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Marina de Campos*

    Nos momentos mais decisivos da história, a figura dele esteve lá. Em 1917, quando da Revolução Russa, foi incorporado por Yevno Azef. Depois, na Insurreição Anarquista de 1918, o major Jorge Elias Ajus fez impecavelmente o papel. Na década de 1960, apareceu simultaneamente em vários lugares, nos Estados Unidos, entre os Panteras Negras e a Ku Klux Klan, e mesmo em solo brasileiro, na identidade do famoso Cabo Anselmo. Pago pela CIA, para muitos ele foi o estopim do golpe de 1964. Agent provocateur em francês, um agente provocador nada mais é do que um indivíduo requisitado por uma entidade ou pela polícia para provocar em outra pessoa ou grupo a prática de um delito, induzindo atitudes violentas que suscitem a repressão ou desprestígio da organização ou causa que ele defende. Às vezes, destacam os livros, é utilizado para se referir a alguém que pratica tais atos de provocação ainda que não tenha qualquer relação com a polícia ou qualquer outra organização.

    Desde o momento em que nasceu, Tarso foi tomado pelo espírito único e transmutável do agente provocador. Como uma entidade que paira sobre a história da humanidade esperando a hora de encarnar, o agente provocador existe para incomodar, abalar, desestabilizar - e no caso dele não se concentrou em um só caso, mas se espalhou pela própria vida e seus arredores derrubando o que quer que aparecesse pela frente. Infiltrado bem no âmago da nata intelectual brasileira de seu tempo, às vezes parece ter feito pouca coisa de concreto além de grandes amizades e algumas boas edições de jornal. Fez mais. Como exímio agent provocateur, deixou-se ficar como figura encoberta, secreta, alimentando discretamente as labaredas do grande incêndio que arquitetou.
*a partir de entrevista realizada por Claudio Schleder na revista Interview, em 1978

“Cresci na mesma cidade que Tarso de Castro, Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e esta vivência interiorana gaúcha me permite entender mais facilmente o espírito dele. Colégio marista, missa das 10 aos domingos, as nossas gurias na praça, os churrascos no Magro, os porres federais, as “chinas” na zona aos 13 anos de idade, tudo acontecendo muito cedo. Lá existem os mesmos dois jornais, O Nacional, de Múcio de Castro, pai de Tarso, e o Diário da Manhã, feroz concorrente. O espírito de Passo Fundo é o espírito de Tarso. Eu acho que a porralouquice dele nada mais é do que o encontro dessas forças da terra com o talento e a coragem de um jornalista que tem no deboche, na provocação e na irreverência seus traços principais. Ele é único por aqui. Liguei o gravador às 3 horas da tarde de terça-feira, 7 de novembro, no cantinho da última sala do Rodeio, o templo em São Paulo. Almoçamos (saladas, lombo a milaneza, rice and beans), e ele que é o maior consumidor de doses de vodca per capita do país tomou só duas, rimos muito, nunca falamos em off, muitos apartes dele, do tipo “não posso deixar agora de registrar o seguinte...” Acho que foi tudo o que eu queria. People is not asking anymore: What’s the matter with you boy?” Claudio Schleder

ESTUDANTE

Claudio – Tá legal! Eu queria saber como é que foi teu primeiro contato com o Rio de Janeiro? (com que idade...)
Tarso – O negócio do Rio começou pelo seguinte, eu ia a congressos de estudantes e realmente, fui estudante profissional. E disso me orgulho.
Claudio – Fazia greve, essas coisas?
Tarso – É isso aí, deitava em frente aos grandes e me divertia.
Claudio – Mas chegou a ser presidente de alguma coisa?
Tarso – Não. Eu era o que se chama de agente provocador. Por exemplo, o que eu mais gostava de fazer e ainda gosto, é o seguinte: quando um cara estava lá na frente defendendo uma tese imbatível eu perguntava e dizia: “Ah, cara, tu não é de nada, ontem eu comi tua namorada” (risos). Quer dizer, podia ser mentira, mas o cara saía da tribuna puto. E a coisa sempre acabava em porrada, o cara abandonava a tese e a gente acabava vencendo. Isso era divertido. É dessa época que vem o nojo que eu sinto por um senhor chamado Carlos Frederico Werneck Lacerda, que era um canalha e continua sendo depois da morte.
Claudio – E por que você tem nojo dele?
Tarso – Porque a grande repressão sempre foi comandada por ele.

EXPULSO
Claudio – Escuta, Tarso, você saiu de Passo Fundo com que idade?
Tarso – 13 anos. Fui pra Porto Alegre e, com 14 anos, já estava trabalhando. Quando era criança aprendi linotipia, revisão, distribuição em casa. Se não desse para eu ser redator eu seria linotipista, porque naquele tempo existia o linotipista.
Claudio – Quer dizer que você se divertia fazendo jornal?
Tarso – É. Quando eu tinha uns 12 anos a gente começou a brigar na política estudantil e começou a fazer uma coluna chamada Jornal do Estudante. Essa coluna foi crescendo tanto que virou uma página de jornal, e a coluna teve um final um pouco violento. Porque um dia eu escrevi 15 laudas provando que a missa, na semana do estudante, era uma coisa institucional (risos). O que me valeu o rompimento com o bispo e ameaça, porque meu pai era deputado... Quer dizer, eu sempre criei o caos na família (mudando de assunto). Desliga essa porra (o gravador) pra gente poder comer!

POLÍTICA
Tarso – (depois da pausa) Vocês estão querendo me entrevistar mesmo?
Claudio – A gente vai tirar essa entrevista na marra. (risos) Vamos batendo papo que você vai-se entusiasmando.
Tarso – Então pergunte objetivamente.
Claudio - Seu pai era deputado pelo PTB, não é? Então nessa época você já tinha contato com os políticos Brizola, Jango, Ferrari...?
Tarso - ...Pasqualini. Eu sempre vivi no meio da política. Depois houve uma cisão, meu pai ficou com o Ferrari, e eu com o Brizola, com quem eu continuo até hoje, aliás.
Claudio – Então, quer dizer que você se formou em política e já começou sendo PTB. Naquela época eu morava em Passo Fundo e lembro que o PTB era a maior loucura. Legiões, caminhões cheios de gente, quando o Ferrari chegava em Passo Fundo. Você lembra?
Tarso – Era uma maravilha. Era muito divertido, porque eu lembro que naquela época – tenho 37 anos, nasci em 1941 –
houve uma invasão de populismo nesse país. E, um dos comandantes desse populismo era a figura do Sr. Ademar de Barros. E, eu lembro que por volta de 54, 55, houve a campanha do Juscelino, Ademar, não-sei-quê... E eu não sei por que razões, virei ademarista. É que eu achava bonita a propaganda do Ademar, “rouba mas faz”, “para frente e para o alto”, “Desta vez vamos”, aquelas coisas. O Getúlio era pró. Inclusive o último encontro político dele – antes do suicídio – foi com o Juscelino em Minas. O Ademar insistia em ser eleito, e nós, iludidos com o mito Getúlio, que era ditador, mas com uma grande contribuição na formação política desse país; e o Ademar nos fascinava. Um dia Ademar chegou a Passo Fundo e meu pai, sabendo que eu era fã (risos) dele, me apresentou ao homem. Quando eu apertei a mão do Ademar, era uma mão suada e sem a menor firmeza. Aí eu fiquei com nojo do Ademar e virei juscelinista na mesma hora.

RIO
Claudio – E, aí te deu comichão de Rio de Janeiro?
Tarso – Foi o seguinte, eu era estudante profissional, depois veio a legalidade com o Jango em 61. Daí, eu fui para Brasília assistir a posse do Jango, então conheci pessoas como Sérgio Magalhães, José Bonifácio... Que me formaram em política nacional. Quando cheguei no Rio, fiquei e, como não tinha dinheiro, morava no aeroporto, deixava a mala no porta-volume, tomava banho no próprio aeroporto e dormia no banco do aeroporto. Aí, fiz um teste no Jornal do Brasil e passei.
Claudio – E foi esse seu primeiro emprego no Rio?
Tarso – É. E continuei na Última Hora, que era o emprego que eu tinha no sul.
Claudio – A Última Hora era do Samuel Wainer, não?
Tarso – É. Na Última Hora eu entrei em 59.
Claudio – E você fazia secretaria de redação?
Tarso – Exatamente. E foi lá que eu conheci o Samuel.
Claudio – E você acha que o Samuel te ensinou alguma coisa nessa época?
Tarso – Samuel foi uma das pessoas que mais me ensinou coisas. Aí, na Última Hora eu fazia economia e finanças. Mas como essa coluna sempre é uma mentira, eu fazia análises absurdas, e tudo bem. (risos) Além disso eu era copy-desk do Jornal do Brasil e da Tribuna da Imprensa. Eu fazia copy-desk, e tinha um rapaz, que morreu, chamado... ele já morreu, tudo bem. Então, ele fazia uma coluna diária e eu também fazia a coluna dele.
Claudio – Coluna de quê?
Tarso – De política, de análise política. Ele mentia feito um louco e, então, foi que eu descobri que a maioria das análises jornalísticas desse país são mentiras absurdas que qualquer analfabeto escreve. A prova está aí: Tão Gomes Pinto, Adilson de Barros, que inclusive é agente do SNI, covarde e vigarista... E assim por diante. Quer dizer, é só ser medíocre nesse país que dá certo.

PAUSA

Claudio – Você quer fazer uma pausa?
Tarso – Quero.
Claudio – É, porque teu prato tá uma delícia. (Pausa para a delícia do Tarso)

COLUNISTA
Tarso – Hoje coluna social não é mais “coluna social”, no mundo inteiro. É claro que só no Brasil existem tipos de vigaristas como Giba Um.
Claudio - Por que você acha que ele é um vigarista?
Tarso – Porque ele faz a coluna de graça se for o caso, para manter a agência de divulgação. Quer dizer, ele é um lúmpen do jornalismo. Um analfabeto... safado e está lá, na Última Hora, que é um jornal que vende quinhentos exemplares por dia. O Giba Um é um cara que não paga contas, porque no Brasil colunista virou aquele que não paga contas. Quer dizer, as pessoas exploram a vaidade do brasileiro e não sei por quê. Você veja, é só ser uma pessoa inútil pra ser capa de revista no Brasil. (risos)

MILLÔR
Claudio – Você também tinha falado do Helio Fernandes.
Tarso – O Helio Fernandes é um cara que pode resistir a tudo, menos uma coisa. Os salários da empresa dele estavam atrasados dois anos, e a casa dele é riquíssima. Tem uma lenda no Rio – e eu conheço bem a palavra lenda – que diz o seguinte: na época da COFAP – que hoje é SUNAB – ele publicava assim: “nunca houve tanto escândalo na COFAP. Amanhã darei os nomes”. Dizem que no dia seguinte chovia dinheiro. (risos) Isto é uma lenda, mas dá um retrato de quem é o Helio. Ele é um mentiroso, e tem aquele irmão, o Millôr, que falava pra ele: “você é um ladrão”. Agora o Millôr, depois daquela prisão da gente no Pasquim, nós descobrimos que ele não tinha sido importunado pela polícia porque ele tinha feito um acordo. O Millôr é um mau-caráter, copiador de piadas do exterior, é a excrecência do ser humano, um cara que não tem a mínima dignidade.
Claudio – Uma vez uma leitora escreveu pra Veja perguntando como é que ele se inspirava toda semana pra criar tanta coisa.
Tarso – O Millôr nunca teve dignidade – e eu gostaria que vocês colocassem isso, apesar de saber que vocês vão cortar muita coisa – é safado, machista... É um homem que odeia as mulheres e esse ódio é facilmente explicado pelo seu homossexualismo nunca revelado. Esse cara casou-se com a filha de um senhor que tinha uma boa padaria no Rio, e ganhou um apartamento na sua lua-de-mel. Então, ele me odeia mais do que eu posso odiá-lo, porque é uma pessoa muito baixa. Aliás, eu desconfio muito de uma pessoa que, com sessenta anos, nunca tenha sido importunado pela polícia. E fazendo contestação.
Claudio – Você acha que ele é um cara criador, um cara de talento?
Tarso – É, ele tem talento. Mas é um falso Steinberg, né? Porque, você sabe, toda linha dele quem faz é o Steinberg. O Millôr é medíocre, mas com um certo talento pra imitador. É um auto-homenageante permanente, mau-caráter...

PASQUIM
Claudio – Já que nós estamos falando em Millôr, vamos chegar no Pasquim. Eu queria saber como é que nasceu o Pasquim.
Tarso – O Pasquim foi o seguinte, eu era muito amigo do Sergio Porto, por quem Millôr tinha um profundo ódio porque o Sergio era uma pessoa séria, popular, direita e informada. Então, Murilo Reis e Altair Lima fizeram sociedade com Sergio Porto e lançaram um jornal chamado Carapuça. Depois morreu o Sergio, na mesma época em que eu fazia uma coluna de humorismo na Última Hora. O humorismo foi determinado pelo golpe de 13 de dezembro, eu escrevi na minha coluna, que se chamava A Hora H, o seguinte: “Confirmado. Natal será no dia 25 de dezembro”. E daí, eu contava como era o natal e não-sei-o-quê... E, como era uma coluna política, houve aquele tumulto. Então eu passei a fazer uma coluna diária só com coisas cínicas e que teve um grande sucesso. Nessa coluna que eu fazia tinha convidado pra trabalhar comigo o Sergio Cabral, que era meu substituto. Eu fazia as notas humorísticas e ele fazia as notinhas. E o cartunista da coluna era o Jaguar.
Claudio – O Jaguar não era funcionário do Banco do Brasil nessa época?
Tarso – Era. Aí chamei os dois e falei que tinha surgido a oportunidade de fazer um semanário e encarreguei o Jaguar de falar com o Ziraldo.
Claudio – Você já conhecia o Ziraldo?
Tarso – Já. Ele tinha me convidado pra dirigir um semanário que acabou não dando em nada. Era um semanário todo idealista, aonde os humoristas não conseguiam se acertar. E aí que está o valor do Pasquim, quer dizer, quando eu assumi o Pasquim fui um pouco ditador porque o pessoal tinha que obedecer. E aí, bolei fazer entrevistas com perguntas e respostas. Todo mundo foi contra: “pergunta e resposta não dá certo”. Deu. Tanto que hoje todo mundo está fazendo. Como nós agora. Influenciado pelo nome de uma revista que eu recebia, Pequim, eu pensei em Pasquim. Que era uma coisa que me lembrava muito as brigas que tinha em Passo Fundo, quando o Diário da Manhã chamava O Nacional de Pasquim e vice-versa. (risos) Aí, eu falei: “ah, esse é legal”. Aí, convidei pra sócio o Ziraldo, o Jaguar, o Sergio e o Claudius. Sendo que na verdade os caras queriam que eu ficasse como dono do jornal, mas eu queria fazer uma espécie de cooperativa. O Ziraldo achou que não dava certo e recusou, o Claudius ia pra Genebra e acabamos ficando eu, Sergio e Jaguar. Mas eu fiquei como diretor-presidente “ad infinitum”. No número dez, ou nove, a gente já estava com 100 mil.
Claudio – E você não tinha explicação pra isso?
Tarso – Uma coisa que funcionou muito foi quando eu comecei a empregar a palavra bicha, que ninguém citava nesse país. O resto, você sabe.
Claudio – Chegou a quantos exemplares?
Tarso – Duzentos e vinte e cinco mil.
Claudio – Você lembra em que número foi isso?
Tarso – Foi no número da entrevista do Paulo Mendes Campos. Depois baixou pra cento e oitenta quando a censura começou a comer. Houve a prisão, a briga, e hoje eles vendem trinta. É claro que não foi um jornal resultante do meu talento maravilhoso, nem do talento maravilhoso do Maciel... É que nós usamos um momento, e essa queixa que eles têm de mim, que eu era um ditador, é verdade. Mas, enquanto houve o ditador, o negócio funcionou.

PRESO
Claudio – E como é que foi esse negócio da cadeia?
Tarso – Eu fui o último a ser preso. Passei lá o natal e o ano novo. Eles assinaram um documento declarando que nunca tinham sofrido torturas morais ou físicas. E eu risquei a palavra “moral” porque ser preso pra mim é uma tortura moral. Só o Maciel não assinou o documento, mas eu fiquei sozinho na cadeia. Quando eu saí escrevi um artigo intitulado “Sou anticomunista”, que teve uma repercussão muito violenta no exército. E, aí, vieram comunicar que eu ameaçava a integridade da família deles. Nesse dia eu falei que ia embora. Eles nunca me pagaram o que me deviam, me roubaram duzentas mil ações e acabou o assunto. Aí, se uniram a eles pessoas como esse usurpador, esse elemento que comandava os empregados na greves pra receber dinheiro do Banco do Brasil. O Fernando Gasparian, e está esse negócio aí.
Claudio – Quem são os sócios do Pasquim agora?
Tarso – Não tenho nem ideia. Assim como eles não me pagaram, também não pagaram o Maciel e ainda ameaçaram-no.

CHICO BUARQUE
Claudio –
Falando em Chico, como é que vocẽ conheceu o Chico?
Tarso – O Chico eu acho que conheci toda a minha vida. É o melhor amigo que eu tenho.
Richard – Quais são as maiores qualidades do Chico pra você?
Tarso – Eu acho que a grande qualidade do Chico é que ele não precisa falar pra te ensinar as coisas. É a pessoa mais correta que eu conheci na minha vida. Uma vez o Guevara, e eu conheci muito ele porque viajamos juntos, me disse: “O meu drama é que eu sinto em mim a dor de cada latino-americano”. E, a minha impressão é que o Chico sente, o tempo inteiro, as dores de qualquer ser humano. E isso tem como resultado uma memórias coletivas que ele tem. É o cara que fez A Banda sem ter visto a banda passar... Inclusive, tem até um dado feminino na música dele. Ele sofre a dor da mulher, do homem, do mendigo... Entende? As dores do mundo estão nas músicas dele. Eu, realmente, fico aos prantos ao ver esse cara que é uma das dádivas que esse país tem.
Claudio – Você viveu com o Chico no exílio?
Tarso – Não. O Chico era nosso correspondente lá.
Claudio – Era o Caetano em Londres e o Chico em Roma.
Tarso – E o Edu Lobo em Los Angeles.
Claudio – O Tinhorão malhava os discos do Chico às vezes. Por que isso?
Tarso – O Tinhorão é uma pessoa muito covarde, ele denunciou os grevistas durante a greve dos jornalistas em 62, ele deu a lista pra direção do jornal, o Sergio Cabral é testemunha disso. E, como disse o Tom, Tinhorão é uma planta que eu tenho lá em casa e mijo sempre quando chego de madrugada. (risos) O nome dele é José Ramos, não é Tinhorão. Tinhorão gosta é de mijada. (risos)

FOLHETIM

Claudio – Bom, daí, você fez um negócio que todo mundo achou incrível e que agora está quase morrendo, que é o Folhetim da Folha de São Paulo. Como é que começou, como é que foi e como é que acabou essa transa de Folhetim?
Tarso – O Folhetim... Um dia eu cheguei pro Frias e falei que o jornal de domingo estava ruim e que podíamos fazer um semanário. Isso foi numa quarta-feira, na sexta estava pronto o jornal. Estourou, foi um sucesso e deu um trabalho filho da puta. O Folhetim acabou, segundo me contou a direção da Folha, na pessoa do sr. Otavio Frias, porque os democratas Hugo Abreu e Golbery ligaram para o jornal e pediram minha cabeça. Nessa ocasião eu estava no Uruguai, acompanhando Leonel Brizola, e não sabia que ser amigo de uma pessoa transformava você, da noite para o dia, numa pessoa incompetente.

ANALFABETO

Claudio – Você acha que o livro do Paulo Francis tem alguma coisa a ver com o Dines?
Tarso – Eu acho que tem a ver com esse grupo de jornalistas brasileiros. Eu acho que o livro tem muito o retrato da farsa, que existe a partir do fato de que os melhores do jornalismo brasileiro são muito fascinados pela sociedade brasileira. Como a sociedade brasileira não é nada, é uma sociedade de merda; aliás, eu já falei que as revistas adoram capas com pessoas inúteis. Você vê uma pessoa numa capa de revista, você pode garantir que aquela pessoa é inútil. Me diga o nome de uma pessoa útil que tenha saído na Vogue, por exemplo. Não existe! Então, o livro reflete muito os revolucionários de alcova que semearam esse país de repente. Quer dizer, aquele negócio de Helio Fernandes. E quem é Helio Fernandes? É um sabugo da sociedade. Entende? É um cara que tem casa na montanha, riquíssimo e que dá pau em quem não lhe dá atenção. Então, o livro do Francis é um bom retrato. Mas, a verdade é que grande parte dos jornalistas brasileiros é formada de analfabetos. O que tem de chutador aí não é brincadeira. Um dos dramas do Brasil é que você nunca pode confiar numa notícia de jornal, porque o cara chuta com a maior tranquilidade. Não há responsabilidade. Eu, por exemplo, compro mais de um jornal pra confirmar. Mas eu não sou juiz de ninguém e acho que deviam parar de ser os donos da verdade. Porque no Brasil toda a imprensa é dona da verdade. O sucesso do Pasquim, e do próprio Folhetim, é que as opiniões eram pessoais e não da revista. Quer dizer, você dava oportunidade ao cara de ele pensar. Agora, o pior dessa história toda é que os chamados jornais de esquerda só tem feito cagadas. Por exemplo, essa revista O Repórter foi um crime. Fizeram uma revista de merda, uma besteira! Eu acho a revista Cláudia muito melhor que O Repórter. (risos)

JORNAL
Claudio – Eu queria que você dissesse dois jornais que você gosta. Um do Rio e outro de São Paulo.
Tarso – É difícil dizer. É o que eu digo, eu não sou juiz de ninguém.
Claudio – O que é que o Tarso lê?
Tarso – Leio todos os jornais. No Rio eu leio primeiro o Jornal do Brasil.
Claudio – Como é que você lê o Jornal do Brasil? Você vê a primeira página e vai pra onde depois?
Richard – Zózimo. (risos)
Tarso – Não. Depois eu vou pra parte de política, pra ver crimes, falecimentos e expulsões. (risos) Depois eu leio a coluna do Castelo.
Claudio – O que você acha do próximo governo?
Tarso – Eu acho engraçado porque se o Figueiredo for tão louco quanto promete, vai ser divertido. (risos) Quer dizer, vai ser um governo de origens militares mas populista. É uma incógnita. Ou ele é um grande mentiroso, ou então, teremos um governo para-democrático. Agora, pela loucura que habita aquela cabeça, eu acho que pode ser uma coisa engraçada. Mas se der ao contrário, ninguém fica nesse país. (risos)

MULHER
Claudio – Outra coisa, o Tarso tem fama de conquistador de mulheres.
Tarso – É, fui eu que espalhei isso. (risos) Mas não é verdade.
Claudio – Você já foi casado?
Tarso – Fui casado cinco vezes, me dou bem com todas.
Claudio – Quem são?
Tarso – Não, isso não.
Claudio – A oficial é a Babi. Eu queria que você falasse alguma coisa sobre mulher.
Tarso – Mulher só me deu coisa boa até hoje. Por isso eu me dou muito bem com mulher. Eu sou da teoria de John Kennedy: “Não é possível você pensar sem trepar uma vez por dia”. (risos) Pra mim é tão natural como respirar. Não cobro pra ninguém, ninguém cobra e eu adoro. Só não consigo trepar com a televisão ligada. (risos)
Claudio – Você fica prestando atenção. (gargalhadas)
Tarso – Chega, pô!

Destaques
“Escrevi 15 laudas provando que a missa, na semana do estudante, era uma coisa institucional (risos)”

“Quando apertei a mão do Ademar de Barros, era uma mão suada e sem a menor firmeza. Aí fiquei com nojo e virei juscelinista na mesma hora”

“No Rio eu morava no aeroporto. Deixava a mala no porta-volume, tomava banho e dormia no banco de espera”

“Foi aí que eu descobri que a maioria das análises jornalísticas são mentiras absurdas que qualquer analfabeto escreve”

“Porque colunista no Brasil virou aquele que não paga conta. Você veja, é só ser inútil pra ser capa de revista”

“O Millôr é um mau-caráter, copiador de piadas do exterior. Um cara que não tem a mínima dignidade”

“Pensei em Pasquim, que era uma coisa que me lembrava muito as brigas que tinha em Passo Fundo, quando os jornais locais se xingavam de pasquim”

“Eu até podia ser meio ditador. Mas, enquanto houve ditador, o negócio funcionou”

“O Chico Buarque é o melhor amigo que eu tenho”

“E não sabia que ser amigo de uma pessoa transformava você, da noite para o dia, numa pessoa incompetente”

“Mulher só me deu coisa boa até hoje. Sexo pra mim é tão natural quanto respirar”

“Uma das minhas grandes alegrias é ter escolhido bons inimigos e excelentes amigos”

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