Crítica de cinema - Machete

Crítica de Daniel Dalpizzolo, do site www.cineplayers.com

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Os anos 1970 foram dos mais prolíficos do cinema norte-americano. A falência do sistema de estúdios, ao final da década anterior, passou o controle, antes nas mãos dos produtores, aos novos autores, renovando assim o fôlego de uma Hollywood decadente. O barateamento e a mobilidade dos equipamentos de cinema também ajudaram a permitir que os cineastas pudessem experimentar variações da linguagem de cinema.
No meio disso, os exploitations ganharam certa popularidade com uma fórmula básica bastante interessante: muita violência gráfica, nudez, amoralidade, perversão e transgressão. O estilo não surgia ali, mas ocupou um bom espaço no cinema underground norte-americano do período.
É essa linha de cinema que o cineasta Robert Rodriguez emula em Planeta Terror (2007), divertido filme de zumbis, e neste Machete (2010), que chega em formato blu-ray ao Brasil neste mês, no qual o diretor dá um passo à frente e transporta a estética exploitation dos anos 70 para o século XXI. Rodriguez resgata a ideia de um trailer falso de história de vingança que criou no projeto Grindhouse (2007), do qual Planeta Terror faz parte, e com ela, ao invés do anacronismo das demais emulações recentes do gênero, percorre uma rota inversa: é o exploitation que invade o mundo moderno para provocar uma subversão estética de nossa leitura dele.
Os Estados Unidos – e muitos de seus problemas – que conhecemos estão ali: imigração ilegal, manipulação política, negociações bilionárias de tráfico de drogas, redes de corrupção, conservadorismo versus liberalismo e xenofobia. É quase um filme-denúncia.
Mas a intenção, claro, é tirar sarro. Talvez seja o filme político mais politicamente incorreto do cinema americano recente – ou o único filme verdadeiramente político a ser realizado por lá atualmente. É também um filme de ação empolgante, minado por cenas de violência explícita, diálogos cafonas, mulheres nuas e clichês esgotadíssimos trabalhados em prol da gozação.
Nosso herói, Machete, torna-se um mito no combate à podridão do sistema. Vira lenda das ruas e da mídia. Através de celulares e mensagens sms, bandidos anunciam uns aos outros a chegada do perigo, mas nada: nem a comunicação moderna e as novas tecnologias são capazes de frear um verdadeiro herói do exploitation.

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