Hoje é muito difícil não ser canalha. O canalha é o pior solitário. O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte. Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos. Nunca vi um sujeito anunciar, de testa erguida: “Senhoras e senhores, eu sou um canalha”. Se Nelson Rodrigues pudesse ir ao teatro nesta noite, veria. Canalhas assumidos - com direito a três exclamações imitando o vigor raivoso que essa palavra carrega cada vez que é proferida com destino certo - o elenco masculino da Cia da Cidade sobe ao palco para assumir em diferentes faces, todas acaveiradas, esse personagem permanente na obra do dramaturgo mais controverso do país. O canalha boêmio, o canalha disfarçado, o canalha incompreendido. Livremente inspirada na vasta obra de Nelson, a peça traz a companhia de volta aos palcos mantendo a antiga parceria com o diretor curitibano Edson Bueno, que transforma um palco vazio, algumas cadeiras de boteco e muita cerveja num verdadeiro confessionário de prazeres e desventuras ao melhor estilo rodrigueano. “Tentamos trazer o homem no seu limite, entre o patético e o sublime, de uma forma sincera. São confissões, tal qual a literatura de Nelson Rodrigues, um retrato da alma do brasileiro. Os atores se misturam a personagens que, de peito aberto, relatam suas experiências de vida”, explica o diretor. “É o Nelson Rodrigues que pensa na vida, que é patética de tão apaixonada, trágica de tão vivida; e às vezes violenta de tão reprimida”, observa Bueno, deixando escapar o fascínio pelo autor que é constante nos palcos brasileiros, e agora também ganha Passo Fundo com essa livre adaptação.
Assista!
Canalhas!!!, da Cia da Cidade
Nessa sexta e sábado,
dias 2 e 3 de setembro,
às 20h, no Teatro do Sesc
O espetáculo é inadequado para menores de 18 anos