Não é todo dia que estreia por aqui um laureado com a Palma de Ouro em Cannes. Muito menos quando este se trata de um ambicioso épico sobre a força da natureza através dos tempos, assim contado por meio de belíssimas imagens, tocantes atuações e uma relação entre pai e filho como perfeita metáfora para a história da humanidade desde o seu surgimento até onde ninguém pode prever. Observado com atenção após a vitória, o filme A Árvore da Vida foi o responsável por trazer de volta ao cinema o nome de Terrence Malick, diretor norte-americano de trajetória bastante peculiar. Apesar de aclamado em suas produções e dono de uma carreira de mais de 40 anos, Malick dirigiu apenas cinco longas, entre eles Terra de ninguém, Cinzas no paraíso e Além da linha vermelha, havendo entre estes últimos um intervalo de exatos 20 anos. Assim, intrigante e extremamente meticuloso em suas obras, o diretor resolveu retornar após o último hiato de seis anos de maneira triunfal: com um filme digno do prêmio máximo de um dos festivais de cinema mais importantes da atualidade.
A consagração em Cannes, porém, não quer necessariamente dizer aceitação de público ou crítica - muitas vezes diz até o contrário. Distante do estilo hollywoodiano, o longa pode surpreender quem espera um drama tradicional. A presença de Brad Pitt e Sean Penn no elenco, por exemplo, pode confundir espectadores que esperam por uma obra semelhante àquelas que os atores estão acostumados a protagonizar. Tradicional, na verdade, é tudo que A Árvore da Vida não é. Inicialmente editado para 6 horas, o longa ganhou cortes e mais cortes até ser reduzido para duas horas e meia, o que diminuiu o tempo de exibição mas não alterou o seu ritmo.
Definido por muitos como uma obra extremamente contemplativa, o longa de Malick passeia pela história da humanidade enquanto explora a relação de uma família nos anos 1950, usando para isso muita subjetividade e tomadas longas de paisagens das mais variadas, numa abordagem existencialista e quase religiosa do mundo. A trama, se é possível explicar, narra basicamente duas histórias em paralelo. Uma delas gira em torno da família O’Brien, formada por um pai severo vivido por Brad Pitt, a mãe doce e perfeita encarnada por Jessica Chastain e três filhos, o mais velho deles como protagonista e condutor da trama. Jack vive uma infância feliz e inocente, até que tudo muda com a morte de um de seus irmãos e o desequilíbrio total de sua família. A história passa então a mostrar a transformação do garoto Jack em um adulto perdido no mundo moderno e em constante busca pelo sentido da vida, a partir daí vivido pelo ator Sean Penn. Apesar de parecer se tratar de uma história qualquer, o viés escolhido por Malick dá grandiosidade ao tema até que este se torne uma questão teológica e filosófica, agradando ao exigente júri de Cannes - Robert DeNiro não poupou elogios - e chegando a ser comparado a outro clássico do cinema, o filme 2001: Uma odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, por suas cenas longas e sem diálogos e uma impactante trilha sonora. Por essa escolha extrema, o diretor vem conquistando opiniões também extremistas, que vão desde a declaração de amor pela obra-prima até o descrédito total com um filme aparentemente sem sentido. Para quem ficar curioso, o filme fica em cartaz nesta semana em Passo Fundo, mas não deve permanecer por muito tempo.
A Árvore da Vida
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