A poesia de um amor interrompido

Baseado nos últimos anos de vida de um dos mais influentes poetas britânicos, Brilho de uma paixão estreia em Passo Fundo trazendo ao público a história de amor entre John Keats e a jovem Fanny Brawne

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Segundo ON

"Pode a morte ser um sono quando a vida é só um sonho." Saberia de sua morte precoce o poeta John Keats quando escreveu estes versos? Mais que isso: saberia da vida de sonho que teria por alguns anos, os últimos, ao encontrar o amor verdadeiro na figura da jovem Fanny Brawne? Se fosse apenas um conto de ficção, talvez o novo filme da premiada diretora Jane Campion soasse um pouco melodramático e quase repetitivo. Mas não é esse o caso. Pois Brilho de uma paixão trata-se da história real de um dos poetas britânicos mais influentes de todos os tempos, morto aos 25 anos vitimado pela tuberculose.

Passado em meados do século 19, o filme apresenta o poeta na pele do ator Ben Whishaw, que divide a maioria das cenas com a elogiada atriz Abbie Cornish, interpretando aquela que protagoniza com o escritor uma das histórias de amor mais bonitas de que já se ouviu falar. Por toda essa carga de romance, seria fácil cair em clichês, mas Campion é habilidosa em evitar tais armadilhas e acaba por transformar a trama em uma elegia ao amor e, principalmente, à poesia. Isso porque obras inteiras são recitadas em cena, fazendo um trabalho voluntário de estímulo e valorização da poesia, raridade no cinema ou em qualquer outro local hoje em dia.

Ao mostrar com delicadeza a relação de duas almas gêmeas à frente de seu tempo, felizes enquanto puderam, a diretora capta um pouco do que pensava Keats sobre a poesia. "Um poema deve ser compreendido pelos sentidos". Sendo assim, o filme aproveita-se da excelente fotografia criada por Greig Fraser e da trilha sonora minimalista de Mark Bradshaw para traduzir a beleza verbal da obra do poeta, ao mesmo tempo em que destaca a ousadia de Fanny, mostrando-a além de uma simples musa inspiradora. Focada em sua paixão pela costura, na verdade a personagem se trata de uma espécie de estilista sufocada pela sociedade conservadora da época. Além disso, Keats está em busca de uma companheira que não apenas inspire seus poemas, mas também os leia, discuta e compreenda, papel que aos poucos Fanny é capaz de assumir.

Mesmo com o pouco tempo que teve para sentir a plenitude de sua existência, John Keats deixou obras memoráveis para posteridade, alcançando uma fama que com certeza nunca pensou ser possível em vida. Por meio das cartas e poemas, destinadas para o irmão e sua amada, e tomando como base a biografia escrita por Andrew Motion, a diretora Jane Campion conseguiu capturar este breve momento da vida do jovem, um momento que ficou eternizado através de seus poemas, como o famoso Bright Star, que inspira o título do filme. Com uma apresentação dos créditos finais no mínimo inovadora, a dica para quem assistir ao longa em Passo Fundo é não deixar o cinema assim que as luzes se acenderem.

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