A música do sul real

Composta por Carlinhos Tabajara, João Vicente Ribas e amigos, SURreal Music Band se apresenta hoje no Teatro Múcio de Castro

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Segundo ON

Há duas maneiras de entender o nome escolhido para a SURreal Music Band. Uma delas, mais óbvia, chama para o surrealismo e dá impressão de mistura, novidade. A outra, formada pela expressão sur, ou sul em espanhol, mais a palavra real pode ser entendida como um reflexo do espírito da banda: sem se prender a ritmos característicos apenas do sul do Brasil, mas do sul da América Latina, produz um trabalho baseado na essência da música gaúcha, ou seja, na música do sul real.

Apesar de ter poucas apresentações no currículo - seus integrantes se espalharam pelo mundo e o encontro é cada vez mais raro - a SURreal Music Band é um dos grupos mais interessantes que Passo Fundo já viu surgir. Criada há cerca de dois anos, como resultado de várias parcerias em shows e eventos como a Mostra Grátis de Música entre os anos de 2000 e 2004, a banda é também uma conjunção de projetos artísticos individuais que se somam em um produto final bem acabado, revelando qualidades musicais originais.

Inspirados nos grandes nomes da Música Popular Brasileira e na música de artistas do Rio Grande do Sul identificados como MPG, ou Música Popular Gaúcha, os artistas Carlinhos Tabajara e João Vicente Ribas interpretam composições próprias, utilizando ritmos como o samba e o chamamé. Também executam versões de temas de Nei Lisboa, Caetano Veloso, Vitor Ramil, Lenine, Zeca Baleiro, entre outros. Está previsto ainda para o repertório as canções próprias Agora vamos pra casa, A um passo de qualquer lugar, Dom de vir e Ontem, segunda colocada na etapa local do Festival de Música de Porto Alegre de 1999. O show que acontece nesta terça-feira tem participações especiais de diversos músicos, entre eles a percussionista Sabrina Antunes, tem apoio cultural da Sedec, Secretaria de Desporto e Cultura.

Serviço
Show da SURreal Music Band
Data: terça-feira, 20 de julho
Local: Teatro Municipal Múcio de Castro
Horário: 20h
Valor: R$ 20 (estudantes e classe artística têm 50% de desconto)

O porquê do SURreal

"O ano era 2005, tarde chuvosa e não muito fria. Primeiro semestre como aluno no Mestrado em História da Universidade de Passo Fundo. A professora Dra. Ana Luiza Reckziegel comentava sobre as diferentes abordagens teóricas sobre a ideia de região. Abriu-se o debate e depois de um determinado tempo entre 'globalizações', 'regionalizações', identidades e afins eu estava diante daquilo que, embora não respondendo minhas perguntas, causava certo estranhamento.
Olho pela janela após ter escutado a palavra sul ser proferida por algum colega; o céu, antes nublado, apresentava uma coloração meio avermelhada. Pensei, então, no que era ou não real, e a música, algo constante em minhas preferências e convívios, me trouxe a resposta capaz de preencher a lacuna para a arte que então estava criando. Lembrei do sul, mas musicalmente em minha cabeça ele soava como sur. Foi fácil. Ponho a tocar Richard Galliano, sua versão apenas instrumental, e me remetia ao original, e mentalmente eu cantava: 'Vuelvo al Sur, como se vuelve siempre al amor, vuelvo a vos, con mi deseo, con mi temor. Llevo el Sur, como un destino del corazon, soy del Sur, como los aires del bandoneon. Sueño el Sur, inmensa luna, cielo al reves, busco el Sur, el tiempo abierto, y su despues'. Acho que assim estava configurada a expressão do que pra mim, naquela época, representava e estava o sul. Era um sul criado na música do argentino Astor Piazzolla, cantada pelo também argentino Roberto Goyeneche.
A conexão, os pontos eram ligados mais uma vez, se estabelecendo numa forma plural, regional e global ao mesmo tempo. A provocação e estranhamento proveniente de um debate num espaço acadêmico do interior do Rio Grande do Sul, a música interpretada por acordeonista franco-italiano - originalmente criada e executada por argentinos -, acabou me gerando a ideia que desembocou no SUR REAL. Agora, contente fico ao ver que a ideia se faz presente na proposta sonoro-estética de uma banda SURreal. Eis a união, pode-se dizer, do global, do regional e do brasileiro. Jazz, MPB e influências diversas. As artes se comunicam." Cleber Nelson Dalbosco - publicitário e criador da peça gráfica que inspirou o nome do grupo

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