Quando a produção carioca do épico A Fronteira de Sangue ficou sabendo da encenação da Batalha do Pulador realizada em Passo Fundo, decidiu: no ano que vem, parte das filmagens do longa que conta com Eva Wilma e Luciano Szafir vai ser rodada aqui. Primeiro desde 1979 – quando Teixeirinha fez O Gaúcho de Passo Fundo –, o filme é dirigido por Ricardo Zimmer, que esteve na cidade e contou ao Segundo tudo sobre a megaprodução
Marina de Campos
Enclausurado e esquecido no bunker que inventou em pleno porão de fazenda, Pedro Maragato avalia sua vida do alto de seus 127 anos, remoendo a culpa e o castigo divino de ter degolado o próprio irmão chimango por amor e traição. Esta é a cena que liga o passado e o presente no épico A Fronteira de Sangue, filme realizado por Ricardo Zimmer e Oscar Dias que se passa nos dias de hoje, mas também durante as revoluções federalistas do fim do século 18 travadas no solo honroso do Rio Grande do Sul.
Buscando maneiras de retratar esses conflitos, a equipe do filme já vinha há algum tempo investigando a história do estado, e acabou chegando aos Cavaleiros do Mercosul e à encenação da Batalha do Pulador, evento tradicional em Passo Fundo por envolver centenas de pessoas na recriação das cenas de guerra no exato local em que elas aconteceram. Fascinados pela fidelidade do espetáculo, os produtores convidaram os organizadores da encenação para participarem de algumas cenas do filme que devem ser rodadas no ano que vem. O resultado: Passo Fundo vai virar set de filmagem.
Reconhecimento e projeção
Acompanhado de Jabs Paim Bandeira, idealizador da encenação, o diretor carioca Ricardo Zimmer esteve em Passo Fundo na quarta-feira e contou ao Segundo os detalhes da produção. “Se trata de um filme independente de proporções épicas, realmente uma megaprodução. Nós estamos trabalhando nisso desde fevereiro, e as filmagens ainda devem se estender até abril do ano que vem”, conta o cineasta, deixando subentendido que as cenas em Passo Fundo devem ser rodadas ainda no primeiro semestre de 2011. “Quando descobrimos o que havia aqui, essas encenações anuais, essa participação direta do público, achamos convieniente unir o útil ao agradável e trazer para cá a nossa estrutura, aproveitando os figurantes e parte do figurino nas cenas de guerra do longa”, acrescentou.
Para Jabs, que se reuniu nesta semana com os Cavaleiros do Mercosul e comunicou o projeto, esse acontecimento nada mais é do que uma incrível forma de reconhecimento do empenho que se coloca no evento todos os anos, além de um chance de levá-lo ainda mais longe por meio das telas do cinema. “Ainda estamos em processo de conversação, precisamos comunicar todos os envolvidos, nos certificar da participação de cada um, mas já é uma satisfação pensar em fazer parte disso, poder colaborar com um filme que pretende mostrar importantes episódios da história do nosso estado para o resto do país”, comenta. O diretor complementa esse pensamento afirmando que a própria vinda de uma equipe de filmagens para a cidade, com a presença de atores consagrados e toda a estrutura física de um estúdio cinematográfico, tudo isso colabora para o desenvolvimento cultural do município e a sua projeção fora daqui.
O filme
Da última vez em que se rodou um filme em Passo Fundo, em 1979, a grande estrela era Teixeirinha. Agora, mais de 30 anos depois, Passo Fundo vai ser palco para um filme estrelado por grande elenco que conta com nomes como Luciano Szafir, Eva Wilma, Marcos Wainberg, Desirée Oliveira, Lívia Andrade, Marcio Kieling, Marcela Muniz
e Miguel Rodrigues. Produzido pela Beagle Films, A Fronteira de Sangue vai dos dias atuais até a Revolução de 1923, onde as degolas eram praticadas entre rivais políticos e inimigos mortais conhecidos como chimangos e maragatos. O fio condutor é o protagonista vivido por Szafir, uma figura mítica que relembra a história do sul por meio do assassinato do irmão após um triângulo amoroso de fim trágico.
Como explica Zimmer, “o filme transita no tempo e no espaço recriando a história do estado, repensando o arquétipo do gaúcho em seu cotidiano, a lida no campo, a vida urbana e toda a sombra da rivalidade de antigas revoluções nas eternas discussões entre inter e grêmio, direita e esquerda, e assim por diante”. Também responsável pelo roteira, o diretor se dedicou durante cinco meses à trama inédita, inteiramente baseada em pesquisas históricas e transformada em uma história de conflito surpreendente, revelando personagens inusitados que interagem com o passado e o presente na busca por respostas.
Sobre a realização do longa, ele explica que este é o segundo longa da produtora Beagle Films realizado de forma totalmente independente. “Temos um orçamento de aproximadamente 2,5 milhões, sendo que o filme é produzido e finalizado sem as burocráticas leis de incentivo à cultura ou lei do audioviosual que atrelam a produção e dificultam a agilidade do processo no Brasil”, esclarece. “O formato independente favorece investidores de todos os perfis que desejm participar, patrocinar ou apoiar a obra cinematográfica, onde a única pretensão é filmar uma boa história fugindo dos rótulos do cinema convencional”, explica. Ele reforça ainda que a proposta é criar uma linguagem que saia do eixo Rio-São Paulo, fomentando a produção de novos filmes com novos formatos, provando que o cinema nacional pode ser feito em qualquer lugar, e para todos os públicos. De acordo com ambas as partes, as tratativas em relação às filmagens em Passo Fundo devem continuar até o fim do ano. Para saber mais, acompanhe as edições do Segundo.