Um lugar qualquer

Coluna de crítica de cinema www.cineplayers.com

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por Daniel Dalpizzolo @dandalpizzolo / [email protected]

É difícil resistir a Um Lugar Qualquer, o novo filme de Sofia Coppola, que chega às locadoras neste mês de julho. Difícil porque, mais uma vez, a cineasta se consolida como uma bela encenadora, compondo planos e cenas tocantes e que emocionam de forma bastante singela, apenas registrando gestos e olhares com uma delicadeza afetuosa. Difícil também porque, por maior que seja a camisa de força criativa que envolve o filme, fortalece um plano de trabalho que iniciou em As Virgens Suicidas, primeiro filme da cineasta, e que encontrou seu expoente máximo na obra-prima Encontros e Desencontros, seu grande filme até então, acompanhando personagens que parecem não pertencer à realidade em que vivem.  A semelhança com Encontros e Desencontros é tanta que tem feito alguns torcerem o bico para o filme num geral, mesmo reconhecendo os trunfos dele. Mas prefiro racionalizar menos e aproveitar o que de melhor Coppola tem a oferecer com ele: uma viagem a um universo tão particular e minimalista de um personagem que, em sua ficção, parece dizer muito sobre o próprio sentimento da autora em relação à vida que leva, além de trazer uma retratação do tédio e da solidão enquanto condições humanas que fazem o filme se aproximar do cinema de outros cineastas clássicos como Michelangelo Antonioni - relação que mais tem sido feita com Um Lugar Qualquer, e que me parece bastante acertada. Por outro lado, é verdade que há certo exagero na construção do tédio de seu protagonista (o que não acontece em Encontros e Desencontros, onde a insatisfação é muito mais palpável), um astro de Hollywood que vive preso a uma fortaleza cercada por muros de hoteis de luxo, piscinas, Ferraris, bons drinks e belas mulheres, mas que no final das contas encontra no sorriso de sua filha, com a qual não vive, seu verdadeiro recanto de felicidade. Ok, às vezes mais vale um abraço afetuoso a um maço de dólares, whisky e nudez, mas a escolha de registrar seu personagem como um robô enquanto participa de sua vida de artista acaba fazendo um contraponto estranho ao calor humano que emana das demais cenas – tudo bem estar insatisfeito, mas que também se aproveite um pouco as coisas boas que sua condição social oferece. --- De qualquer forma, um problema menor diante de um filme tão bonito de se ver.

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