Crítica de Daniel Dalpizzolo, do site www.cineplayers.com
Sidney Lumet faleceu no último dia 9, aos 86 anos, deixando no cinema um importante legado. Visitou gêneros distintos, consagrando-se no retrato de dramas urbanos e personagens ligados à corrupção moral da sociedade. Como obra final deixou, em 2007, o intenso Antes Que o Diabo Saiba Que Você Esta Morto, que transmuta de forma impressionante sua narrativa de crime fracassado para se tornar um filme de horror sobre a decadência da instituição familiar.
Mas a obra de Lumet, composta por uma variedade de erros e acertos, tornou-se essencial logo em seu primeiro trabalho no cinema. Foi com 12 Homens e uma Sentença, um dos grandes retratos da instituição penal (junto de outros filmaços como Anatomia de um Crime, do mestre Otto Preminger), que Lumet despertou para o mundo, apresentando um talento de encenação impressionante para um filme teoricamente tão difícil de ser executado.
O desafio era robusto: adaptar a peça 12 Angry Men, de Reginald Rose , que se desenvolve toda dentro de uma apertada sala, na qual Lumet faz o impossível com enquadramentos precisos e claustrofóbicos e uma edição irrepreensível. Lá, 12 jurados debatem o julgamento que acabaram de assistir. Faz um calor insuportável. Para livrarem-se logo daquele inferno, 11 dos jurados votam às pressas na culpa do garoto, acusado de matar o pai.
O jurado interpretado por Henry Fonda, número 12 (no filme eles não têm nome, atendem apenas por seu número no juri), é o único a se opor. “Mas será que ele realmente matou? As evidências são mesmo tão definitivas? Não há uma única ponta de dúvida na hora de influenciar na pena de morte de alguém?”. Por via destas dúvidas o fato é reconstituído para nós, espectadores, que o conhecemos a partir do ponto de vista daqueles homens.
A discussão gira em torno destes pontos de vista, do olhar particular deles sobre o caso (e não seria esta a base de todo o cinema?). O posicionamento de cada um é influenciado por seus medos, preconceitos, angústias e experiências. O caso bruto, possível apenas no testemunho ocular, não conheceremos. O que ocorreu naquela noite, nela ficará. Lumet, assim, parece nos dizer: a verdade, seja na imagem ou na vida, é um mistério; uma questão de ponto de vista.