Bem-vindo ao clube!

Juventude, ironia e cultura pop conduzem a peça Clube do Fracasso

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Marina de Campos

   Na mesa de bar banhada por respingos de bebida e luz azul, estão sentados lado a lado um grupo estranhamente disforme e desagradavelmente amarrotado. Um Elvis Presley pirata, uma garota vestida de vaca que pensa ser astronauta, um boxeador perdedor (nada) parecido com Rocky Balboa, a bizarra figura de um rapaz vestido de bailarina e uma Supergirl que de “super” não tem nada. Suas feições variam entre o ódio, a tristeza e o tédio, e a profusão de cores de seus figurinos revela exatamente o oposto de seus espíritos falidos. Em suas mentes, apenas a irônica frase de Beckett: “Tente. Fracasse. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Agora sim. Fracasse melhor”. Não dá para ver na foto, mas você está sentado bem ao lado deles, com suas roupas que não dizem nada e a face que não sabe o que expressar. É esse o seu lugar. Bem-vindo ao Clube do Fracasso.

   Com uma proposta interessante, cheia de sopros de juventude insatisfeita, ironia  de sobra e referências à cultura pop (e ao vazio que muitas delas carregam), o espetáculo da Cia Rústica chega a Passo Fundo neste sábado para questionar o modo de vida contemporâneo que divide homens entre fracassados e bem-sucedidos e reduz a vida real a uma cena de novela. Na tentativa de inverter essa ideia, a peça se estrutura em jogos que se desdobram sobre áreas diversas da experiência humana, percorrendo memórias, amores despedaçados, exposições ao ridículo, tentativas inválidas, a sede do sucesso, nossos medos e dificuldades. Para isso, os atores usam seus próprios nomes, ainda que joguem com diferentes papéis, e os espectadores são recebidos como sócios de um clube que não pretende impor um discurso, mas sim compartilhar experiências em um encontro no aqui e no agora.

   Como diz a sinopse, “aqui temos cerveja gelada, mulheres bonitas, homens elegantes, jogos de azar, música, dança, shows, histórias. Não uma história, mas várias. De pequenos e grandes fracassos, de amor e de morte, de glória e desastre, de luxo e decadência, pequenas histórias ridículas, pedaços de histórias, as vezes sem começo, ou sem meio, ou sem fim. Histórias fraturadas como a vida. Qualquer semelhança com fatos reais não é mera coincidência”. Vencedora dos troféus RBS Cultura de melhor espetáculo no júri popular e Açorianos de melhor dramaturgia 2010, Clube do Fracasso utiliza de maneira sábia elementos que já são parte da linguagem do grupo: música ao vivo, projeções de imagens, filmes antigos, fotografias, fisicalidade, humor e a celebração do teatro como um espaço libertário. Um lugar raro, onde ao menos por uma noite quem tem espaço é o fracasso.

Serviço
Com ingressos a
R$ 20, A Cia Rústica se apresenta neste  Sábado, 26,
no Teatro
do Sesc,
às 20h

O Segundo paga a metade pra você!
Graças à parceria entre Sesc e O Nacional,
assinante com cartão Meu ON paga meia entrada
nas atrações culturais do Sesc. Aproveite!

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