Coca Cola - Esse é o nome da Cultura Pop

No fim de semana em que a Coca-Cola faz 125 anos, o Segundo mergulha na história desse ícone da cultura pop que virou sinônimo de juventude, deu nome a uma geração, apareceu em músicas e poemas, tornou-se item de colecionador e ainda hoje é um mi

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Marina de Campos

Faz calor no centro de Atlanta, United States, e tudo o que você deseja nesse momento é uma bebida leve, saborosa e refrescante como a versão não-alcoólica de Pemberton’s French Wine Coca por meros 5 cents a glass. Hoje a farmácia do doutor Jacob vai vendê-la pela primeira vez, e ninguém sabe ainda no que isso vai dar. Você atravessa aquela rua em pleno dia 8 de maio de 1886 pensando que esse é apenas mais um dia, mas quando chega até o balcão e experimenta um gole daquela água carbonada, mal pode imaginar que está fazendo história. A partir de agora, tudo aquilo que você e o mundo mais desejam passa a ter um nome: Coca-Cola.

I’ts My Generation, Baby

Criada por John Styth Pemberton há exatos 125 anos, há muito tempo a Coca-Cola deixou de ser simplesmente uma bebida para se tornar um dos maiores fenômenos culturais do nosso tempo. Enraizada no pensamento da juventude através de hipnotizantes peças publicitárias (pin-ups atraentes, caminhões radiantes, adoráveis ursos polares e o mais perfeito retrato do Natal através daquele sorridente Papai Noel), ou ainda por slogans marcantes como Emoção pra Valer e Sempre Coca-Cola, o famoso refrigerante saiu das prateleiras e foi se colocar em cada pequena fresta do cotidiano, infiltrando-se também na produção intelectual através de citações em canções como Come  Together, dos Beatles. No Brasil isso foi ainda mais além, aparecendo com força em hinos dos anos 1980, entrele eles Revoluções por Minuto e Geração Coca-Cola, e também  no poema do concretista Décio Pignatari, Beba Coca-Cola.

Imperialista!

A presença no imaginário cultural, porém, não se deve apenas à popularidade ou à promessa de felicidade que a bebida sempre fez questão de transmitir, mas também por se tratar de um dos grandes símbolos do imperialismo norte-americano, amplamente condenado por movimentos de esquerda. A contradição, no entanto, foi logo percebida por Andy Warhol, fundador do movimento artístico conhecido como pop art (e responsável por reforçar o mito retratando a garrafa de Coca em um de seus quadros). Ao mesmo tempo em que pode representar as enormes garras dos Estados Unidos pressionando o mundo inteiro, também indica uma forma de igualdade quando proporciona a cidadãos de diferentes classes sociais o prazer de alguns goles desse intrigante líquido negro: “Pois nem todo o dinheiro do mundo compraria uma Coca-Cola melhor que a do mendigo da esquina”.

Por Deus, pela pátria, pela Coca-Coca

Em Por Deus, Pela Pátria, Pela Coca-Cola, o autor Mark Pendergrast constrói uma espécie de biografia não-autorizada da Coca-Cola. Publicado no Brasil pela Ediouro em 1993, o livro sumiu das livrarias do país, mas possui versão para download na internet.

A fórmula secreta

Tanto tempo e a Coca-Cola ainda é um mistério. Surgida no final do século 19, a bebida encontrou espaço durante a onda de puritanismo religioso que fechou todos os estabelecimentos onde eram vendidas bebidas alcoólicas. Após meses trancado no porão de sua casa adicionando ingredientes à água carbonada na tentativa de produzir um novo xarope, Pemperton chegou à fórmula da Coca. O nome foi dado posteriormente pelo sócio Frank Robinson, que utilizou a própria caligrafia para fazer a logomarca usada ainda hoje. Apesar de promissora, no primeiro ano a bebida se mostrou um fracasso, já que vendeu 25 galões e rendeu apenas US$ 50 aos inventores. Dois anos depois, Pemberton vende a fórmula por míseros 1.750 dólares e passa adiante um dos grandes mistérios do século. No início de 2011, surgiu na internet a suposta fórmula mágica: açúcar, cafeína, ácido cítrico, caramelo, baunilha, limão, laranja, noz-moscada, coentro, canela, neroli e, claro, extrato de coca.  

Coke, Cocaine

Verdadeira ou não, a receita revela os ingredientes mas não soluciona os milhares de enigmas que permeiam a história do refrigerante, entre eles a possibilidade de utilização de folhas de coca na produção da bebida, polêmica reacesa por Evo Morales em 2005, quando afirmou que a Coca-Cola  comprava toneladas do produto na Bolívia.  Inicialmente anunciada como uma “bebida intelectual, vigorante do cérebro e tônica para os nervos”, a Coca-Cola passou a ser alvo de críticas em relação a possíveis danos à saúde, relacionados ao seu nível de acidez e à suposta contribuição para a osteoporose.  Apesar do seu caráter “viciante”, a bebida não chega a ser unânime. Sucesso absoluto no Brasil, a Coca-Cola perde para sua grande rival Pepsi na Argentina, corre atrás do refrigerante local Irn Bru na Escócia e
e fica longe da versão islâmica Mecca-Cola no Oriente Médio.

Como se tornar um mito

Mas não pense que esse lado obscuro da Coca-Cola a prejudica. Pelo contrário: certezas e gentilezas não fazem de você um mito, mas sim a sua força perante qualquer tipo de obstáculo ou escândalo. Foi isso, aliado à melhor estratégica de marketing e publicidade de que já se ouviu falar, que fez com que a Coca se tornasse o mito que é. Ela está presente na sua mesa de jantar, no seu lanche na escola ou no escritório,  no cinema, no parque, na cama ou onde quer que você esteja. E numa das suas gavetas existe um artigo de coleção carregando aquelas letras - um gelouco, um minicraque, quem sabe um io-iô -, e nos seus piores ou melhores momentos, como se possuísse mesmo algum segredo, ela está ali, ao seu lado. Sinônimo de sede, sabor, imperialismo, felicidade, exploração, igualdade, desigualdade ou satisfação, não importa: bem no fundo você sabe, a Coca-Cola é a dose de utopia líquida da qual você precisa.

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