Se em outros tempos Cuzco era o “umbigo do mundo” e o cartão postal disso eram as ruínas do Machu Picchu, nesta semana Porto Alegre rouba a cena e se torna capital do continente sul-americano durante três dias de reverência e celebração à música, à integração e à cultura digital. Não muito diferente dos incas, que ofereciam aos deuses aquilo que tinham de melhor, o Festival El Mapa de Todos reúne no palco do Bar Opinião os expoentes do rock independente da América do Sul, na tentativa de unificar essa produção e concentrar esforços na sua evolução e reconhecimento ao redor do mundo. Realizado pelo conceituado portal Senhor F, o evento diz respeito a Passo Fundo logo na sua abertura, já que a Reino Elétron foi escolhida entre dezenas de bandas gaúchas para abrir a primeira noite de atividades nesta terça-feira, 12 de abril. Honra conquistada após a vitória do festival PampaStock, a apresentação encabeça uma lista que conta com bandas do Brasil, México, Argentina, Chile, Venezuela e Uruguai. Além dos shows, o festival promove ainda o seminário Integração pela Música, com a presença de nomes como Claudio Kleiman, da Rolling Stone argentina, e Gustavo Anitelli, produtor do Teatro Mágico. Na quarta-feira, acontece o lançamento do Festival Internacional de Música Livre, que será realizado no próximo Fórum Social Mundial, em 2012.
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Para entender o festival El Mapa de Todos é fundamental fazer um retrocesso e passear pela história do rock latino-americano. Pouco diferente da registrada em outras partes do mundo, essa história é também influenciada pelos movimentos surgidos nos Estados Unidos e na Inglaterra. Devido às suas peculiaridades - uma delas o idioma espanhol, falado quase em sua totalidade, excetuando-se o Brasil -, o rock produzido na América do Sul se espelhou diretamente no rock mexicano, que em 1959 já ganhava destaque com bandas como Los Locos del Ritmo, Los Holigans e Los Teen Tops, esta última a mais influente da época por gravar versões em espanhol dos grandes clássicos do rock and roll tradicional. A partir da metade dos anos 60 o estilo se espalhou por todo continente, ganhando entusiastas em países como Argentina, que tinha como pilar as bandas Almendra, Los Gatos e Manal, Uruguai, onde Los Mockers e Los Shakers concorriam com os Beatles nas rádios de igual para igual, no Peru, com a marcante Los Saicos, no Chile com Los Vidrios Quebrados e Los Jockers, e ainda na Venezuela, com Los Impalas (no Brasil com Os Mutantes, não seria preciso nem citar). Apesar da curta duração da maioria, essas bandas fizeram história em seus países e inspiraram as gerações que hoje fazem jus ao rock latino.
Reino Elétron
Formada por Bruno Phillipsen, Carlos Bolacha, Elias Duarte, Hélio Ribeiro e Leonardo Marmitt, a banda passo-fundense Reino Elétron tem influências que vão do punk ao rock eletrônico e do jazz ao psicodelismo. Dessa mistura surgiu um som único, “um núcleo de partículas subatômicas que domesticadas se transformaram em um reino”, como eles mesmos explicam o nome. Com variadas influências como Beatles, Stones, AC/DC, Ramones, Robert Johnson, Sebastian Bach, Tom Jobim, Kings Of Leon, Supergrass e Johnny Cash, a banda conquistou o privilégio de abrir o El Mapa de Todos após vencer o Festival PampaStock.
“O PampaStock foi decisivo, teve grande importância para a banda, pois estávamos com 12 composições prontas e não tínhamos tocado elas em show para ver a resposta do público. Além disso, haviam jurados de`peso do meio musical independente, como o jornalista Fernando Rosa, do portal Senhor F. Vencemos após concorrer com outras 72 bandas. A curta trajetória até aqui foi trabalhosa, faz pouco mais de 1 ano que a banda existe, mas sempre fomos bem objetivos, desde o primeiro ensaio já sabíamos o que queríamos e foi só questão de colocar em prática aquilo que pensávamos. As ideias e as músicas foram saindo do papel - só faltava essa resposta do público. Abrir um dos mais importantes festivais de bandas indepedentes da América Latina foi o melhor prêmio que poderíamos ter ganho com o Pampa
Stock. Um evento que abrange diversas bandas e culturas diferentes do mundo todo, tem uma visibilidade incrível. A procura pelo Myspace da banda aumentou 100% nesses dias que antecedem o evento. E a Reino Elétron prepara um show pra mostrar por que estamos abrindo esse festival de proporções continentais.”
Leonardo Marmitt, em nome da Reino Elétron
Los Negretes
No disco lançado em 2010, até o nome demonstra potencial: o título Mexico City Blues faz referência a Jack Kerouac. Formada por uma explosiva mistura de origens, tem influências que vão do garage punk ao rock dos anos 60, blues, psicodelia, chicha peruana e trumpete mariachi - mistura que inclui Velvet Underground, Sumo e Mutantes. Em 2008 chamaram a atenção do editor da Rolling Stone americana e rodaram na rádio rock mais importante do México. A notoriedade fez com que fossem convidados a participar do festival Vive Latino, o mais importante do gênero no mundo.
Los Mentas
A despeito de toda rigidez do retrógrado presidente Hugo Chávez, trazem no visual descontraído o seu contraponto. Surgiram em Caracas em 1998, e em 2010 o grupo lançou o disco U.E.L.M. – Unidad Educativa Los Mentas, presente na maioria das listas de melhores discos do ano na Venezuela e no resto do continente. A banda tem outros quatro discos gravados e por duas vezes foi destaque no festival Vive Latino.
Xoel López
Vem direto da Europa especialmente para o festival, onde toca junto com o argentino Pablo Dacal e o uruguaio Franny Glass
(ambos vem também para o festival), trio que atualmente desenvolve o trabalho Canciones Compartilhadas. Cantor e compositor espanhol, é ex-integrante dos grupos Los Covers, Elephant Band, Lovely Luna e, especialmente do grupo Deluxe. A frente deste último gravou seis discos, conquistando espaço e reconhecimento junto ao público indie espanhol. Em 2008, assumiu a carreira solo, transferindo-se para Buenos Aires.
Gepe
Conhecido como Gepe, o chileno Daniel Riveros
é um dos músicos mais importantes de seu país. Em sua música sofisticada convivem informações do indie internacional com a cultura musical andina. Estreou em 2004 com o EP 5x5, antecedendo o festejado Gepinto. Em seguida vieram os discos Hungria e Audiovision, este de 2010. O recente trabalho integrou a maioria das listas de melhores discos do ano da América Latina.
El Mato a Un
Policia Motorizado
Com suas guitarras e mantras psicodélicos, é uma das melhores bandas da nova cena independente sul-americana. Em 2008 foi considerada a banda revelação da cena independente argentina pela revista Rolling Stone. Já se apresentaram em várias cidades e capitais brasileiras e sul-americanas e também foram destaque na última edição do festival Primavera Sound, em Barcelona.
Contra
Las Cuerdas
Apesar de se tratar de um grupo de hip hop moderno, a banda se enquadra perfeitamente no cenário. Agrega novos elementos e instrumentos ao gênero, trazendo o mix da levada tradicional do gênero com tango, folclore regional e candombe. Em 2010, participou do festival Ciudad Emergente, em Buenos Aires, como um dos destaques internacionais, ao lado dos brasileiros Superguidis.
Arthur de Faria, Frank Jorge e Wander Wildner
Três gaúchos que dispensam apresentações. O primeiro, junto com seu conjunto, apresenta um mix raro de sonoridades, enquanto os outros dois são lendas vivas do rock gaúcho. Enquanto Frank se destacou pela Graforreia Xilarmônica, Wander ficou famoso através dos Replicantes e depois traçou sólida carreira solo.
Superguidis e
Sociedade Bico de Luz
Ambas de Porto Alegre, fazem parte da cena contemporânea do rock gaúcho. No ano passado, a primeira foi destaque no festival Ciudad Emergente, na Argentina,participou do Festival SWU, abriu o show do Green Day em Porto Alegre teve seu disco citado nas revistas Bravo! e Rolling Stone. Sociedade Bico de Luz galga espaço com o álbum Doe Rock ao Emo
Centro, de 2009, e participou da primeira Noite Senhor F em 2010.
Do Amor, Watson e Macaco Bong
A primeira se trata de um
supergrupo formado no Rio de Janeiro com integrantes que já tocaram com Caetano Veloso e Los Hermanos. Seu disco de estreia fez parte da maioria das listas de melhores do ano, confirmando o caminho sonoro da banda. Watson é uma revelação do rock independente de Brasília classificada como indierock de alta qualidade com boas referências sonoras. Macaco Bong é uma banda de rock instrumental de Cuiabá, Mato Grosso, que teve seu disco Artista Igual Pedreiro eleito o melhor do ano de 2009 pela Rolling Stone.