Passe livre

Coluna de crítica de cinema www.cineplayers.com

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por Daniel Dalpizzolo @dandalpizzolo / [email protected]

Responsáveis por alguns dos mais prolíficos momentos da comédia hollywoodiana das últimas décadas (Debi & Loyde, Quem Vai Ficar Com Mary?, Eu Eu Mesmo e Irene, entre outros), os irmãos Peter e Bobby Farrely retornam em Passe Livre a um conceito de comédia grotesca que parecia levemente adormecido em seus últimos trabalhos.

Ao contrário de filmes como Ligado em Você e Amor em Jogo, construídos sobre um equilíbrio entre a sensibilidade romântica e a comédia de costumes, aqui os Farrely’s reconfiguram seu olhar cômico ao adentrarem à crise da meia idade, tema até então não explorado, e fazerem da monotonia sexual dos casamentos o ponto de partida de um humor rasgado, visual, insano e escatológico que, em seus melhores momentos, chega a se equiparar ao nível cômico de seus filmes da década de 90.

Durante uma semana, dois amigos de longa data recebem de suas esposas um “passe livre” para procurarem mulheres para transar sem culpa. Enquanto isso, ambas vão à praia. A idiotia do homem americano, sempre ressaltada pela comédia dos irmãos, é o grande estouro de Passe Livre, onde acompanhamos as fracassadas (e geralmente muito engraçadas) tentativas de dois quarentões obsoletos que, pelo avanço da idade, já não possuem o menor jeito para conquistar mulheres – e na grande ironia dos irmãos, através de uma sempre interessante montagem paralela, acabam se dando muito pior do que as suas mulheres.

O humor ao mesmo tempo doente e bem sacado dos Farrely, que os besteirois tanto tentam imitar e pouco conseguem, afronta diretamente a noção de bom gosto das comédias românticas e politicamente corretas que tanto saltam por aí. Piadas com nu frontal masculino, masturbação, problemas intestinais, vômito, sexo, enfim, de nada poupa-se o filme para a construção de um humor que sempre surpreende por sua coragem estúpida.   

E se ao final de tudo Passe Livre pode ser taxado de conservador e covarde ao praticamente retornar ao ponto zero depois de todas as provações dadas aos seus personagens, a verdade é que, na piada derradeira, a ironia dos Farrely encontra um pessimismo pouco comum a Hollywood.

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