Os quadrinhos antes e depois de Asterios Polyp

Amplamente premiada e eleita como uma das melhores da década, graphic novel de David Mazzuchelli ganha edição brasileira pela Companhia das Letras

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    Há dois anos que a história dos quadrinhos se divide entre antes e depois de Asterios Polyp. Figura estranha de faces duramente arredondadas e olhar quase esnobe, esse arquiteto de projetos irrealizáveis tornou-se um ícone contemporâneo de tudo aquilo que pode haver de mais arrojado e experimental dentro e fora das quatro linhas de um quadrado. Lançado em 2009, o álbum batizado simplesmente com o complicado nome de seu protagonista tomou para si praticamente todos os prêmios aos quais concorria e atravessou a virada do ano seguinte presente em todas as listas de melhores quadrinhos da década. O seu segredo, porém, continuava sendo um mistério para os brasileiros.  Felizmente, após este fim de semana, a incógnita se desfaz com a chegada de Asterios Polyp às livrarias através do selo Quadrinhos na Cia, da gigante Companhia das Letras. Consagrada lá fora, a obra inicia sua trajetória por aqui com a vantagem de carregar essa bagagem de elogios e prêmios que a torna um item indiscutível para qualquer coleção.
    Assinada por David Mazzuchelli, a graphic novel é uma completa surpresa, começando pelo currículo de seu criador. Apesar de obter certo renome pela ilustração de obras significativas como Demolidor: A queda de Murdock e Batman: Ano Um - ambas com roteiro de Frank Miller -, Mazzuchelli tinha os dois pé nos quadrinhos de super-heróis e nada indicava que fosse caminhar rumo a histórias autorais. Ele não só fez isso como fez com plena maestria, trazendo ao mundo uma das mais bem construídas e ilustradas histórias do gênero. Na trama, um arrogante arquiteto de meia-idade vê sua vida mudar completamente após um raio atingir sua casa e acabar com todo seu patrimônio. Perdido e em crise, ele parte para o interior e arranja um emprego como mecânico, uma virada do destino que o faz rever a própria vida por uma perspectiva diferente. Não bastasse a história estimulante, Mazzuchelli arrasa o leitor com a criação de um estilo estético criativo e autêntico, inovador no uso das cores, nos balões de fala, na disposição dos quadros na página, no uso de espaços negativos e na própria condução da trama, narrada por Ignazio, irmão gêmeo natimorto de Asterios.
    Marcando época na era das graphic novels, Asterios Polyp é mais do que apenas uma boa obra: simboliza a vanguarda dos quadrinhos mundiais ao unir filosofia, design e incrível originalidade.

 

Por que Asterios Popyp é um divisor de águas?

A magnitude da obra, nesse caso, pode ser medida pelo número de prêmios que conquistou desde que foi lançada nos Estados Unidos, há cerca de dois anos. Asterios Polyp deu a David Mazzuchelli alguns dos prêmios máximos do universo dos quadrinhos, entre eles o Eisner de melhor álbum, melhor autor e melhor letrista, o prêmio Harvey de melhor álbum inédito, melhor história isolada e melhor letrista, e ainda o disputado prêmio do júri do francês Angoulême. Não bastasse a consagração em 2009, a graphic novel foi escolhida uma das melhores da década pelo jornal The Onion, figurando entre gigantes como Promethea, de Alan Moore, e Persépolis, da iraniana Marjane Satrapi. Isso tudo, aliado ao seu rigor estético fascinante, fortemente influenciado pelos ensinamentos de Will Eisner, a liberdade de experimentação levando seus desenhos aos limites dos quadrinhos, a fusão exata entre drama e humor e um conteúdo denso e fluido em sua totalidade fazem de Asterios Polyp um divisor de águas.

 

Sobre a edição brasileira

Desde que foi anunciada pela Companhia das Letras há mais ou menos um ano, a edição brasileira de Asterios Polyp tornou-se uma das mais aguardadas pelo público que muito ouviu falar do título não apenas em função das boas críticas, mas também pelos muitos prêmios e indicações que colecionou. Agora, já consagrada ao redor do mundo, a graphic novel de Mazzuchelli chega às prateleiras precisamente nesta segunda-feira, 10 de outubro. Além de sair pelo selo Quadrinhos na Cia., um dos mais cuidadosos e fiéis às edições estrangeiras, o esperado álbum também tem a vantagem de ser traduzido por uma verdadeira autoridade no assunto: o escritor manauense Daniel Pellizzari, também conhecido por impecáveis traduções de títulos literários como Medo e Delírio em Las Vegas, Rum, Pornô, Almoço Nu e Trainspotting, e de quadrinhos como Sandman e Black Hole. Numa edição de respeito, com 344 páginas coloridas, Asterios Polyp vem com preço de capa de R$ 63.

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