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Era forte e poderoso, mas nem mesmo entre deuses um comportamento assim arrogante poderia ser aceito. Para ensinar ao filho a virtude que lhe faltava, Odin sentenciou: “Deverás conhecer a fraqueza, sentir dor! Na Terra aprenderás que ninguém pode ser verdadeiramente forte se, em realidade, não for humilde! Por um tempo não mais serás o Deus do Trovão. Vai, uma nova vida te espera!”.
Assim nasce Donald Blake, um médico medíocre, franzino e deficiente que não faz ideia de quem na verdade é. Até o dia em que, em situação limite, depara-se com o martelo mágico Mjolnir, símbolo de toda a força, habilidade e resistência do personagem, passível de ser usado apenas pelo próprio deus ou alguém de igual nobreza. Começa aí a incrível trajetória de Thor no universo dos quadrinhos.
Isso foi precisamente antes do genial quadrinista Stan Lee criar X-Men, Demolidor e o Homem de Ferro, no mesmo ano em que deu vida ao Incrível Hulk e exatamente no mês em que inventou Homem-Aranha, seu mais popular personagem. O parceiro Jack Kirby, desenhista com quem formaria uma das duplas mais importantes dos quadrinhos, não ficava atrás: no mítico ano de 1962 já carregava a honra de ser um dos criadores do Capitão América. Assim, a história já estava escrita – naquele exato momento ressuscitavam uma lenda perdida da mitologia nórdica e criavam um dos grandes ícones da cultura pop do último século.
A aparição em Journey into Mystery #83 foi apenas a primeira de uma saga de grandes feitos. Atuando como herói na Terra, Thor foi um dos fundadores d’Os Vingadores, com quem se envolveu em inúmeras batalhas no objetivo de defender os seres humanos, o que lhe rendeu reconhecimento mundial como um herói de grande valor. Entre seus maiores inimigos estava o meio-irmão Loki, espécie de Caim invejoso que é tecnicamente o vilão mais forte de todo o universo Marvel.
Nada que não possa ser compensado pelo lendário martelo criado por Odin como sendo a mais fiel e potente arma possível. Feito de um minério místico chamado Uru e forjado pelos ferreiros de Asgard, o Mjolnir é capaz de criar tempestades e furacões, gerar raios, abrir portais entre dimensões, desferir golpes poderosos, criar escudos intransponíveis, parar o tempo e ainda possibilitar que Thor voe. Quase nada!
Aliado aos seus poderes, o carisma do personagem também fez com que se tornasse um dos mais queridos dos leitores. Os traços firmes de Kirby, somados às narrativas instigantes de Lee, que dosavam heroísmo, cavalheirismo e uma linguagem quase shakespereana, garantiram a permanência do Príncipe de Asgard nas bancas de revistas, iniciando uma tradição que já dura quase 50 anos.
Nesse meio século, Thor foi protagonista de histórias memoráveis, assinadas por artistas de destaque, entre elas a fase comandada por Walt Simonson na década de 1980. Com o tempo, suas aventuras foram se tornando mais complexas e desenvolvidas no terreno da mitologia, o que agradou ao público e atraiu vários admiradores do gênero. Renascendo a cada geração, o personagem consagrado por Lee & Kirby ganha novo fôlego com a chegada do século 21 e a abertura da brecha para se infiltrar em novas mentes descuidadas através da gigante arma de reprodução e expansão que é o cinema.
Enfim, o filme
Por incrível que pareça, Thor estreou ontem sem sofrer uma saraivada de críticas. Considerado o melhor filme da Marvel por alguns críticos estrangeiros, a adaptação é um dos projetos mais ambiciosos da editora desde o lançamento de X-Men em 2000, quando se inaugurou a atual onda de adaptações de gibis para o cinema. Tendo como ponto favorável o elenco bem selecionado, comandado pelo quase desconhecido Chris Hemsworth e reforçado por figuras talentosas como Natalie Portman e Anthony Hopkins, o filme mostra a saga do personagem entre dois mundos utilizando o melhor dos efeitos visuais que a atualidade possibilita. O diretor irlandês Kenneth Branagh, prestigiado por filmes como Henrique V, Muito barulho por nada e Hamlet, pareceu conseguir captar a grandiosidade do conteúdo e transportá-lo para as telas sem deixar para trás nem a diversão dos quadrinhos, nem a seriedade da mitologia. Talvez o melhor de Thor seja começar com o pé direito o que deverá ser o maior crossover de heróis das telas: a adaptação de Os Vingadores, reunindo em um só filme Capitão América, Homem de Ferro, Hulk e o Deus do Trovão.
“Há uma associação superficial que todos nós fazemos, do tipo cultura alta e baixa. Alguns pensam que histórias em quadrinhos não são literatura de verdade, só por causa da forma como são contadas: através de desenhos e letrinhas dentro de balõezinhos. Eles estão completamente enganados”
Kenneth Branagh