Segundo ON
Nas fotos mais reproduzidas daquele tempo, é ele quem sempre aparece. Em todos os livros de história, nas linhas dedicadas ao Maio de 68, seu nome aparece também - competindo apenas, talvez, com o político (e seu arquiinimigo) Charles De Gaulle. Na noite de ontem, ele apareceu em Porto Alegre: Daniel Cohn-Bendit, jovem que se tornou símbolo da revolução parisiense de 1968 e hoje atua como membro do parlamento europeu, em participação no projeto Fronteiras do Pensamento Braskem 2010.
Se ele sobreviveu à revolução, a pergunta é: a revolução sobreviveu? Com o tema A mutação das utopias, Cohn-Bendit falou ao público nesta segunda-feira, no Salão de Atos da UFRGS. "Não restou nada de 68", sentenciou o político. Conhecido por liderar o movimento estudantil que se iniciou nos corredores de Sorbonne e dominou as ruas de Paris, promovendo uma greve geral que veio a ser um dos maiores levantes da história do último século - culminando na provisória queda do então presidente De Gaulle -, o deputado também é autor de influentes obras, entre elas O novo livro dos Verdes, O Grande Bazar, Da ecologia à autonomia e Nós que amávamos tanto a revolução.
Ao entrar no assunto que o trouxe ao evento, foi paradoxal. "Quando as utopias nos impedem de ver a realidade, elas são politicamente perigosas. Mas a política sem essência utópica é estéril". Na ocasião, aproveitou para falar da delicada questão ambiental que o mundo vive hoje. "A transformação ecológica do capitalismo é necessária. Como fazê-lo de forma democrática nos próximos anos? Esta é minha utopia", colocou. Sobre a política brasileira, deixou o aviso: "a esquerda no Brasil está cometendo os mesmos erros que a europeia". Entre as próximas atrações do Fronteiras do Pensamento, estão Eduardo Giannetti, Daniel Dennett, Carlos Ginzburg e o escritor peruano Mario Vargas Llosa.