Liz Taylor, a última diva

Beleza e personalidade forte marcaram carreira de Elizabeth Taylor, que partiu aos 79 anos deixando posto de última grande diva do cinema

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Marina de Campos

Colecionou jóias e diamantes durante a vida inteira sem perceber que as pedras mais preciosas do mundo eram seus olhos cor de violeta, emoldurados por um rosto de pele aveludada e simetria perfeita. Seu olhar, nas palavras do mais famoso de seus sete maridos, era sexy a ponto de beirar o pornográfico, talvez o motivo para que sua beleza fosse tão ultrajante para a época. Ao contrário da rival Marilyn, que parecia trazer no sorriso um pedido de desculpas, ela desferia seu charme com toda força e consciência, transparecendo determinação comparável apenas à de sua mais inesquecível personagem. Cleópatra, aliás, deveria agradecer a Liz por habitar o imaginário da humanidade na figura de uma mulher tão bela.
   Na manhã desta quarta-feira, o mundo amanheceu sem sua última grande diva. Nas capas de jornais, sites e revistas do dia seguinte, a imagem que imperava era a de seus 20 e poucos anos, o esplendor da juventude quando caminha altiva em direção à maturidade, o retrato pelo qual o mundo se apaixonou. Como assinalou o colunista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo, tratando-se de uma figura tão midiática não seria difícil encontrar fotos do período de declínio. Mas o mundo respeitou a verdade. “Se algum jornal a publicou, publicou uma falsidade. Não seria Liz Taylor, que ficou para sempre jovem e linda na memória de qualquer um que tenha visto ao menos um de seus filmes”.
   E não era só isso que hipnotizava em Elizabeth Taylor. Como quem encara a seriedade da vida com certo desdém, ela ia de um extremo a outro confundindo quem tentasse rotulá-la. Como antídoto para o esbanjador apreço por jóias - “grandes garotas precisam de grandes diamantes” -, era profundamente engajada em causas sociais, entre elas a luta contra a AIDS, pela qual lançou sua própria fundação pouco depois da morte de seu amigo Rocky Hudson em função da doença. Em oposição à doçura de seus traços, fazia uso da personalidade quase bruta, e na tentativa de se fazer entender por um mundo dividido entre seus dramas reais e os roteiros hollywoodianos, acabou por se tornar indecifrável – nada além de dois olhos lilases, um meiosorriso de Monalisa e a aura de uma incontestável diva.

A diva destruidora de lares
   Mas nem só de beleza vive a memória da atriz. Fosse apenas isso, desinteressante teria ficado sua história ao longo dos seus 79 anos. Mais do que a cor incomparável, seus olhos carregavam o poder e a coragem de uma mulher que seria a primeira em alguns feitos e apenas mais uma em vários outros. Até as filmagens de Cleópatra, em 1963, nunca uma atriz havia ganho um cachê tão alto quanto um milhão de dólares – soma aceitável apenas para os papéis masculinos. Por outro lado, tornava-se uma mulher como várias quando sofria todo tipo de insulto e discriminação por sua vida marcada pela entrega e intensidade de relacionamentos. Por conta de seus oito casamentos – dois deles com Richard Burton -, ganhou os apelidos de viúva negra e destruidora de lares, reação comum da sociedade toda vez que se depara com alguém que sabe viver a vida de verdade. No Brasil, pelos olhares e atitudes intempestivas, teria como equivalente a cantora Maysa, outra dessas muitas mulheres fortes e jamais compreendidas.
   Não bastasse o espantoso número de casamentos como chamariz de escândalos, Elizabeth Taylor também tinha problemas com álcool, aspirinas e fortes analgésicos, os quais nunca fez questão de esconder. Se o alcoolismo veio com a fama, o restante apareceu muito antes, quando ainda era criança: aos 12, quebrou a coluna após uma queda de cavalo, dor crônica que se agravaria com outras fraturas na costas e diversas lesões nos quadris. Nos últimos anos, a diva circulava apenas de cadeira de rodas. Ao falar de sua morte, a colunista Maruja Torres, do El País, define com perfeição a jornada de Liz: Sobreviveu a todos, à fama, à beleza, ao álcool, às pílulas, aos bons inimigos e aos maus amigos, às paixões e a si mesma”. Depois de tudo isso, morte não é uma palavra que se encaixe à sua partida.

 

Como se tornar imortal em cinco clássicos
Nascida em Londres em 27 de fevereiro de 1932, Elizabeth “Liz” Rosemond Taylor passou apenas uma década de vida longe das telas: aos 11 anos já estrelava seu primeiro sucesso, o clássico Lassie. Mas em sua filmografia de mais de 40 trabalhos, cinco filmes se destacam. Em 1956, se juntou a James Dean e Rocky Hudon (de quem viraria melhor amiga) para estrelar Assim caminha a humanidade, indicado a dez Oscars e premiado na categoria de melhor diretor para George Stevens. Na sequência estrelou Gata em teto de zinco quente ao lado de Paul Newman e fez Disque Butterfield 8, filme de 1960 em que interpreta uma garota de programa, que lhe rendeu seu primeiro Oscar e também uma polêmica: foi nos bastidores que se envolveu com o ator Eddie Fisher, marido de sua amiga. Três anos depois, veio Cleópatra. Marco da carreira, a superprodução épica trouxe também um dos grandes amores de sua vida, o ator Richard Burton. Auge da consagração, Quem tem medo de Virginia Woolf?, de 1966, lhe trouxe a segunda e última estatueta do Oscar por sua antológica atuação como uma mulher alcoólatra de meia idade novamente ao lado de Burton. Para interpretar um casal em crise, o casal da vida real inspirou-se em seus próprios problemas e marcou a história do cinema com uma das melhores performances do gênero.

 

Liz em 140 caracteres
Apesar da idade, Taylor era usuária assídua
do twitter. Sempre incentivando amor,
igualdade e boas ações, ela postou pela última vez em 9 de fevereiro. Para conferir, acesse
twitter.com/dameelizabeth

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