Por que o rock nasceu do BLUES

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... e o blues cresceu em Chicago, dentro dos estúdios da Chess Records, alimentado pelo talento explosivo de figuras como Muddy Waters, Little Walter, Howlin' Wolf, Etta James e Chuck Berry, esse último o responsável por dar início a todo esse absurdo que hoje chamamos rock'n'roll. Como retratado no recente filme Cadillac Records, as raízes do rock se confundem com o auge do blues e fazem disso tudo uma só história, lembrada pelo Segundo pela proximidade do Dia Mundial do Rock

Marina de Campos

Ele já é o maior nome da história do blues; eles ainda são ninguém. Ele está parado na calçada dos estúdios da Chess Records, em Chicago, acendendo displicentemente seu cigarro; eles descem de um táxi e o rodeiam com respeito e curiosidade, observando-o como se fossem seus escravos. Ele mantém seu silêncio intacto; eles começam a disparar elogios típicos de jovens garotos britânicos que não sabem bem o que dizer. Ele não esboça qualquer reação, mas se interessa quando ouve um deles dizer que "são seus fãs, até batizaram a banda com o nome de uma de suas músicas". Com um leve aceno de cabeça, indica querer saber. Eles esclarecem. "Sr. Waters, nós somos os Rollin' Stones".
É um take muito curto, mas mesmo assim um dos mais memoráveis do filme Cadillac Records, obra lançada no ano passado com a difícil (mas cumprida) missão de retratar os primórdios do rock em meio ao auge do blues. Nessa cena, é como se a vida colocasse o passado e o futuro frente a frente nas míticas figuras do insuperável bluesman Muddy Waters e dos jovens músicos ingleses liderados por Mick Jagger e Keith Richards, constrastando seus caminhos e deixando com a mesma tonalidade o sentimento que levou tanto um quanto os outros ao estrelato. Talento explosivo, paixão incontida, ousadia inconsequente e certa dose de loucura que permeou também o caminho de outros personagens decisivos, entre eles Little Walter, Howlin' Wolf, Willie Dixon, Etta James e o próprio Chuck Berry, que aparece no filme interpretado pelo rapper Mos Def e não deixa dúvidas quanto à paternidade do rock'n'roll.
Afinal, o rock não pode ter começado em outro lugar que não no blues. Assim como quase todos os principais gêneros da história da música, o rock'n'roll é legítimo dos negros e seu incontestável dom para conduzir instrumentos e rasgar a voz nas notas mais inesperadas, uma espécie de fuga e talvez exorcismo de todo um passado condenado pela discriminação.
Saído dos campos de algodão do Mississipi com destino a Chicago em meados dos anos 1940, Muddy Waters foi apenas o primeiro de muitos artistas que alcançaram sucesso e fizeram do blues um ritmo respeitado por toda e qualquer pessoa. O mesmo aconteceria, 15 anos depois, com Berry e sua estranha mistura de black music com country percebida em canções como Come On, Nadine, Maybellene e outras faixas também presentes na excelente trilha sonora de Cadillac Records.
Assim intitulado pelo costume que os artistas da Chess Records tinham de reverter seus lucros em automóveis de luxo, o filme escrito e dirigido por Darnell Martin gira em torno do executivo Leonard Chess, um dos primeiros a abrir seu estúdio para artistas negros. Vivido por Adrien Brody, de O pianista, o personagem divide a cena com verdadeiros gênios da música, pessoas que Chess adotou não apenas para o seu elenco de músicos, mas como parte de sua família. Em meio a esse conturbado cenário que costumava envolver sexo, violência, vício e racismo, o filme é sincero em mostrar as fragilidades de cada personagem, tanto de fracassos como Little Walter - incrível gaitista que teve sua carreira condenada pelo alcoolismo - como de divas como Etta James, impecavelmente interpretada pela cantora Beyoncé.
Precioso retrato cinematográfico de uma época ainda pouco explorada, Cadillac Records torna-se emocionante quando, perto do fim, demonstra de maneira muito simples - ao som do blues I'm a Man na versão dos rappers Q-Tip e Al Kapone - como a música influenciou na libertação de talentos até então anônimos e fez com que todo um universo de possibilidades se abrisse para as próximas gerações. Se o caminho natural do blues foi o rock'n'roll, do rock originou-se quase tudo que veio depois, todos frutos daquele movimento inicial de coragem e transgressão encabeçado por poucos, mas grandes homens.
É o Dia Mundial do Rock, mas também do blues, do jazz, da música eletrônica, do punk, do hip hop... pois a boa música é uma só.

Por que todo dia é dia de rock

O Dia Mundial do Rock é só no dia 13, mas a Cultor Produtora transforma o sábado em Dia de Rock com a festa Long Live Rock'n'Roll e o show das bandas Reino Elétron e Variantes

Velha tradição de quem valoriza o rock desde que começou sua trajetória, a Cultor Produtora Cultural promove neste sábado (10) a festa Long Live Rock'n'Roll em comemoração ao Dia Mundial do Rock. Celebrada no resto do planeta somente na terça-feira, 13 de julho, em Passo Fundo a data será antecipada para este sábado, quando acontece no Velvet Bar os shows das bandas Reino Elétron e Variantes. O antes e o depois ficam por conta do bom gosto da equipe do site Os Armênios.

Variando
Depois de arrasar o velho oeste catarinense com suas performances explosivas, agora a Variantes tem apavorado também a cidade de Porto Alegre. Formada em Chapecó, a banda radicou-se na capital gaúcha para a gravação do seu segundo disco, no estúdio da Marquise 51. Com cinco anos de atividades completados em março e uma carreira mais do que sólida no circuito independente, divulgada por meio do primeiro álbum de alta qualidade e repertório extremamente atraente, o powertrio formado por André Nicaretta, William e Gustavo Faccio prepara-se para lançar o segundo trabalho, intitulado Com prazer. Integrado por dez faixas, sendo uma instrumental, o disco tem lançamento previsto para meados de setembro. Enquanto isso, o trio faz um pré-lançamento aqui em Passo Fundo.

O reino
A abertura do show dos Variantes fica a cargo da passo-fundense Reino Elétron. Com influências que vão do punk ao eletrônico, passando pelo jazz, e claro, inspirando-se principalmente nos grandes nomes do rock, a banda surgiu em julho de 2009 e já aponta como revelação local por suas músicas modernas e letras inteligentes. Agora a Reino trabalha nas composições próprias para a gravação de seu primeiro single. Nesta noite de comemorações, a banda formada por Elias Duarte, Leonardo Marmitt, Carlos Bolacha, Bruno Phillipsen e Helio Ribeiro promete algumas surpresas no repertório e garante um show animado com alguns dos maiores clássicos do rock'n'roll.

Serviço
Long Live Rock'n'roll com as bandas Reino Elétron e Variantes, discotecagem d'Os Armênios
Data: sábado, 10 de julho
Local: Velvet Bar
Horário: a partir das 22h
Ingressos: antecipados a R$ 15 na Long Play, Fiore e Velvet Bar; na hora R$ 20
Realização: Cultor Produtora Cultural

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