Marina de Campos/ON
É possível que quinze anos se passem sem que uma história se transforme, perca o sentido ou torne-se no mínimo atrasada perto de tudo aquilo que aconteceu desde então? Não sei - e dificilmente será a sequência de Pânico a responder essa tão profunda pergunta. Estreando hoje nos cinemas passo-fundenses, a história de Sidney Prescott e o excêntrico assassino Ghosthface retorna após uma década e meia dando no público a legítima sensação de déjà vu. Trazendo os mesmos personagens, agora mais velhos numa trama que se passa dez anos após os eventos apresentados em Pânico 3, o filme tem como grande novidade - talvez inevitável após a bem sucedida sátira Todo Mundo em Pânico - a qualidade de rir de si mesmo e fazer piada com os próprios defeitos. Desprezada por aqueles que dificilmente se impressionam, e ao mesmo tempo presente em quase todas as listas de melhores filmes de terror de todos os tempos, a história volta aos cinemas sem compromisso ou qualquer pretensão de revolucionar. Como explica o crítico Marcelo Hessel, “talvez seja isso que garanta a longevidade da série: um senso de espetáculo primitivo, universal, atemporal e principalmente inofensivo, como aquelas perseguições de Scooby-Doo no corredor cheio de portas: ficamos só esperando para ver se o maníaco aparece pela da frente, do fundo, ou de ambas”. Independente de sua importância, Pânico 4 é certamente uma das continuações mais esperadas dos últimos tempos. E agora chegou.
O grito
Pânico também é cultura! Intitulada Scream no original, a saga de terror leva o mesmo nome do famoso quadro O Grito, de Edvard Munch, que também inspirou a máscara do assassino
*** Crítica do filme por Daniel Dalpizzolo, do site Cineplayers
“O que é tragédia para uma geração é comédia para a outra”.
O espírito de Pânico 4, filme que retoma a icônica franquia iniciada pelo diretor Wes Craven em 1997, pode ser definido por esta linha de diálogo extraída do próprio filme, saída da boca do xerife Dewey, o responsável pelas investigações da série de assassinatos que voltam a assombrar a pequena cidade de Woodsboro.
Depois de duas sequências fracassadas, pretensamente papa-níqueis, Craven fez um chamado ao roteirista do filme original, Kevin Williamson, e com ele resgatou tanto o cenário quanto os personagens do primeiro Pânico, mais velhos e experientes, porém não menos burros. O mesmo vale para o novo Ghostface, assassino(a) estabanado(a) e desengonçado(a), ridicularizado posteriormente na série Todo Mundo em Pânico.
Se o primeiro filme reinventava a fórmula de filmes de horror sobre serial-killer ao dar um apelo popular e engraçadinho às cenas que, a rigor, deveriam ser tensas e sangrentas, este novo Pânico trata de rir de si mesmo e do atual estado do cinema de horror comercial e bagunçar ainda mais o padrão. Tudo intencional e muitíssimo planejado, claro.
A brincadeira é interessante. Metalinguagem pura, do jeito que Wes Craven gosta. As primeiras sequências, de filmes dentro de filmes que citam e recitam outros filmes para satirizá-los, e neste saco incluem-se os próprios Pânico, geram momentos engraçados que brincam com a percepção do espectador. Onde, afinal, está o filme? O que esperar dele?
Quando o encontramos é que, curiosamente, a graça se esvai. Sabemos que a fórmula de Pânico, que horrorizou e entreteve a geração passada, já não funciona mais com a nova geração. Jogos Mortais estraçalhou tudo com seu sadismo visceral e grotesco. “Não vamos deixar que nos transformem em piada. Vamos ser a piada!”. Até imagino Craven falando isso.
Pânico 4 ri de uma fórmula que, por si só, já era meio cômica. Muitos sairão do cinema gargalhando das brincadeiras cínicas (sem juízo de valor!) do filme. É compreensível, de verdade. É bacana. A teoria da auto-sátira, o tom de galhofa, tudo muito cool, muito moderno, muito revigorante. Mas não deixo de ver este vôo como um mero rasante.