Marina de Campos
Fazer rir sem o auxílio da palavra não chega a ser novidade, pois Chaplin já fazia isso com maestria lá pelos idos de 1930. Ele era, inclusive, um dos grandes defensores do cinema mudo, por considerar a sétima arte essencialmente pantomímica, completa na expressão de sentimentos a despeito de qualquer espécie de explicação ou texto. Ele acabou vencido por um cinema falado que nos domina até hoje, mas suas ideias não foram esquecidas. Fundada em 1993, a companhia carioca Etc e Tal leva para o teatro essas inúmeras possibilidades da mímica, aliando pesquisa artística e auto sustentabilidade no cenário teatral do país. Com o espetáculo Fulano e Sicrano, que chega a Passo Fundo neste fim de semana através do Arte Sesc - Cultura por toda parte, o grupo explora o humor e a linguagem dos quadrinhos e da animação, pegando o espectador de surpresa e colocando no palco a comicidade inusitada das situações mais banais do cotidiano. Se revezando em diferentes fulanos e sicranos, os atores Alvaro Assad e Marcio Moura apresentam uma linguagem particular que mescla situações cômicas, gromelô, mímica e a imperdível pantomima literária, narração simultânea à ação em mímica. Dividida em três atos, a peça utiliza a precisão da linguagem gestual em sintonia com a comédia popular nos atos A tragédia de Elizabeth Maria, que conta a história de um dia atribulado na vida de uma mulher comum, O Dentista, sobre a ida de um paciente ao dentista, gerando uma hilariante perseguição que induz o público a acreditar que existam um elevador e uma escada rolante em pleno palco, e ainda a Valsa Submarina, exibindo um apoteótico encontro na água onde, ao som de Danúbio Azul, os personagens recriam uma coreografia de nado sincronizado. Conquistando o respeito e a admiração de público e da crítica por todo país como um núcleo artístico que alia virtuosismo técnico, presença cênica e um humor próprio, o espetáculo é um grande programa para domingo à noite.
Espetáculo
Fulano e Sicrano,
da Cia Etc e Tal (RJ)
Teatro de mímica com os atores Alvaro Assad e Marcio Moura
Domingo, 14, às 20h,
no Teatro do Sesc