O primeiro Buk

L&PM relança Cartas na rua e completa catálogo de Charles Bukowski no Brasil

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    Haviam sete substitutos - Tom Moto, Nick Pellegrini, Herman Stratford, Rosey Anderson, Bobby Hansen, Harold Wiley e eu, Henry Chinaski. É na última linha da página 8 de Cartas na rua em que se lê pela primeira vez esse nome. “Henry Chinaski”, o alter ego que acompanharia Charles Bukowski por toda vida e transformaria sua obra num dos diários pessoais mais sórdidos e terrivelmente honestos de que se tem conhecimento na literatura. Grandioso pela habilidade de reverter sua mediocridade, o controverso autor norte-americano começou a escrever aos 15 anos, mas foi apenas aos 51 que lançou seu  romance de estreia, agora finalmente de volta às prateleiras após um bom tempo esgotado.  Com isso, pela primeira vez todos os romances do autor estão disponíveis em catálogo para o público brasileiro através da L&PM Editora. Os demais são Factotum, Mulheres, Misto-Quente, Hollywood e Pulp.

Vida de carteiro

    Quase irônico que, em tempos de greve dos Correios, chegue ao público este livro que é quase um tratado sobre as desventuras da profissão. Com uma clara referência já no próprio título, Cartas na rua trata do período em que o escritor se candidatou à vaga de carteiro temporário ainda nos anos 1950,  aquilo que seria apenas o começo de uma rotina de 14 anos separando, carregando e entregando correspondências. Claro que, se tratando de Bukowski e seu alter ego tão pessimista e sarcástico quanto ele, o trabalho se torna um peso massacrante e pouco compatível com seu cotidiano noturno de porres e ressacas ao lado da igualmente decadente Betty.

    Característica indiscutível do autor, o romance é fortemente autobiográfico, refletindo com exatidão a sua vida antes - e até mesmo depois - do sucesso. Fundador da Black Sparrow Press, o editor John Martin conta que foi ele quem sugeriu ao autor que escrevesse um romance, pois era a melhor forma de se ganhar dinheiro com literatura. Prontamente, Bukowski telefonou para Martin poucos dias depois e ordenou lacônico: “Venha buscar”. Lançado em 1971, o livro deu o pontapé inicial para uma brilhante carreira que se estenderia até 1994.

O honesto
    Narrador nato e fundador de um estilo inteiramente despido de formalidades, inspirado não em grandes feitos mas  sim na mais pura decadência humana, o escritor norte-americano surgiu em um tempo em que se buscava honestidade e realidade com a qual o público jovem pudesse se identificar. A prosa coloquial e por vezes obscena de Buk funcionou, e até hoje ele é “um desses escritores que cada novo leitor descobre com uma emoção transgressora”, como definiu a revista New Yorker. Para iniciantes ou velhos fãs do autor, o livro é uma boa pedida.

Entre livrarias, estantes e sebos
A trajetória de Bukowski no Brasil é de altos e baixos. Apesar de a maioria de seus títulos terem saído pela editora L&PM em acessível formato pocket, até pouco tempo um de seus mais cultuados romances encontrava-se esgotado. Originalmente publicado pela editora Brasiliense ainda em meados dos anos 1980, Mulheres era motivo de disputa em sebos e de orgulho em coleções pessoais país afora, até metade deste ano, quando foi relançado pela L&PM. Além de completar o catálogo de romances do escritor com Cartas na rua, a editora também tem títulos como Ao sul de lugar nenhum, Fabulário Geral do Cotidiano, Crônica de um amor louco, Notas de um velho safado, O amor é um cão dos diabos e Numa fria, entre outros.

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