Marina de Campos/ON
Richard está sentado na primeira poltrona da primeira fileira do teatro e não pára de balançar as pernas que, por conta de seus magros oito anos, não chegam a alcançar o chão. Ele percebe a câmera fotográfica e logo desvia o foco de sua atenção. Até então vidrado na movimentação do palco, passa a dividir seus olhares, mas tenta disfarçar quando se percebe flagrado no ato. Questionado sobre a peça, abre um sorrisão e sussurra que está gostando muito. Estudante da escola Antonino Xavier, na Vila Jardim, ele surpreende dizendo que não se trata da primeira peça de teatro a que assiste. E é aí que se encontra a grande novidade.
Até pouco tempo atrás, a resposta era óbvia: seria certamente a primeira vez de uma criança estudante da rede municipal ou estadual de ensino. Hoje, quatro anos após a chegada do Sesc Passo Fundo e de muitos esforços da Prefeitura Municipal e de outros órgãos, o teatro e demais atividades culturais não estão mais a um abismo de distância da comunidade. São tantas atrações gratuitas, pensadas para esse público que prestigia como nenhum outro esse mundo novo que lhe é oferecido, que a realidade agora não é mais apenas de incentivo, mas também de continuidade. Até porque não basta oferecer uma única experiência e esperar que ela vá ser suficiente para transformar pensamentos. Ações sistemáticas, que apresentem a dimensão do todo e dêem caminhos concretos, são a verdadeira chave para essa tão esperada mudança.
Na manhã e tarde desta terça-feira, assim como na tarde anterior, foi dado mais um passo em direção a essa realidade. Promovido pelo Arte Sesc – Cultura por toda parte, o projeto Teatro a mil realizou edição em Passo Fundo, contemplando cerca de mil crianças em três sessões da peça Jogos de inventar, cantar e dançar, da companhia porto-alegrense Bando de Brincantes. Com a estimativa de proporcionar o prazer das artes cênicas a mais de 72 mil crianças em 200 sessões por todo o estado, o projeto demonstra a preocupação do Sesc com uma parcela da população que dificilmente frequentaria o teatro de outra maneira, mas nem por isso fica de fora das atividades. Os atores do Bando de Brincantes, também é preciso salientar, fazem parte de um grupo que é extremamente importante para que tudo isso aconteça. Adultos talentosos não apenas no que diz respeito à atuação, mas também como cantores e instrumentistas, entregam a vida a uma missão das mais difíceis, daquelas que demoram a dar resultado. Nada que os impeça de transformar uma tarde aparentemente comum em uma pausa para a celebração da sensibilidade e do frescor infantil através do teatro.