Thriller políticos são perigosos. A estrutura narrativa, salvo poucas exceções, é praticamente sentenciada pela própria opção pelo gênero. Um conflito é instalado, e a garantia de sucesso ou não do filme depende, principalmente, de como o diretor sustentará o interesse de seu espectador até a resolução deste mistério, que por suavez determinará muito da forma como será visto o filme após o término da sessão (afinal, em um suspense, a solução do mistério é o prato principal para o público).
Christoffer Boe, cineasta dinamarquês responsável por Tudo Ficará Bem, certamente sabia disso antes de filmar este exemplar típico do gênero. E é talvez esta preocupação excessiva em organizar as ideias para justificar-se ao espectador ao final de seu filme o grande golpe dado pelo diretor para, por mais irônico que seja, arruinar completamente a experiência - que até então era bastante simpática, com méritos evidentes de encenação e de narração.
Tudo Ficará Bem acompanha um roteirista, cujo prazo para entrega dp roteiro de um filme sobre soldados do exército dinamarquês está esgotando. O homem, que junto de sua mulher aguarda a liberação para adoção de uma criança, vive dias angustiantes, e pra piorar tudo encontra fotografias que acredita ser de uma tortura real ocorrida dentro do exército, a qual passa a investigar para vender a história aos jornais locais.
A trama é promissora, e Boe sustenta com eficiência a progressão da paranoia vivida pelo protagonista, que se torna obcecado pelo caso à medida que as coisas vão se tornando mais confusas. A paranoia de seu personagem parece funcionar também como um medidor do que o filme irá ou não mostrar, como se acompanhasse o olhar de seu protagonista sendo aos poucos confundido entre o perigo iminente e o perigo imaginário - o que rende momentos bem interessantes, especialmente pela fotografia moderninha, com luzes estouradas e ambientes coloridos, que dão uma atmosfera interessante à obra.
Mas é na hora de resolver sua trama que Boe se complica, acovardando-se e afundando o filme através de um longo e horrendo flashback explicativo que, apesar de resolver o problema instalado, o faz da forma mais repugnante possível. É simplesmente inaceitável, irritante, ultrajante. O que não anula as qualidades das boas sequências que vimos na hora anterior, mas deixa uma terrível sensação de que, na falta de ideias, o realizador acabou optando pelo caminho mais seguro. Fez, assim, um quase-bom filme.
Crítica de cinema: Tudo ficará bem
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