ao congresso da Fifa, oferecendo-se para sediar o torneio em 1950. Como os últimos campeonatos haviam sido na Europa, era o momento perfeito para a América do Sul voltar a receber seleções do mundo inteiro e dar ao evento um retorno a sua altura. E para isso, nada poderia ser mais adequado do que a construção do maior estádio de futebol do planeta: o Maracanã.

Com a presença de quase 200 mil pessoas e o mundo inteiro acompanhando ansiosamente, o Brasil cometeu apenas um deslize. Perder a final para o Uruguai. A derrota seria amarga, mas nada mais seria forte o bastante para impedir a longa vida desse grande acontecimento de proporções universais.
Neste ano, a Copa do Mundo completa 80 anos em plena forma, desbravando um novo território: a intrigante África do Sul.

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