O sul de todos os tempos: nossa história em 500 páginas

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Escrito pelo professor e colunista de ON Mário Maestri, Breve História do Rio Grande do Sul faz uma viagem pelo passado do estado desde a pré-história até os dias atuais. Mais vendida do estande da UPF Editora na Feira do Livro de Porto Alegre, a obra apresenta várias surpresas ao longo de suas quase 500 páginas

Segundo ON

    A história do sul vai muito além de conflitos entre chimangos e maragatos. Apesar de sempre lembrada e tornada sinônimo primeiro da nossa história, a Revolução Farroupilha é apenas um curto episódio dentro de uma incrível jornada de longos séculos e muitos povos, batalhas, explorações, conquistas e revoluções que preencheram as quase quinhentas páginas escritas por Mário Maestri na ambiciosa tentativa de recontar a história do estado em um só volume. E que volume. Intitulado Breve história do Rio Grande do Sul: da pré-história aos dias atuais, o livro apresenta uma visão geral do estado desde o seu princípio até o fim do governo Yeda Crusius. Professor de História da Universidade de Passo Fundo e colunista de O Nacional, o porto-alegrense teve sua obra entre as mais vendidas do estande da UPF Editora durante a Feira do Livro de Porto Alegre deste ano. Em entrevista ao Segundo, falou das dificuldades e surpresas ao mergulhar no sul de todos os tempos.

Segundo – Em primeiro lugar, não há uma contradição entre o título do seu livro, uma Breve história do Rio Grande do Sul, e o volume de quase quinhentas páginas?!
Mário Maestri -
Um amigo baiano, o historiador J.J. Reis, me assinalou o paradoxo do título em um livro de mais de 460 páginas de texto. E isso que não foi colocada uma cronologia final e ilustrações, como previsto inicialmente! (risos) Trata-se, porém, em todos os sentidos, de uma leitura muito sintética do nosso passado. Em um sentido lato, o Rio Grande do Sul já tem uns 380 anos de história política, se tomarmos como ponto referencial a fundação das Missões do Tape, deixando de lado a sua pré-história e a história das suas comunidades nativas americanas, abordadas rapidamente no texto. Trata-se, em definitivo, de uma enorme massa de fatos – e conhecimentos à nossa disposição – que, para um enfoque mais sistemático, mesmo sintético, exigiria não um, mas vários volumes. Em verdade, há diversas dimensões da história do passado sulino que não abordamos, por opção, nem minimamente, como a história da cultura, com destaque para a literatura, a música, a arquitetura, temas que nos encantam e sobre os quais contamos já trabalhos gerais e particulares excelentes, mas que fomos, infelizmente, obrigados a não incluir, para não extrapolar os objetivos e as razões particulares da produção desse livro.

Segundo – Qual os objetivos e as razões de escrever a Breve história do Rio Grande do Sul: da pré-história aos dias atuais?
MM -
Há razão particular e geral. Venho escrevendo este livro há quase quatorze anos, desde que ingressei na UPF, a convite do professor Fernando Camargo, que não se encontra mais em Passo Fundo, para lecionar no Curso de Graduação em História e ajudar a organização o Programa de Pós-Graduação em História, o primeiro do interior do Rio Grande. Prestei concurso para as cadeiras referentes à História do Rio Grande do Sul. Portanto, desde 1996, me predispus a preparar para meus alunos uma interpretação sintética sobre a história sulina, que abarcasse todo o período da disciplina. Algo que correspondesse aos dois semestres de estudo. Um trabalho sintético, sem ser telegráfico e simplista. Um projeto relativamente ambicioso pois, como proposto, o largo arco cronológico de nosso passado exige que os historiadores que se voltem sobre ele, especializem-se em algumas áreas e períodos.

Segundo - Qual foi o período nesse estudo geral do passado rio-grandense que lhe deu mais trabalho e lhe despertou maior paixão? Foram necessárias investigações profundas e demoradas?
MM -
Breve história do Rio Grande do Sul: da Pré-História aos dias atuais é trabalho de síntese, como proposto. Há períodos do passado sulino, como o período colonial, a sociedade escravista, o mundo colonial-camponês, que investiguei direta e sistematicamente. Porém, havia períodos que, antes, jamais abordara em forma detida, como a República Velha, o Estado Novo, o período pós-1964, ainda que, este último, já fazia parte de minha vida, como adolescente, jovem e adulto. Minhas aulas no curso de graduação e, devido a elas, a preparação do livro, forçaram-me à farta leitura de documentação e bibliografia especializadas desses períodos. No texto, procurei assinalar alguns autores nos quais me apoiei substancialmente, já que, devido aos objetivos do trabalho, optei, ao iniciá-lo, pelo não uso de notas de rodapé. O que, confesso, creio não ter sido a opção mais pertinente. Nas quarenta páginas finais, encontram-se os trabalhos nos quais apoiei substancialmente minha leitura e interpretação. Se há originalidade, nessa minha leitura, é a interpretação geral referente à totalidade do processo.

Segundo - Essa sua viagem pelo passado sul rio-grandense reservou-lhe surpresas?
MM
- Certamente, diversas e, algumas, bastante grandes! Por exemplo, deparei-me com a enorme desigualdade da abordagem pela historiográfica regional dos diversos períodos de nosso passado. A historiografia sobre a República Velha é muito rica e precisa, o mesmo não se podendo dizer sobre o Império, sobretudo no referente à história política, que apenas agora começa a ser desbravada com qualidade. Paradoxalmente, a história do RS dos anos 1937 a 1980 não é igualmente territórios visitado amiúde. Impressiona não termos uma história digna do nome do governo de Flores da Cunha, de Leonel Brizola, da Legalidade, dos governos regionais no período ditatorial. E esses são apenas alguns buracos negros de nossa historiografia, que, com o grande número de programas de pós-graduação em história tem produzindo uma enorme quantidade de excelentes trabalhos, sobre os mais diversos temas, alguns deles, porém, verdadeiramente anódinos!

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