Sobre o novo éthos empresarial

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Por Nadir Antonio Pichler
Professor de filosofia da UPF


No final do século passado, muitos filósofos e pensadores anunciavam que o século XXI seria o século da ética. No mundo empresarial, esse novo éthos, a "ética dos negócios" (business ethics), procura conciliar, teoricamente, ética e lucro, valores humanos e negócios, dever-ser e ser, axiologia e fato.

A instituição empresa está recebendo, dentre todas as instituições, cada vez mais credibilidade nos últimos anos. Parece que todas as atividades humanas, direta ou indiretamente, inclusive a religiosa, estão vinculadas ao mundo econômico e tecnológico. O capitalismo globalizado, sobretudo o econômico e comercial, por meio da Organização Mundial do Comércio, do Banco Mundial, das bolsas de valores, Grupo dos Sete, o sete países mais ricos do mundo, dentre outros, está se inserindo e fortalecendo, mesmo com crises, como um sistema hegemônico. A busca pelo lucro, pelo dinheiro, o bem supremo atual, parece ser, em detrimento da exploração exacerbada dos recursos naturais do planeta e suas consequências, o único caminho viável para o crescimento e desenvolvimento econômico, social e cultural e o bem estar da humanidade.

A idolatria do mercado, assegurada por meio do marketing e da propaganda, apresenta o consumo como o bem supremo. É interessante observar que a felicidade, desde a modernidade, parece centrar-se cada vez mais no mundo das coisas e voltar-se para a filosofia do mercado econômico globalizado, engendrado principalmente pela mídia, como essencialmente restrita ao ato de consumir. E quanto mais o homem consome, de modo especial os produtos supérfluos, nessa festa do consumo, mais angustiado ele se torna. Aliado a esse fator, o homem, na contemporaneidade, ainda está mergulhado no ativismo, na instabilidade e na mutabilidade da busca da qualificação profissional, na secularização, isto é, na ausência de valores sólidos que deem sentido à vida, entre outros.

Enfim, o homem atual, desorientado e inseguro, em todas as dimensões da vida humana, está diante do vazio existencial, com sua subjetividade fragmentada. As antigas certezas culturais e morais jazeram por terra. Os valores que sustentavam a civilização ocidental, e já inclusive a oriental, estão se dissolvendo com o avanço da razão instrumental ou era da cibernética, segundo a análise de filósofos como Heidegger, Gadamer, Habermas, Cortina, entre outros
Por isso, a ética geral e a ética empresarial têm, dentre outras, como função imprescindível, refletir sobre os efeitos das ações humanas e apontar caminhos para procurar reequilibrar, gradativamente, a harmonia entre o homem e a natureza e desenvolver relações de confiança entre a empresa e a sociedade. Desde o advento da técnica, na modernidade, que, inclusive suprimiu o mundo do éthos, dos valores morais, há uma relação de dominação instaurada do homo tecnologicus sobre a natureza e sobre si mesmo.

Assim as empresas, consideradas o principal pilar da atividade econômica moderna, são convidadas a adotarem uma racionalidade moral em seus comportamentos. Cabe a elas também se engajarem pela busca de uma ética com valores universais, como a solidariedade, a igualdade, o respeito e a autonomia entre empregados e empregadores, a responsabilidade social e ecológica, e acima de tudo, a busca pela confiança entre os stakeholders.

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