Segundo ON
Uma verdadeira história de amor nunca é morna ou constante. Necessita de momentos de drama, um quê de trágico, de obsessivo, e uma intensidade desenfreada seja para o bem ou para o mal. Não fosse isso, história de amor A Vênus das Peles não seria. Escrita por Leopoldo Sacher-Masoch em 1870, apresenta um casal de protagonistas pouco convencional: completamente apaixonados, Severim e Wanda firmam um perigoso acordo em que abrem mão da própria independência e, muitas vezes, de seu amor próprio, em um jogo de sexo, poder e submissão. No contrato, está firmado que ele dará sua liberdade, e ela, como sua dona, poderá dispor dele como bem quiser, tendo apenas uma condição - que lhe apareça em peles, especialmente quando tiver intenções cruéis.
Carregada de dilemas morais, questionamentos filosóficos e embates entre a lógica e o instinto, a história ganhou inúmeros desdobramentos ao longo dos séculos, espalhando-se por outros livros, filmes, músicas, histórias em quadrinhos e peças de teatro, uma delas a que a companhia curitibana Grupo Delírio encena hoje no Teatro do Sesc, dentro da programação do festival Conexão Sul - O teatro em cena, realizado pela Cia da Cidade até domingo. Com elenco formado por Edson Bueno e Pagu Leal - que também assina o texto -, o espetáculo é um dos mais fortes da programação por seu tema polêmico que, mesmo passado tanto tempo, ainda é tabu.
A vênus na cultura pop
Quando o psiquiatra alemão Krafft-Ebing leu A vênus das peles, encontrou em Severim as características de uma "psicopatologia" semelhante a casos por ele analisados. Depois da publicação de seu livro Psicopatologias Sexualis, Sacher-Masoch acabou entrando para a história não como um talentoso escritor, mas sim por sua perversão sexual. E este seria só o início de uma longa vida de referências para o controverso livro, que acabou servindo de inspiração para uma série de obras da cultura pop.
Uma delas, talvez a mais famosa, integra o famoso álbum Velvet Underground & Nico - com sua "capa da banana" desenhada por ninguém menos que Andy Warhol. Escrita por Lou Reed, a faixa Venus in furs é diretamente baseada na obra de Masoch, ressaltando seus aspectos sadomasoquistas e indo perfeitamente ao encontro do restante da obra da banda, permeada por assuntos chocantes que até então poucos haviam ousado transformar em música. Além das várias adaptações da história para o cinema, o nome original Venus in furs serviu também para batizar a banda que aparece em Velvet Goldmine, filme de 1998 inspirado no cenário real do glam rock.
Outro bom fruto do livro é a versão em quadrinhos da história realizada pelo italiano Crepax, famoso pela criação da personagem Valentina. Transitando pelo universo do erotismo, o autor ilustrou com maestria a conturbada história de amor e perversão, reunida no álbum Crepax: Justine, editado pela Pixel, a outras histórias semelhantes, entre elas a própria Justina, Pauline, Emanuelle e História de Ó, dos autores Pauline Reáge e Marquês de Sade.
Serviço
Festival Conexão Sul apresenta Espetáculo A vênus das peles, do Grupo Delírio
Data: Sexta-feira, 15 de outubro
Local: Teatro do Sesc Passo Fundo
Horário: 20h30
Ingressos: R$ 20, R$ 10 a meia-entrada
******* Esta peça é proibida para menores de 18 anos