Crítica: Meia-noite em Paris

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por Daniel Dalpizzolo @dandalpizzolo / [email protected]

Meia Noite em Paris é a primeira homenagem consumada do cineasta Woody Allen à capital francesa, conhecida por sua adoração à arte e por ter abrigado grandes figuras da música, do teatro, da literatura e do cinema. E, não apenas por isso, é desde já um filme icônico na carreira de Woody Allen. Foi com ele que Allen curiosamente reconquistou o apreço popular em seu país natal, os Estados Unidos, no qual o filme se tornou a maior bilheteria de sua carreira – lembrando que o interesse dos norte-americanos pelo diretor havia encerrado ainda nos anos 90. Também se tornou a maior bilheteria de sua carreira em todo o mundo, rendendo uma corrente, tanto de crítica quanto de público, que consideram-no retorno do diretor à “velha forma”.

A ironia não se resume ao fato de Meia Noite em Paris ter sido filmado novamente em exílio e, ainda assim, ser um sucesso no país que vinha fechando as portas do show business para Allen – que foi filmar na França justamente por novamente não conseguir financiamento lá. Mas sim em ser um filme que apresenta a França como um país avesso aos seu, apaixonante justamente por tratar seus ídolos com tamanha devoção e apreço e, principalmente, por guardar com vivacidade muito da história da arte – e consequentemente do mundo – em suas ruelas, becos, praças e bares, homenageadas pelos planos apaixonados do filme, que emolduram seus personagens com locais típicos da cidade.

Através de um realismo fantástico que lembra filmes como A Rosa Púrpura do Cairo, um dose maiores sucessos de Allen, o diretor coloca o protagonista em conflito com seus ídolos, através de viagens no tempo que o fazem trocar algumas ideias com Picasso, Hemingway, Dalí, Buñuel, entre outros ilustres habitantes da Paris dos anos 20. E se a delicadeza e a leveza com que trabalha estes encontros vem encantando o público por onde passa, a verdade é que Allen segue o mesmo senhor insatisfeito que, há pouco tempo, era rechaçado por todos como sendo um cineasta cansado e repetitivo. Pois é da eterna insatisfação do ser humano que fala Meia Noite em Paris, um tema que, embora sem a mesma amplitude do contexto temporal dado pelo cineasta a este filme, no qua olha o passado como um tempo desejado por todos e para o presente como um castigo existencial, segue sendo a chave principal do cinema de Allen, que, a julgar pela bem sucedida recepção do filme, parece ter encontrado aqui a forma certa de se comunicar com o público em geral - e especialmente, com o de seu país natal.

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