Um pedaço da Bienal

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Curadora de uma das maiores mostras de arte do continente, a mexicana Paola Santoscoy esteve em Passo Fundo estudando a possibilidade de trazer para o município um pedaço da Bienal do Mercosul. Parte de um processo de descentralização do evento que acontece em Porto Alegre no ano que vem, a visita é a primeira de um extenso roteiro que vai analisar museus e áreas públicas de cidades de todo o interior do estado

Marina de Campos
    Definitivamente, a cultura está olhando para Passo Fundo. Se na edição passada o sinal dos novos tempos se fazia em forma de sebo, desta vez o olhar atento dos grandes centros e dos grandes eventos para o município é o indicativo de que há aí um futuro promissor esperando por nós. A visita da curadora adjunta da Bienal de Artes do Mercosul à cidade, assim como a vinda do diretor carioca Ricardo Zimmer anunciando as filmagens de parte de seu longa nos arredores de Passo Fundo em 2011 – assunto que o Segundo aborda na contracapa desta edição –, nada mais é do que uma série de forças convergindo para o mesmo lado e expandindo os horizontes culturais da cidade para além da literatura. Numa previsão otimista, o próximo ano poderá ter não somente a 14ª edição das Jornadas Literárias, mas também parte de uma das maiores mostras de arte do continente e as filmagens de uma megaprodução épica de proporções nacionais – a primeira a ser rodada por aqui em mais de 30 anos.

Em busca da descentralização
    Com o louvável objetivo de iniciar um processo de descentralização da Bienal do Mercosul, grandioso evento voltado à arte moderna que acontece de dois em dois anos em Porto Alegre e chega à sua 8ª edição em setembro do ano que vem, o seu grupo curatorial está viajando por todo estado e alguns países do sul do continente em busca de cidades que possam vir a receber ações conjuntas e simultâneas à mostra. Passo Fundo foi o primeiro município visitado dentre os presentes no roteiro da curadora mexicana Paola Santoscoy, que passa ainda por Ijuí, Santo Ângelo e São Luiz Gonzaga, na região das Missões.

    Em sua visita ao Museu de Artes Visuais Ruth Schneider na última terça-feira, 30, a curadora explicou o intuito da bienal, conheceu sua estrutura interna e externa, observou as exposições e analisou o acervo. Com uma agenda cheia, que incluía o Muzar, a Secretaria de Desporto e Cultura, a Associação dos Artistas Plásticos, o Curso de Artes Visuais da UPF e alguns pontos turísticos do município, a jovem curadora mostrou-se bastante interessada nos possíveis cenários das exposições e deixou nos envolvidos a expectativa de fazer parte de um evento de tamanha importância.     “Não há como não se animar com a possibilidade. Seria um marco para a arte em Passo Fundo, algo que nos projetaria e também teria inegável benefício para o público”, comenta Tania Maria Aimi de Oliveira, coordenadora administrativa dos museus. Para Margarida Pantaleão, coordenadora de ação pedagógica, Passo Fundo tem plenas condições de receber o projeto. “Para nós, só a possibilidade de ela estar aqui, conhecer o museu e a cidade já é muito importante. Ainda assim, acredito que estamos habilitados a receber uma parte da Bienal aqui no ano que vem”, esclarece. Em entrevista, Paola falou mais sobre a iniciativa e a importância de quebrar os limites geográficos de um acontecimento que dedica sua existência à arte. Confira.

Segundo – Passo Fundo é a primeira cidade de um extenso roteiro que você está traçando. Qual o objetivo da Bienal com essas viagens por municípios do interior do estado?
Paola Santoscoy
– Sim, essa é a minha primeira parada, e a razão pela qual nós da equipe da Bienal estamos fazendo viagens pela região é que nos interessa muito dar continuidade à presença que já teve o evento em algumas cidades do estado, especialmente na edição passada, e também porque queremos implementar alguns programas que, se não são iguais, são similares, trabalhando para dar continuidade a esse processo. Além disso, temos muito interesse nas rotas em si, rotas históricas, rotas comerciais, porque outra possibilidade é convidar artistas destes lugares para que se estabeleça um intercâmbio artístico.

Segundo – Além de observar se as estruturas físicas das cidades estão aptas a receber um evento como a Bienal, há outros objetivos. Quais?
PS -
Outra questão é que há um programa que deve acontecer após a Bienal em Porto Alegre, realizando a exibição dos trabalhos do artista chileno homenageado Eugenio Dittborn em diferentes lugares, já que se trata de uma exposição que pode se fragmentar e viajar a distintas cidades. Nos interessa conhecer espaços e as pessoas que trabalham nesses espaços. É na realidade uma visita de investigação, com o interesse de escutar vocês, pensando um pouco nos componentes da Bienal e também no projeto pedagógico da fundação.

Segundo – Após essa análise geral, quais são os próximos passos que a curadoria vai seguir?
PS -
Estamos na fase de desenvolver estruturas, sabemos que queremos a presença da Bienal em distintos municípios, nesse momento cada curador está traçando distintas rotas, estabelecendo conexões, e depois disso iremos nos reunir, cada um relatando sua viagem, expondo o que foi descoberto, e vamos começar a determinar como funcionará essa ligação. Também vamos iniciar um blog onde apresentamos os relatos de nossas pesquisas, revelando esse trabalho curatorial.

Segundo – Essa iniciativa faz parte de um processo de descentralização do evento e, por consequência, um desejo de expandir e democratizar a arte em geral?
PS -
Tem a ver com descentralização, sim. Nos pareceu muito importante dar atenção a isso, desde a edição anterior, senão antes, a Bienal tem uma missão que vai além da cidade de Porto Alegre. A fundação se caracteriza como uma organização que não deseja se concentrar numa capital, e sim estender seus braços e chegar o mais longe possível. Para nós é fundamental fazer essa pesquisa, já que a ideia é que a Bienal do Mercosul siga sendo um evento internacional concentrado aqui, e nesse sentido a região se converte em algo importante, porque conceitualmente estamos trabalhando a ideia de território, as poéticas do território, então tudo que pode se conectar a isso na região será muito positivo.

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