Antes de qualquer coisa, deve-se alertar a todos que pretendem conferir o belo filme que é este Namorados Para Sempre que, bem, podem escolher uma dessas opções: ou a tradução do título original (Blue Valentine) para o português foi uma jogada da distribuidora para angariar público na semana do Dia dos Namorados, quando lançado nos cinemas no país; ou foi brincadeira imbecil de algum tradutor entediado; ou quem sabe o resultado do trabalho de alguém que sequer se prestou a ver o filme.
Porque se existe uma ideia com a qual o trabalho de estreia de Derek Cianfrance não compactua, de forma alguma, é justamente a da eternidade do amor e das relações a dois – que aqui, como na vida, duram o quanto podem durar, se tornando um peso morto depois que a paixão entre ambos encerra. Namorados Para Sempre (doi escrever isso, viu) é um registro extremamente seco e direto dessa visão contrapontual de um relacionamento, acompanhando em uma narrativa não-linear, de idas e vindas no tempo, os momentos de felicidade do início da relação de seus protagonistas e as recorrentes brigas e a destruição deste relacionamento anos depois.
O filme funciona como um encontro entre Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, de Woody Allen, com o cinema de John Cassavetes, cineasta independente norte-americano que parece ser a fonte mais revisitada por Cianfrance para traçar este equilibrado olhar sobre seu casal. E o equilíbrio se faz presente tanto nas escolhas de narração, que visita “bons” e “maus” momentos dos dois paralelamente de maneira bastante funcional, quanto no ponto de vista que sustenta até o final, isento de julgamentos morais ou de filosofias baratas sobre a vida, o que é louvável se compararmos o filme com outros da mesma temática.
É um cinema de frontalidade, que não faz concessões, que não amacia as sensações nem tenta agradar o espectador com picos de sentimentalismo bobo ou de melodrama excessivo. Um filme tocado em uma nota só. E este tom de verdade pretendido (e atingido) por Derek Cianfrance faz com que Namorados Para Sempre valorize a si mesmo e cresça diante da discussão proposta, que na inevitabilidade do destino daquele casal encontra, enfim, o que me parece ser a única ideia possível de eternidade ali: a preservação das recordações dos bons momentos vividos entre ambos. Mesmo que, para conseguirem lidar com isso, a solução seja seguirem em frente sozinhos.