Em cartaz em Passo Fundo neste domingo, espetáculo Tudo que eu queria te dizer transforma em teatro as cartas fictícias de Martha Medeiros. Em entrevista ao Segundo, a atriz Ana Beatriz Nogueira fala da carreira na televisão, no cinema e no teatro, da adaptação do livro para os palcos e da satisfação de trabalhar com o diretor argentino Victor Garcia Peralta
Segundo ON
Poucas coisas são tão reveladoras quanto uma carta. Nada pode ser mais pessoal, sensível ou verdadeiro do que uma declaração escrita de próprio punho em uma folha de papel escolhida minuciosamente, colocada dentro de um envelope comprado de última hora, já que os que se acumulavam no fundo da gaveta da cômoda já não estão mais lá. Os detalhes, aqui, são determinantes: a caligrafia do autor, o tipo de papel, o cheiro do envelope, o destinatário, o remetente, a palavra escolhida para encerrar, pouco antes da data (também decisiva), a tal carta. Adeus, até logo, com afeto, com amor. O trajeto que faz de um endereço a outro, as paisagens que absorve, a demora amargada por quem espera ou a surpresa daquele que não esperava isso jamais. Pois poucas coisas são mais reveladoras que uma carta.
Baseado na obra homônima da autora Martha Medeiros, o espetáculo Tudo que eu queria te dizer se aproveita de uma série de cartas fictícias para traduzir no palco o poder dessa prática já obsoleta mas, por isso mesmo, cada vez mais fascinante. Em turnê pelo Rio Grande do Sul através do projeto Arte Sesc - Cultura por toda parte, a peça passa por Passo Fundo neste dia 15, trazendo a consagrada atriz Ana Beatriz Nogueira, conhecida pelo público por seus papéis em novelas da Rede Globo. No palco a atriz é comandada pelo diretor argentino Victor Garcia Peralta.
Na trama, os personagens têm afinidade por se encontrarem na mesma situação: vivenciam uma virada de vida em que resolvem colocar as cartas na mesa - literalmente. Assim, na forma de cartas, os atores revelam com delicadeza os dramas vividos pelos personagens, como a amante que escreve à mulher traída, a filha que relata a emoção de ser mãe à avô ausente, o jovem motorista que escreve à mãe do amigo morto num acidente de automóvel ou a viúva saudosa que se dirige ao marido morto. Mais informações podem ser obtidas no Sesc pelo telefone (54) 3311 9973 ou através do site www.sesc-rs.com.br/artesesc. Abaixo, confira a entrevista concedida por Ana Beatriz Nogueira ao Segundo.
Segundo - Além do teatro e da televisão, você tem uma carreira consistente no cinema, tendo inclusive ganhado o Urso de Prata no Festival de Berlim de 1987 pelo filme Vera, quando tinha apenas 20 anos. Como isso influenciou na sua trajetória e qual a sua relação com a sétima arte nos dias de hoje? Ana Nogueira - O filme Vera me apresentou como atriz profissional, me apresentou ao mercado de trabalho. Foi uma época de comemorações e alegria. A sétima arte continua sendo a maior diversão! (falando como público). Como atriz, tenho feito muita televisão e teatro. Do cinema ando afastada, mas nada que uma boa personagem não possa resolver.
Segundo - A peça Tudo que eu queria te dizer é baseada na obra da escritora Martha Medeiros. Qual a sua opinião sobre o livro? Como é a sua relação pessoal com a literatura de um modo geral?
Ana - A peça não é somente baseada no livro, as cartas escolhidas para a peça estão em cena na íntegra. Em apenas uma carta fizemos adaptações, mas as palavras são todas da Martha Medeiros. O livro dela é uma maravilha! Considero a literatura uma bela companheira para todas as horas.
Segundo - O fio do livro são cartas com diferentes remetentes e destinatários. Como foi transpor isso para o palco? Você tem ou já teve o hábito de escrever cartas?
Ana - Interpretar cartas? E que cartas! Maravilhosas! É um terreno novo para mim, novo e adorável, falo com o público sobre isso. Estamos dando voz e corpo aos remetentes criados pela Martha. Sobre o hábito, eu escrevia bastante, mas com a internet a coisa mudou. Ainda escrevo uma coisinha aqui e outra ali, mas sem destinatário.
Segundo - O argentino Victor Garcia Peralta é hoje um dos diretores de teatro mais atuantes do país. Como foi trabalhar com ele?
Ana - Melhor que a Disney! Uma alegria. Trabalhar com o Victor é como "tirar o palitinho da sorte".
Segundo - Naturalmente, o grande público conhece o seu trabalho pela televisão. Como atores como você, que também tem carreira no cinema e no teatro, lidam com isso? É difícil mostrar esse outro lado e conquistar aquele público acostumado apenas às novelas?
Ana - É tranquilo. Eu acho que toda noite de espetáculo é preciso conquistar o público que foi te assistir, quer ele conheça o ator de outros veículos ou não.
Serviço
Tudo que eu queria te dizer, com Ana Beatriz Nogueira
Data: 15 de agosto
Local: Teatro do Sesc Passo Fundo
Horário: 20h
Ingressos: R$ 5 para comerciários com cartão Sesc, R$ 25 para estudantes e terceira idade, R$ 40 para empresários e R$ 50 para o público em geral