Marina de Campos
A Jornada chegou nos 30 e não parou de ler quadrinhos. Pelo contrário: descobriu todo um universo para além dos gibis que lia na infância e as tiras e cartuns da adolescência, chegando às graphic novels que pouco lembram as tradicionais histórias de super-heróis por seu teor adulto de desenhos e tramas realistas, baseadas na ideia de que ninguém é uma ilha e na importância que uma pessoa tem na vida da outra, como dizem Moon e Bá ao explicar o que desejam passar com suas histórias. Esses quadrinistas gêmeos de São Paulo são, inclusive, duas das grandes atrações da 14ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, que nesse ano dá atenção especial ao público jovem trazendo aqueles que são simplesmente os maiores nomes dos quadrinhos brasileiros atuais. Recém-premiados nos EUA com a maior distinção do gênero, o Eisner Awards, Fábio Moon e Gabriel Bá vem à cidade parecendo inaugurar uma nova fase do evento, na qual vertentes “alternativas” da literatura como os quadrinhos adultos ganham mais espaço e reconhecimento. Além dessa ótima escolha, a organização da Jornada não deixa de fora aqueles nomes tradicionais que fazem parte de sua própria história, entre eles Ziraldo, Paulo e Chico Caruso, Edgar Vasques e Mauricio de Sousa
Moon e Bá
Os maiores nomes dos quadrinhos brasileiros da atualidade vêm para a 14ª Jornada de Literatura logo após conquistar o segundo Eisner de suas carreiras, dessa vez pelo título Daytripper, lançado nos EUA e ainda inédito no Brasil. Consagrados por títulos como Mesa para dois, 5, O Alienista, Rock’n’Roll, Umbrella Academy e Casanova, escritos em parceria ou não, os paulistas Fábio Moon e Gabriel Bá trazem suas experiências ao público jovem no segundo dia da Jornight, dividindo o palco com os também gêmeos e cartunistas Irmãos Caruso. Em resposta ao Segundo por e-mail durante uma viagem a Angola, para participação no Luanda Cartoon, Fábio falou sobre a missão de levar uma nova forma de encarar os quadrinhos a diferentes partes do país e do mundo, incluindo a Jornada de Literatura de Passo Fundo. “Acho que as Histórias em Quadrinhos estão num bom momento na medida em que o público tem percebido o potencial do conteúdo das histórias, não só suas imagens. Acho que boas histórias, que fazem as pessoas refletirem e aprenderem, estão sendo produzidas em quadrinhos hoje em dia. Nós somos representantes dessa nova geração, e nossa produção nos leva a todos os tipos de festivais onde há discussão, reflexão e aprendizado através de cultura, como acontece com a Jornada de Literatura” Fábio Moon
Mauricio de Sousa
Criador do gibi brasileiro mais popular de todos os tempos, Mauricio de Sousa volta à Jornada neste ano trazendo as comemorações pelos seus 50 anos de carreira. Em entrevista ao Segundo por telefone, ele falou do prazer de voltar nesse momento. “Estamos lançando o terceiro álbum do projeto MSP50, que está abrindo caminho para diversos novos autores, e consagrados autores das HQs mundiais, são desenhistas de várias partes do mundo, todos nessa homenagem, fazendo releituras de personagens da Turma da Mônica. Fico muito feliz de estarmos, eu e Passo Fundo, comemorando datas tão importantes!”, lembra o autor. Sobre o sucesso absoluto do título Turma da Mônica Jovem, ele se revela ambicioso. “É como se estivéssemos seguindo uma trilha dos jovens nos seus hábitos de leitura. As crianças leram as crianças, os jovens estão lendo a Turma da Mônica Jovem, e está me passando pela cabeça criar mais uma terceira linha com a Turma da Mônica mais madura, já adulta e com outros tipos de situações, de vivências, aonde eu possa liberar assuntos que até agora não pude explorar”, conta. “Essa ideia vem ao encontro de uma tendência mundial de encarar os quadrinhos de uma outra maneira, como uma arte para qualquer idade. Inclusive, na reunião semanal que temos na Academia Paulista de Letras, o presidente Antonio Penteado Mendonça me contou que, ao ser questionado por jornalistas sobre uma cadeira ser ocupada por um autor de quadrinhos como eu, afirmou que a Academia tem que estar aberta a todas as letras, e letras englobam tudo que é escrito, e se for bem escrito e tiver uma boa mensagem, estaremos lá”, diz Mauricio. “Estamos lançando cada vez mais livros, para criança que está aprendendo a ler, para a garotada que está querendo algo de aventura, e quero chegar aos meus textos voltados ao público adulto, mas aí eu preciso achar tempo pra isso. Estou treinando com minhas crônicas, meus pequenos contos, mas quero chegar lá, num livrão de 200 páginas, e quero ter o prazer de lançá-lo num evento tão importante quanto a Jornada”.
Irmãos Caruso
Gêmeos univitelinos nascidos com um intervalo de meros cinco minutos, Paulo e Chico Caruso têm trajetórias bem parecidas.Ambos apaixonados por charges, caricaturas e ilustrações em geral, começaram carreira nos anos 1960 e foram atrapalhados pelo AI-5 durante a ditadura, tentando seguir então o ramo da arquitetura. Nenhum dos dois aguentou, retornando então para o desenho. Enquanto Paulo passou pela Folha da Tarde, O Pasquim, Careta e IstoÉ com sua obra essencialmente política, Chico levou suas charges subjetivas à Gazeta Mercantil,Opinião, Movimento, Istoé, Jornal do Brasil e O Globo.
Os dois também integram o Conjunto Nacional.
Edgar Vasques
Famoso cartunista gaúcho, Edgar Vasques participa da Jornada dentro do Encontro Estadual de Escritores Gaúchos, no painel do dia 23 de agosto. Com carreira iniciada no Correio do Povo, Vasques é conhecido por seu personagem Rango, um ser esfomeado que vive em meio ao lixo e nunca deixa de fazer observações irônicas sobre a desigualdade social brasileira, mesmo durante a ditadura militar. Ele conquistou sucesso nacional ou adaptar para os quadrinhos o livro O Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo.
Ziraldo
O pai do Menino Maluquinho é freguês das Jornadas Literárias. Aclamado escritor infantil, Ziraldo retorna a Passo Fundo neste ano para participação no palco de debates no dia 23, com o debate Literatura na era dos bits, e também na Jornadinha, dentro da programação do Conversas com o escritor ao lado de Mauricio de Sousa. Natural de Minas, Ziraldo tem um extenso currículo, no qual estão presentes passagens pela revista Cruzeiro e Jornal do Brasil. Além disso, participou da criação d’O Pasquim, revista Bundas e A Palavra. Entre as leituras indicadas desta edição, está o livro O Aspite - Há um jeito pra tudo, que marca um novo período de sua carreira com textos voltados para o público adulto. Para as crianças, continuam valendo leituras como O Menino Maluquinho e O Joelho Juvenal.