De Passo Fundo para Hollywood

Em entrevista ao Segundo, o cineasta passo-fundense Renato Falcão conta como foi trabalhar na direção de fotografia do filme Rio, e fala dos projetos que tem pela frente em Hollywood

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Marina de Campos

    Quando você imaginou que, por trás da marca de dois bilhões de dólares em bilheteria arrecadados pela Fox este ano, estaria um diretor brasileiro? E, mais do que isso, também um passo-fundense? Fenômeno mundial de aceitação, Rio conquistou o público através de aves dóceis como araras e canarinhos, mas foi um falcão que chamou a atenção do Segundo. Cineasta de 48 anos nascido em Passo Fundo, Renato Falcão figura nos créditos da animação norte-americana como diretor de fotografia, ou seja, aquele responsável pela forma como o roteiro cinematográfico vai ser transposto para a película na forma de fotografia. Morando nos Estados Unidos há vários anos, o diretor aceitou falar sobre a sua trajetória no cinema e o bom momento que vive atualmente, citando por diversas vezes a cidade natal. Em entrevista exclusiva, o diretor falou da importância do longa para a visibilidade do Brasil e os projetos que tem em mente, entre eles a participação no A Era do Gelo 4, que tem estreia mundial em julho de 2012.

 

Atualmente você mora nos Estados Unidos e é parte importante de um filme que tem liderado bilheterias em todo o mundo. Mas o caminho entre Passo Fundo e Hollywood é longo... Como tudo isso começou?
Renato Falcão –
O caminho foi mesmo longo. Desde muito cedo me interessei por um rumo artístico, mas sem saber exatamente o que fazer e como fazer. Sempre gostei muito de cinema, mas isso me parecia algo quase impossível, não havia nenhuma referência em Passo Fundo que pudesse me orientar, e buscar informações era difícil, pois isso foi antes da internet. Acabei focando na música, algo muito mais presente e possível. Logo me dei conta de que uma área que eu tinha facilidade era a composição, neste momento já em Porto Alegre comecei a estudar mais e aos poucos fazer trilhas sonoras para comercias e para teatro. Esta foi a fase que mais me deu prazer musicalmente, e com isso o início de uma aproximação com atores e com cinema. Assim conheci o ator Manoel Aranha, que me convidou pra fazer a trilha da peça O Homem da Flor na Boca, e pouco após a estreia ele soube que estava com Aids. Este momento trágico acabou se tornando positivo quando Manoel decidiu transformar a peça numa campanha de prevenção à Aids. Isso me abriu portas para vários outros trabalhos, inclusive um curta com Iberê Camargo, onde gravei minhas primeiras cenas como diretor. Depois disso vim para os Estados Unidos, onde estudei cinema, fiz outro curta e nunca mais parei de trabalhar na área.

Você dirigiu A Festa de Margarette, um filme que conquistou prêmios e ganhou
reconhecimento em todo Brasil. Esse rumo que sua carreira tomou era um desejo, um projeto seu, ou as coisas aconteceram naturalmente?
Renato Falcão
- Com certeza é uma combinação destas coisas, o desejo tem que estar presente, com isso acaba existindo um rumo natural, muita perseverança e um pouco de sorte também. Quanto ao Festa de Margarette, o roteiro nasceu de um sonho que tive e escrevi ao acordar. Aos poucos notei que poderia se tornar um filme sem diálogos, e com a entrada do Hique Gomez o processo foi muito fácil e criativo. Em cinema eu acho que é muito importante você saber bem todas as áreas que atuam no processo, um diretor tem o dever de saber muito bem tudo aquilo que ele vai pedir para seus companheiros, a dúvida é uma inimiga na hora da produção. Gosto muito de dirigir e claro que adoraria filmar mais, mas gosto também de trabalhar como diretor de fotografia, uma área com um trabalho muito intenso no set de filmagem. Gosto desse desafio diário de levar à tela aquilo que até então estava num roteiro.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar em Hollywood, no filme Rio, projeto grandioso da 20th Century Fox?
Renato Falcão -
O convite para trabalhar no filme Rio veio do meu contato pessoal com Carlos Saldanha, que é o diretor do filme e também é brasileiro. Somos amigos há muito anos e sempre fui um grande fã do seu trabalho com animação. Quando o projeto Rio iniciou, ele me convidou para fazer uma entrevista na Blue Sky, pois estavam procurando um diretor de fotografia com experiência em filme com atores para ajudar a fazer os filmes de animação ainda mais próximos da realidade. Fui convidado para ir ao Rio e filmar com um pequeno grupo de técnicos do estúdio cenas de locais e situações para serviriam de referência para todo o estúdio. Este material foi utilizado em vários departamentos na construção de cenários, adereços, etc. Após esta viagem veio o convite para fazer parte da equipe.

Diferente de filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, que mostram nossos problemas sociais, Rio leva ao mundo o lado mais alegre do Brasil. Você considera isso um passo importante para a auto-estima da população, acredita que o cinema tem esse poder?
Renato Falcão -
Certamente o cinema tem este poder, e fico feliz de fazer parte de um filme que está servindo para mostrar um lado às vezes esquecido do Brasil, temos qualidades que poucos países têm, e temos belezas que também poucos países têm. Tenho muito orgulho de ser brasileiro, assim como o Carlos Saldanha também tem, e tivemos o privilégio de ter este projeto aprovado pela 20th Century Fox para poder mostrar o Brasil como ele merece. Eu acho importante que existam filmes que mostrem todas as realidades, alguns servem como reflexão dos nossos problemas e podem ser usados para entender e possivelmente resolver estes problemas, e acho importante que existam filmes como o nosso, onde o lado alegre, bonito, emotivo e cativante do brasileiro possa ser levado para todo o mundo.

Atualmente você trabalha na sequência de A Era do Gelo. Pensa em seguir carreira nos Estados Unidos ou retornar ao Brasil com essa experiência e rodar seus próprios projetos por aqui? Como você vê o momento do Brasil em relação ao mundo?
Renato Falcão -
Estamos trabalhando no A Era do Gelo 4 e também na próxima produção da Blue Sky chamada The Leaf Men, com direção do Chirs Wedge, um dos fundadores do estúdio. Pretendo fazer estes dois filmes e depois avaliar o próximo passo. Sempre considero filmar novamente no Brasil e no Rio Grande do Sul, talvez mesmo em Passo Fundo, mas o processo de financiamento de um filme é algo muito complexo, difícil saber exatamente quando e qual será meu próximo filme de ficção no Brasil, mas no momento estou dirigindo um documentário com o Totonho Villeroy sobre criação musical, estamos viajando pelo mundo e em cada lugar o Totonho cria uma música nova com um compositor local, já filmamos em Nova York, Paris e em Kinshasa, no Congo, isso tudo em pequenos intervalos e fins de semana durante a produção do A Era do Gelo, é um filme pequeno mas muito intenso e criativo. Quanto ao momento do Brasil acho que não poderia ser melhor, somente este ano serão três grandes estreias mundiais de filmes de Hollywood no Rio de Janeiro, logo teremos a Copa e as Olimpíadas, isso tudo deixa as pessoas em todos os países muito receptivas ao Brasil e cabe a nós saber usar isso para mostrar o que temos de melhor.

Ficha do diretor (em inglês)

About the Director

Born in Passo Fundo, Brasil in 1963, Renato Falcao is an award-winning cinematographer and director. He has shot five feature films and more than 20 short films, as well as numerous documentaries, television miniseries, and music videos, winning several awards for his work at film festivals around the world.

As a cinematographer, Renato shot his first internationally acclaimed short film, “Presage”, in 1993. His 1994 short film, “Save me”, received awards at the 1995 Houston Worldfest and the Columbus International Film Festival. In 1997, his short film, “Dearly Beloved”, produced by The Shooting Gallery and starring Eric Stoltz, received the Best Short Film Award at the 1997 Houston Worldfest. Renato has also served as cinematographer for the critically acclaimed feature, “Neptune's Rocking Horse”, and the highly grossing independent film, “American Desi”.

Renato made his directorial debut in 1994 with the documentary, “Um Ato de Amor à Vida”, which played a consequential role in the AIDS prevention movement in Brasil. In 2002, Renato served as director, as well as writer and cinematographer, for his first feature film, “Margarette’s Feast”, which received the Best Music Award at the “Cine Ceara 2002 — Brasil”, and the awards for Best Art Director and Best New Director at the “35 Festival de Cinema de Brasilia — Brasil”, the oldest and most respected Brazilian Film Festival.

Renato has studied with well-known directors of photography such as Laszlo Kovacs A.S.C, Sol Negrin A.S.C, and the Oscar winning Richard Shore A.S.C., as well as the great Cuban filmmaker Humberto Solás.

He is currently in postproduction for the documentary, “Iberê”, about the great Brasilian painter Iberê Camargo.

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