Fã de clássicos como Black Hole e a Elektra, de Frank Miller, o escritor gaúcho Daniel Galera assina seu primeiro livro de história em quadrinhos em parceria com o desenhista Rafael Coutinho. Intitulada Cachalote, a elogiada graphic novel é um dos grandes lançamentos do selo Quadrinhos na Cia deste mês
Segundo ON
Para quem já leu a grande obra-prima de Herman Melville, não há em todo o oceano um mamífero capaz de despertar mais fascínio do que aquele enfurecido cachalote branco - adornado com centenas de arpões como condecorações de batalhas vencidas - conhecido pelos lobos do mar como, simplesmente, Moby Dick. Grande rival do insano capitão Acab, a tal baleia é mais que um perigoso animal: é a perfeita encarnação do espírito de luta e selvageria que apenas o mar é capaz de conter.
Mas eis que agora, mais de 150 anos após a sua publicação, surge na literatura uma outra baleia capaz de chamar novamente atenção: Cachalote, de Rafael Coutinho e Daniel Galera. Graphic novel de mais de 300 páginas e integrada por seis histórias aparentemente sem relação, a obra é o grande lançamento do selo Quadrinhos na Cia para o mês de junho.
Com uma produção que levou mais de dois anos, o livro escrito por uma das grandes revelações da literatura contemporânea conta com uma narrativa densa e um estilo bastante singular, presente em títulos como Mãos de cavalo e Até o dia em que o cão morreu, e transposto às páginas da graphic novel com sensatez e precisão.
Familiarizado com o mundo dos quadrinhos há um bom tempo - Galera se diz fã de clássicos modernos como Black Hole, de Charles Burns, e O epiléptico, de David B., além de ter sido responsável pela tradução de grande parte dos títulos de Robert Crumb publicados no Brasil pela editora Conrad -, o jovem autor encontrou no talento de Rafael Coutinho o lugar certo para depositar sua criatividade literária. "Sem dúvida, as ideias da Cachalote se prestariam a um romance literário, mas nunca foram pensadas dessa forma. Conheci o Rafael no fim de 2007 e desde o início decidimos que trabalharíamos juntos e resolvemos fechar a parceria mesmo sem ter a história pronta", explica Galera. A partir d então, a dupla dedicou-se quase que exclusivamente a Cachalote.
"A gente trabalhou junto o tempo todo, desenvolvendo os personagens, as histórias, tudo foi feito em conjunto. O que fiz como escritor e roteirista foi colocar tudo no papel, primeiro em um formato mais livre, literário, depois adaptando para o formato das HQs, pensando na imagem com texto. Apesar de termos domínios diferentes, a criação da HQ foi em trabalho conjunto o tempo todo", acrescenta o autor.
Sobre a trama, Coutinho explica que tudo se une de uma maneira subjetiva. "As histórias são independentes umas das outras, mas se conversam de uma forma simbólica e narrativa. Estruturalmente elas têm similaridades e acho que até emocionalmente, já que as personagens estão em busca de algo pareceido", observa.
Ele refere-se a casos extremamente singulares: um escultor recebe um inusitado convite para protagonizar um filme, cujo roteiro parece estranhamente inspirado em sua vida privada; um jovem vendedor de uma loja de ferragens, adepto da dominação sexual com cordas, descobre que a linda garota por quem se apaixona é particularmente frágil e suscetível ao seu fetiche favorito, o que os conduz a um perigoso embate; um astro decadente do cinema chinês vem ao Brasil para o lançamento de um filme e torna-se suspeito da morte de seu companheiro de cena; um playboy mimado e arrogante é expulso de casa pelo tio e enviado à Europa para se virar sozinho; um escritor deprimido e sua ex-esposa, pais de uma menina, encontram-se em parques e lanchonetes de São Paulo, procurando manter o vínculo afetivo; por fim, uma velha senhora grávida e solitária vaga por sua mansão e tem encontros oníricos com uma cachalote na piscina de sua casa.
Reunidas em um luxuoso volume, as intrigantes histórias chegam às bancas em breve ao valor de R$ 45.
Cachalote, um sucessor para Moby dick
· 2 min de leitura