400 contra 1, a West Side Story brasileira

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Com Daniel de Oliveira e Daniela Escobar, filme estreia em Passo Fundo retratando o surgimento do crime organizado no Brasil dos anos 1970. Mas, saindo da tradição do cinema nacional, glamouriza os bandidos como se costuma fazer em Hollywood

Segundo ON

Ninguém nunca torceu para que Bonnie e Clyde fossem pegos, e isso é fato. Nos grandes sucessos de Hollywood, difícil não se deparar com um anti-herói adorável, duplo espião, ladrão de bancos, assassino de aluguel, qualquer coisa, sei lá. É como se, acima da linha que divide os hemisférios, a ideia de bem e mal se modificasse a ponto de permitir certos disparates, como a romantização e glamourização do personagem bandido - jogando o espectador, inevitavelmente, a seu favor. Que mal há nisso? Respondam aqueles que pensarem em condenar 400 contra 1 por esses motivos. Longa brasileiro com estreia neste fim de semana, o filme vai na contramão da maioria das produções nacionais, que tentam documentar a realidade com poucos exercícios de ficção, e extrapola todas as possibilidades de bons estereótipos do cinema fazendo dos primórdios do crime organizado uma espécie de West Side Story carioca.

Embalado pela febre do soul e da black music dos anos 1970, 400 contra 1 reúne os melhores ingredientes para se contar uma boa história: um personagem fascinante e poderoso, de personalidade forte e por vezes falha, que apresente os fatos com narração em off. Um bom par para esse personagem (no caso, uma Daniela Escobar como nunca se viu, loira e atraente, destemida e com certo ar insano no olhar), um punhado de coadjuvantes com motivo para se encontrarem ali, um pouco de exagero, tensão, ação, tiroteios, e o melhor, a sombra da realidade por trás de tudo isso, para impressionar ainda mais o público.

Sem o ranço do julgamento e o clima pesado visto em outros filmes nacionais, o primeiro longa de Caco Souza se baseia nas memórias de William da Silva Lima, o Professor. Interpretado por Daniel de Oliveira, ele é considerado o articulador das bases do Comando Vermelho. Passado entre 1971 e 1980, o filme aproveita um período fundamental da história criminal do país, pois é nessa época que os futuros CVs dividem espaço com presos políticos no presídio de Ilha Grande, durante a ditadura, e tomam contato com literatura subversiva e técnicas de guerrilha. Isso somado à sua convivência com outros criminosos e a lei do mais forte transformam William em um bandido ambicioso que se tornará a cabeça pensante de uma organização que protagonizou grandes assaltos a bancos e desnorteou a polícia carioca como poucas outras vezes se viu.

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