2010

Como o jornalista que fez de um livro sobre história do Brasil um dos maiores best-sellers de todos os tempos vai estar na Feira do Livro de Passo Fundo lançando sua nova obra na semana que vem

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Marina de Campos

    “Às vésperas do Grito do Ipiranga, o Brasil tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. Era uma população pobre e carente de tudo. O medo de uma rebelião pairava como um pesadelo sobre a minoria branca. Os analfabetos somavam mais de 90% dos habitantes. Os ricos, embora muito ricos, eram poucos e, em sua maioria, ignorantes”. Nada assim muito diferente da realidade atual o que revela Laurentino Gomes em seu novo livro, 1822, obra que já nasceu best-seller graças ao inacreditável sucesso de 1808, lançado em 2007 pela editora Planeta.

    Em sua primeira aventura pela história do país, ele se debruçou sobre o ano em que, como explica o subtítulo, uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão fugindo em direção ao Brasil. Sem formação acadêmica para, como pensavam os mais tradicionais, poder mexer numa ciência tão cheia de controvérsias, o jornalista paranaense foi intensamente criticado e levou um bom tempo para conquistar a aprovação de alguns, mas não da maioria que realmente importa: o público.

    Alcançando imediatos recordes de vendas, o livro abriu caminho para o projeto seguinte, 1822. Publicado na metade deste ano, o título se concentra no ano da Proclamação da Independência com o mesmo teor ousado e bem-humorado que caracterizou o anterior, desta vez com uma pesquisa ainda mais profunda e a descoberta de elementos pitorescos que transformam figuras batidas em personagens fascinantes – ingrediente secreto para despertar a atenção do leitor e mostrar que a história pode, sim, ser interessante, divertida e nada parecida com aquela disciplina maçante que vigorava nas salas de aula de antigamente.

    Com palestra em Passo Fundo na próxima sexta-feira, 5 de novembro, Laurentino Gomes é a grande atração do primeiro dia da 24ª Feira do Livro de Passo Fundo, que conta com o também jornalista e historiador por direito Eduardo Bueno, o Peninha, na função de patrono. Antecipando a coletiva que o jornalista vai realizar em sua passagem por aqui, o Segundo conversou com exclusividade sobre o novo livro e a credibilidade que adquiriu com muito esforço. Confira.

1808

    A fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas, revoluções republicanas, escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil. O propósito deste incrível livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte lusitana no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. Escrita por um dos mais influentes jornalistas da atualidade, 1808 é o relato real e definitivo sobre um dos principais momentos da história brasileira.

1822

    Nessa nova aventura pela história, Laurentino Gomes conduz o leitor por uma jornada pela Independência do Brasil. Resultado de três anos de pesquisas e composta por 22 capítulos intercalados por ilustrações de fatos e personagens da época, a obra cobre um período de quatorze anos, entre 1821, data do retorno da corte portuguesa de D. João VI a Lisboa, e 1834, ano da morte do imperador Pedro I. "Este livro procura explicar como o Brasil conseguiu manter a integridade do seu território e se firmar como nação independente em 1822. A Independência resultou de uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de sabedoria de algumas lideranças incumbidas de conduzir os destinos do país naquele momento de grandes sonhos e perigos", explica o autor.

Entrevista com Laurentino Gomes

Segundo - Com 1808, você estava literalmente se aventurando, apostando em uma abordagem que poderia ser tanto um fracasso quanto um grande sucesso. Foi sucesso. Mas como foi escrever 1822, que chegaria às livrarias com a responsabilidade de manter um nível ou até mesmo superar o trabalho anterior?
Laurentino Gomes
– No começo, fiquei um pouco assustado com a enorme expectativa gerada pelo sucesso do primeiro livro. Mas logo cheguei à óbvia conclusão de que a única maneira de me proteger seria apostar na qualidade da pesquisa do segundo livro. Mergulhei em um intenso trabalho de reportagem, no qual li muito sobre o assunto, pesquisei documentos e visitei alguns dos locais dos acontecimentos de 200 anos atrás. Também convidei para ser o meu orientador o embaixador Alberto da Costa e Silva. Seu acompanhamento na pesquisa e na edição de 1822 foi fundamental para o resultado final da obra. É um dos maiores intelectuais brasileiros, ex-embaixador em cinco países, ensaísta e poeta. Ele orientou na elaboração da bibliografia e depois leu cada um dos capítulos à medida em que eu os escrevia. Suas sugestões e comentários foram vitais para que eu corrigisse enfoque, datas, nomes e outras informações coletadas durante a pesquisa.

Segundo - Existe uma certa hostilidade vinda em relação a essa linguagem mais próxima da realidade e muitas vezes “desmascaradora” de uma história oficial. Como você lida com isso? Continua acontecendo com a mesma intensidade do início? Assim como o jornalismo, você acredita que a história também deve ser (apesar de aparentemente jamais ser) neutra e imparcial?
LG –
Essa sensação de estranheza, finalmente, já passou. Tenho recebido muitos elogios de historiadores que respeito e admiro. Meu objetivo é divulgar o conhecimento a respeito da história do Brasil, mas sem banalizá-la. Um bom escritor precisa ter a habilidade de escolher as palavras para contar uma estória ou transmitir uma ideia. Ou seja, tem de saber escrever. No meu caso, procuro usar elementos pitorescos da história para atrair a atenção do leitor. Isso explica, por exemplo, o subtítulo dos dois livros. Esse recurso bem humorado é usado com o propósito de provocar a atenção, como se faz num título de capa de revista ou numa manchete de jornal. Importante, no entanto, é não deixar que o livro se limite à caricatura. O conteúdo tem de oferecer um mergulho mais profundo ao leitor, mas sem dificultar a linguagem. Não acredito que exista jornalismo ou narrativa histórica neutra ou isenta, mas acho que toda reportagem e todo livro ajuda o leitor a chegar um pouco mais próximo da verdade dos fatos e dos personagens.

Segundo - Seus projetos futuros envolvem a adaptação de 1822 para os quadrinhos, a publicação de um livro sobre o ano de 1889 e a possibilidade de minisséries baseadas em sua obra, sim? Conte um pouco sobre isso.
LG -
Meu próximo livro vai se chamar 1889, sobre o Segundo Reinado e a Proclamação da República. Já comecei a pesquisar e espero lançá-lo dentro de três anos. Dessa forma, fecho uma trilogia com as datas mais importantes da construção do Estado brasileiro no Século 19. O ano de 1889 marca a mais profunda transformações no processo político brasileiro com a abolição da escravatura, a derrubada da monarquia e o início do período republicano. Nesses livros, procuro ter sempre um estratégia multimídia, de maneira a desenvolver diferentes formatos para diferentes públicos. Estamos em um novo século que pede uma nova linguagem e novos formatos capazes de atingir novas audiências. Para chegar a essas diferentes comunidades é preciso ser multimídia. Por isso, além de escrever um livro em papel em linguagem jornalística acessível a um público mais amplo, eu procuro usar as oportunidades que as novas tecnologias oferecem.

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